Uma plataforma completa de softwares para restaurantes combinada a soluções financeiras. Ao apostar nesse cardápio, a americana Toast despertou o apetite de Wall Street em seu IPO, realizado em setembro. Na oferta, a empresa captou US$ 870 milhões e foi avaliada em US$ 20 bilhões.

Startup brasileira, a ZAK tem a Toast como uma de suas referências. E, para consolidar um modelo de negócios semelhante na América Latina, decidiu bater na porta de um dos investidores que acompanharam boa parte da jornada da companhia americana antes da sua abertura de capital.

Como fruto dessa abordagem, a startup anuncia nesta quarta-feira um aporte série A de R$ 80 milhões (US$ 15 milhões), liderado pela gestora americana Tiger Global, com a participação dos fundos Base 10, Valor Capital, Monashees e Canary. Esses três últimos já investiam na empresa.

Até então, a ZAK havia captado cerca de US$ 11 milhões. As rodadas anteriores tiveram ainda a presença de nomes como David Vélez, do Nubank, e José Galló, presidente do board da Renner, que, ao lado de outros investidores pessoa física, seguem apoiando a operação.

“Queríamos um investidor familiarizado com essa tese e, por isso, fomos atrás da Tiger Global”, diz Marina Lima, cofundadora e chief revenue officer da ZAK, ao NeoFeed. “Eles viram que não havia ninguém atuando nesse espaço na região e decidiram apostar na nossa operação.”

Essa proposta começou a ser construída em 2019, quando Marina e os equatorianos David Grandes e Andres Andrade fundaram a Mimic. A startup investia em um modelo verticalizado, com a gestão de 100% do delivery dos restaurantes, incluindo a operação de dark kitchens e das marcas.

“O delivery trazia muito mais dor de cabeça do que resultado para os restaurantes”, conta Marina. “Mas aí veio a Covid-19 e percebemos nossa limitação. Do dia para a noite, isso virou o core dos estabelecimentos.”

Marina Lima, cofundadora e chief revenue officer da ZAK

Em contrapartida, os restaurantes começaram a demandar os sistemas que a Mimic tinha criado dentro de casa, dado que não haviam encontrado nada no mercado que cobrisse as operações de delivery de ponta a ponta.

“Todo restaurante precisou pagar por soluções que não estavam integradas”, explica David Grandes, cofundador e co-CEO da ZAK. “Então, resolvemos simplificar esse processo.”

Com esse novo foco e rebatizada como ZAK, a empresa começou a atuar oficialmente no mercado em abril deste ano. Hoje, seu portfólio inclui uma plataforma que automatiza a gestão dos restaurantes, seja no delivery, via parceiros ou canais digitais próprios, ou nas lojas físicas. Os sistemas unificam catálogos, pedidos e estoques, entre outros recursos.

A startup também oferece uma plataforma white label para que os estabelecimentos desenvolvam seus próprios canais digitais de delivery, com logística e pagamentos integrados, e tenham acesso a mais dados sobre seus clientes.

A ZAK não cobra pelo uso dos sistemas. Com licença para atuar como subadquirente, a empresa conta com um braço de fintech e é remunerada pelas taxas das transações que processa e das antecipações de recebíveis ofertadas aos restaurantes.

Atualmente, a companhia transaciona cerca de R$ 100 milhões por mês. Presente na cidade de São Paulo, a ZAK tem 400 restaurantes como clientes, com nomes como Ráscal, Frutaria e Jardim de Napoli.

Com o aporte, a empresa pretende desembarcar no Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF) até o primeiro trimestre de 2022. Em um segundo momento, outras capitais serão incluídas nesse mapa.

“A meta é crescer quatro vezes a base de transações até o fim de 2022”, afirma Marina. “E, a partir de 2023, vamos começar a pensar em internacionalização, com um olhar especial para o mercado mexicano.”

Para acompanhar esse crescimento, a ZAK também estima dobrar sua equipe, formada atualmente por 170 profissionais, até o fim de 2022, especialmente na área de tecnologia.

Outro foco será a ampliação do portfólio. Na área de produtos e serviços financeiros, a ideia é investir em segmentos como conciliação e nas ofertas de crédito e de uma carteira digital para os restaurantes, além de reforçar a antecipação de recebíveis.

Uma segunda frente vai envolver o uso dos dados coletados em todos os canais para o desenvolvimento de produtos customizados para que cada estabelecimento possa ampliar a recorrência e o vínculo com seus clientes. O escopo pode envolver, por exemplo, soluções de fidelidade e de marketing digital.

David Grandes (à esq.) e Andres Andrade, cofundadores e coCEOs da ZAK

Além da ZAK, outras startups voltadas ao segmento de food services começam a atrair os investidores. Em setembro, a Cayena, marketplace que conecta estabelecimentos a fornecedores, captou R$ 20 milhões em rodada liderada pelo fundo europeu Picus Capital.

Já em maio, a Goomer, startup que também investe na digitalização do setor, atraiu R$ 15 milhões em um aporte capitaneado pelo fundo Bridge One. Em dezembro de 2020, a Iporanga Ventures anunciou um investimento pré-seed de R$ 3,6 milhões na Flokia, que automatiza as compras dessa cadeia.