Mais de mil espectadores prestigiaram a live realizada na manhã da última quinta-feira, 11 de março. Formada por representantes de lojas multimarcas e franquias de vestuário e calçados de todo o País, a plateia virtual acompanhou cada detalhe do que foi dito e mostrado durante os 150 minutos da transmissão.
A atenção da audiência teve uma boa justificativa. Quatro meses depois de receber o sinal verde do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Arezzo apresentou oficialmente a esses parceiros o primeiro produto fruto da integração da Reserva, cuja aquisição foi anunciada em 23 de outubro, por R$ 715 milhões.
Conduzido por Alexandre Birman e Rony Meisler, CEOs da Arezzo e da Reserva, respectivamente, o evento foi centrado na Reserva Go, marca que reúne todas as linhas de calçados da Reserva e cujas novidades resumiram parte da estratégia que guiará os passos conjuntos das duas operações daqui para frente.
“A integração tem sido muito mais acelerada do que nós esperávamos no melhor cenário”, afirma Birman, em entrevista ao NeoFeed. “Fizemos muita coisa nos bastidores, mas a Reserva Go já é realidade. A marca já era muito expressiva, mas agora, tornará os calçados uma categoria-chave na Reserva.”
Meisler reforça essa tese. “Esse é o primeiro passo na revolução que vamos fazer com todas as marcas da Reserva”, diz, sobre a Reserva Go que, hoje, responde por cerca de 13% das vendas nas lojas próprias da Reserva. “Eu acredito que a marca tem potencial para dobrar essa fatia no prazo de dois anos.”
A live da Reserva Go trouxe alguns componentes que simbolizam essa união. A transmissão foi feita do estúdio na sede da Arezzo, em Campo Bom (RS), por meio da plataforma de e-showroom criada pelo grupo durante a pandemia. E reuniu parceiros das duas empresas, que puderam comprar, em tempo real, os produtos divulgados.
A grande novidade foi o anúncio da linha Simples, que marca a entrada da Reserva Go na categoria de tênis femininos, além de trazer modelos masculinos e infantis. O lançamento envolverá uma grande campanha, com foco no Dia das Mães, que será protagonizada pela atriz Regina Casé e por sua família. O clã está reunido em um sítio, devido à quarentena, e será responsável também pela criação e produção dos filmes da ação.
“Essa é a primeira grande campanha da Reserva, que sempre apostou no marketing mais orgânico”, diz Birman, que não revela o investimento na ação. “A veiculação vai incluir todos os canais de mídia digital e estamos definindo se envolverá TV aberta ou fechada.”
A ampliação das cifras em marketing e publicidade não é a única novidade no pacote. “Vamos ter lançamentos mais frequentes”, conta Birman, sobre a premissa que irá orientar todas as marcas do portfólio da Reserva. “Queremos trazer a Reserva para uma dinâmica mais próxima do que é a Arezzo & Co.”
No caso da Reserva Go, o caminho inclui uma mudança já esperada quando a aquisição foi divulgada. Até então, a produção e a distribuição dos calçados da grife eram feitas por um parceiro, de nome não revelado. Nesse formato, a Reserva tinha direito apenas aos royalties dessas vendas.
Agora, o tal parceiro seguirá produzindo as peças. Mas a distribuição e o faturamento ficarão com a Reserva. Ao mesmo tempo, a Reserva Go já está inserida em um modelo da Arezzo que agiliza a criação e o lançamento de calçados.
O trabalho envolve um software de prototipação, criado internamente pela Arezzo, que permite desenvolver e testar modelos de calçados em poucos dias, “dentro de casa”. Com cerca de 120 mil protótipos feitos anualmente, o sistema gera ainda a ficha técnica e todo o custo de produção de cada projeto aprovado.
“É uma tecnologia industrial que dá um ganho de velocidade e, por consequência, de escala, gigantesco”, diz Meisler, que cita a linha Simples para ilustrar os benefícios desse modelo. “Antes, para esse produto estar nas prateleiras, levaríamos 365 dias e, talvez, a demanda nem existisse mais”, diz. ”Agora, levamos quatro meses.”
Em outro pilar da integração que vai além da Reserva Go e já está em curso, o plano é colocar em operação, ainda nesse ano, um centro de prototipação rápida no Vale do Itajaí (SC). A unidade irá replicar o software adotado em calçados no segmento de malharias, responsável por cerca de 60% do faturamento da Reserva.
“A Arezzo tem um modelo azeitado e redondo de supply chain e de gestão de produtos, com ciclos curtos e muita agilidade”, afirma Alberto Serrentino, sócio da consultoria Varese Retail. “Esse know-how, incorporado pela Reserva, certamente vai trazer ganhos enormes para a operação.”
No caminho inverso, a Arezzo já começa a incorporar ferramentas desenvolvidas pela Reserva. Entre elas, algoritmos usados nas lojas da grife, que sugerem aos vendedores produtos e itens que podem ser ofertados a cada cliente, de acordo com o histórico de compra desse consumidor com as marcas.
A Arezzo mantém uma média anual de 120 mil protótipos desenvolvidos e testados em calçados
O varejo é justamente mais um ponto que já está sendo trabalhado. Com a aquisição, a Arezzo chega a uma base de 901 lojas, entre unidades próprias e franquias. Meisler não revela o número previsto de inaugurações, mas diz que um dos focos é expandir o modelo de franquias, muito mais desenvolvido na Arezzo, nas marcas da Reserva.
No caso da Reserva Go, que hoje conta com duas lojas próprias no Rio de Janeiro, a estratégia também envolve a ampliação da presença em lojas multimarca. Esse plano inclui a aprovação de um projeto arquitetônico que irá padronizar todas as lojas da Reserva, incluindo as que já estão em operação. Em virtude do crescimento acelerado dos últimos anos, a rede conta hoje com sete modelos diferentes de ponto-de-venda.
Mercado bilionário
Uma das seis bandeiras da Reserva, a Reserva Go é só uma das peças da engrenagem que a Arezzo está montando com a aquisição. Com o acordo, cujas sinergias potenciais no longo prazo, trazidas ao valor presente, são estimadas em mais de R$ 150 milhões, o grupo chega a um portfólio de 13 marcas e abre uma nova via de crescimento, que passa pelas categorias de roupas e acessórios, destinadas aos públicos masculino, feminino e infantil.
A construção desse ecossistema está sendo reforçada com outras iniciativas recentes. Entre eles, o lançamento, no fim de 2020, do marketplace ZZ Mall e a criação de um fundo de corporate venture, batizado de ZZ Ventures e destinado ao investimento em startups.
A chegada do fundo, em novembro, foi antecipada pelo NeoFeed, a partir da aquisição da Troc, novata que atua no segmento de economia circular, com a venda de roupas usadas.
Todos esses movimentos vão ao encontro da intenção da Arezzo de ampliar sua fatia no mercado brasileiro de moda e calçados. Em 2020, essa indústria faturou R$ 106,2 bilhões no País, uma queda de 24,2% sobre 2019, segundo a Euromonitor. A consultoria projeta um faturamento de R$ 143,2 bilhões para o setor em 2025.
Avaliada em R$ 7,33 bilhões, a Arezzo também não ficou imune às restrições da Covid-19. Entretanto, os impactos da pandemia tiveram menos efeito na empresa do que aqueles observados no setor. No período, a receita líquida do grupo recuou 4%, para R$ 1,61 bilhão. No quarto trimestre, porém, o crescimento no indicador foi superior a 37%, para R$ 644 milhões.
Em relatório, o Credit Suisse destacou os resultados sólidos da empresa. “A pandemia atingiu o segmento de moda, mas encontrou a Arezzo relativamente mais preparada para navegar nessas águas turbulentas”, destacaram os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto.
Em 2020, o mercado brasileiro de moda e calçados movimentou R$ 106,2 bilhões, segundo a Euromonitor
Apesar dessa perspectiva mais favorável, a Arezzo não está sozinha na busca por mais receitas no segmento premium dessa indústria. Dono de marcas como Animale, Farm e Maria Filó, o grupo Soma é outro nome que está seguindo esse roteiro.
Avaliado atualmente em R$ 6,6 bilhões, o grupo Soma captou R$ 1,8 bilhão em seu IPO, em julho de 2020, e também tem investido em aquisições. A primeira delas veio em outubro do ano passado, com a compra da marca de moda feminina NV, por R$ 210 milhões.
Para os analistas do BTG Pactual, no entanto, o desempenho da Arezzo em 2020, aliado a aquisição da Reserva e a outros esforços recentes, compõe um cenário otimista para o grupo já em 2021.
“Com a Reserva, a Arezzo amplia seu mercado endereçável para R$ 40 bilhões, versus o mercado atual de R$ 11 bilhões”, escreveram os analistas Luiz Guanais e Gabriel Savi, em um relatório. A dupla projetou um crescimento composto de 18% para a operação nos próximos cinco anos e um preço-alvo para ação de R$ 80.
O mercado de capitais também parece compartilhar dessa visão positiva. As ações da companhia fecharam o pregão da segunda-feira, 15 de março, cotadas a R$ 73,57, alta de 0,79%. Em 2021, os papéis acumulam uma valorização próxima de 8% e, desde o anúncio da compra da Reserva, de 39,9%.