A fabricante de smartphones Xiaomi ficou conhecida como a “Apple da China” por conta do estilo de seus aparelhos, parecidos com os da Apple.
Agora, a companhia, que vendeu 146,4 milhões de aparelhos em 2020 e é a terceira maior fabricante de celulares inteligentes do mundo, atrás apenas de Samsung e Apple, pode imitar a empresa comandada por Tim Cook em outra área: a de carros elétricos.
A Xiaomi anunciou nesta terça-feira, 30 de março, que vai lançar uma divisão autônoma dedicada aos veículos elétricos e pretende investir US$ 10 bilhões nos próximos dez anos.
O CEO e cofundador da Xiaomi, Lei Jun, também será o chefe da nova unidade. O investimento inicial será de US$ 1,5 bilhão. De acordo com fontes consultadas pela agência Bloomberg, a companhia vai terceirizar a produção dos veículos em um modelo semelhante ao que usa na fabricação de seus smartphones.
O investimento, no entanto, pode ser ainda maior, de até US$ 15 bilhões ainda nos primeiros anos. Cerca de 60% dos recursos seriam da própria Xiaomi, enquanto o restante seria captado com investidores externos.
A empresa, que tem valor de mercado de US$ 83,6 bilhões, não deve escolher nenhuma montadora conhecida como parceira, disseram as fontes. A Xiaomi manifestou interesse pelo mercado de carros elétricos há alguns meses, mas a decisão de investir no setor foi tomada por Lei nas últimas semanas. Engenheiros já foram contratados para trabalhar no desenvolvimento do software que será usado nos veículos.
A Apple já anunciou seus planos de oferecer o próprio carro elétrico. Até agora, no entanto, a companhia tem encontrado dificuldades para acelerar seu programa. Nenhuma montadora com quem conversou está disposta a assumir um papel secundário na fabricação, como acontece com a produção do iPhone, que é feito pela taiwanesa Foxconn. A Apple já conversou com a Nissan, a sul-coreana Hyundai Motor e sua afiliada Kia Motors, mas nenhuma negociação foi para frente.
O mercado de veículos elétricos chinês é o maior do mundo. De acordo com a consultoria Canalys, 1,9 milhão de carros elétricos devem ser vendidos na China neste ano, um aumento de 51% em relação ao ano passado. O setor conta ainda com o apoio do governo, que oferece subsídios a fabricantes e investe em infraestrutura de carregamento das baterias.
Por isso, o país concentra grandes players do segmento. Uma das principais é a BYD, fabricante que vendeu 130 mil unidades de seus carros totalmente elétricos de passeio, o triplo de concorrentes locais como a Nio, que entregou apenas 43 mil veículos. A gestora Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, é dona de 8,2% da companhia chinesa - uma fatia maior que os 3,7% que detém da General Motors, por exemplo. É um indicativo de que na disputa pelos carros elétricos, Buffett aposta mais na companhia chinesa do que na americana.
A americana Tesla tem uma fábrica na China e a demanda local ajudou a empresa de Elon Musk a entregar 500 mil veículos globalmente em 2020, um recorde. Nas últimas semanas, no entanto, a montadora esteve na mira do governo chinês, que restringiu o uso de carros elétricos da Tesla alegando questões de segurança nacional.
Além das companhias focadas na produção de carros elétricos, como a BYD e a Tesla, outros grandes players do setor de tecnologia também estão de olho no setor. Em janeiro, o gigante de buscas Baidu anunciou uma parceria com a fabricante Geely para produzir sua própria linha de carros elétricos. O Baidu vai desenvolver o software e a tecnologia, enquanto a Geely será responsável pelos veículos propriamente ditos.