Mal acabou de captar R$ 5,5 bilhões em um concorrido follow on que teve uma demanda de R$ 13 bilhões, o Inter agora se prepara para usar esse dinheiro e colocar em prática os planos conjuntos com a Stone, a empresa de adquirência que investiu R$ 2,5 bilhões no banco digital e detém 4,99% da instituição financeira.
“Fomos muito vocais sobre a nossa reestruturação para ir à Nasdaq e a integração com a Stone”, diz João Vitor Menin, CEO do Inter, ao NeoFeed. E os projetos já devem começar a sair do papel. O banco deverá fornecer funding para as redes varejistas conectadas na Stone. “Vamos operar o recebível de cartão com eles”, diz Menin.
Só no primeiro trimestre deste ano, R$ 50,1 bilhões foram transacionados nas maquininhas da companhia fundada pelo empresário André Street. O potencial, tanto para Stone como Inter, é enorme.
O Inter ainda entraria oferecendo serviços bancários aos menores clientes da Stone. A ideia é proporcionar conta bancária, seguro, investimentos, o pacote completo para os menores varejistas, que ainda não contam com muitas ofertas. O universo de clientes que se abre é enorme. A Stone tem 722,3 mil clientes conectados em sua base.
Mas o pulo do gato poderá acontecer em uma das áreas em que o Inter tem apostado fortemente nos últimos tempos: a plataforma Inter Shop, que movimentou R$ 1,8 bilhão nos últimos 12 meses contados a partir do primeiro trimestre deste ano. Atualmente, o Inter conta com 200 sellers e esse número poderá saltar exponencialmente.
Isso porque o banco fundado pela família Menin pretende plugar em seu marketplace a base de varejistas que estão conectados nos sistemas da Linx, empresa comprada pela Stone, no fim do ano passado, por R$ 6,7 bilhões. A Linx, com muita força no varejo, tem mais de 60 mil clientes. “Vamos juntar o ecossistema de buyers com sellers”, diz Menin.
O banco conta com 12 milhões de clientes. Esse número deve crescer ainda mais. Na próxima semana, o Inter vai lançar o app para não correntistas, o que deverá fazer com que a instituição termine o ano com 20 milhões de clientes, dos quais 16 milhões de correntistas e outros quatro milhões de não correntistas.
Nos últimos três meses, 2 milhões de pessoas compraram na plataforma e a meta é terminar 2021 com um GMV de R$ 4 bilhões. Para atender a esse ritmo de crescimento, o Inter investirá em logística.
Parte será feita por empresas como Infracommerce ou Synapcom e a chamada última milha será feita por empresas que o banco pretende comprar. “O dinheiro do follow on será usado para crédito, M&A e crescimento”, diz Menin.
Quem acompanha os movimentos do banco, atesta para o histórico da instituição financeira. “Quando eles iniciaram a transformação deles, o mercado ficou receoso”, diz Renato Mendes, professor do MBA de Educação Executiva do Insper e CEO da consultoria F5 Business Growth. “Mas eles mostraram que têm capacidade de colocar os produtos no ar e de executar em alto nível.”
O consultor só alerta para um ponto de atenção. “É a expansão em múltiplas frentes, simultaneamente”, diz Mendes. De fato, o banco tem avançado em várias áreas ao mesmo tempo, na área de investimentos, no marketplace e em produtos bancários. Mas até agora o mercado tem aprovado a estratégia.
“Cada vez mais, o grupo está se tornando uma plataforma completa e líder no universo digital, levando-nos a reiterar nossa classificação de compra e a posição do Inter como uma de nossas principais escolhas”, escreveu Eduardo Rosman, analista do BTG Pactual, em seu mais recente relatório para investidores.
Em 15 de março de 2020, na maior queda, no auge da crise financeira gerada pela chegada do coronavírus ao Brasil, a ação do Inter chegou a ser cotada em R$ 2,83. Na terça-feira, 29 de junho, o papel fechou em R$ 24,63. Desde então, a valorização chegou a 770,32%. O valor de mercado da companhia é de R$ 55,3 bilhões.