Marcelo Maisonnave, Pedro Englert e Eduardo Glitz estão entre os nomes que ajudaram a fundar a XP e a colocar a empresa sob os holofotes do mercado financeiro. Entretanto, a partir de 2016, eles decidiram ingressar na arena dos investimentos em startups, após uma temporada no Vale do Silício.
Desde então, os três gaúchos investiram, separadamente, em empresas nos estágios pre-seed e seed, com maior foco em fintechs. De aporte em aporte, eles chegaram a dez companhias. E com a evolução dessas operações, entendem que é chegada a hora de estabelecer um novo diálogo com esse portfólio.
Nessa linha, o trio anuncia nesta quinta-feira a criação da NVA Capital, gestora que vai reunir seus investimentos sob um único guarda-chuva. A nova operação vai permitir que, de forma estruturada, Maisonnave, Englert e Glitz sigam acompanhando e apoiando de perto a gestão dessas startups.
“A criação da NVA é um movimento de profissionalização e sofisticação da nossa atuação”, afirma Maisonnave, ao NeoFeed. “É quase um ciclo que se fecha. Nós precisamos amadurecer nosso modelo porque essas empresas amadureceram.”
O portfólio reúne as seguintes companhias: StartSe, Warren, Monkey, Vórtx, FitBank, Conta Simples, Yuool, Lovin, Captable e BMC News. “Nenhuma dessas empresas ficou pelo caminho. Todas fizeram ao menos uma rodada depois que investimos”, diz Englert. “E todas dobraram de tamanho no último ano.”
Em novembro, por exemplo, a StartSe, captou R$ 75 milhões junto ao Pátria Investimentos. Em abril, a Warren recebeu um aporte série C de R$ 300 milhões liderado pelo Fundo Soberano de Cingapura (GIC). Um mês antes, a Vórtx, levantou R$ 190 milhões em um investimento capitaneado pelo FTV Capital.
Englert e seus pares não revelam o valuation somado dessas startups. Mas, levando-se em conta os anúncios públicos de rodadas que elas atraíram, a NVA Capital já nasce com um portfólio de empresas que, juntas, valem mais de R$ 1 bilhão. E os planos para esses ativos são ambiciosos.
“Podemos e vamos investir em outras companhias, mas esse não é prioritariamente o nosso jogo”, ressalta Glitz. “Queremos que pelo menos três das empresas que já estão no nosso portfólio se tornem unicórnio e que três delas abram capital ou façam um deal muito relevante nos próximos três anos.”
De olho nessas jornadas, agora sob a bandeira da NVA Capital, não há planos de abrir captações externas. A ideia é restringir os investimentos aos recursos próprios. Essa abordagem está diretamente relacionada à tese construída pelos três parceiros desde 2016.
“Isso nos dá um diferencial. Não temos nenhuma pressão para investir ou desinvestir o dinheiro de terceiros”, explica Glitz. “Se ficarmos dois anos sem fazer um aporte, não há nenhum problema. O mais importante é que nosso portfólio atual siga crescendo e também atraia outros investidores.”
Maisonnave acrescenta: “Já temos muitos desafios e oportunidades nessas empresas”, observa. “Estamos sempre próximos. Investimos de 80% a 90% do nosso tempo acompanhando essas operações e temos certeza que é nessa frente que estará a nossa maior geração de valor nos próximos anos.”
Otavio Farah conhece de perto essa modelo. Cofundador e CEO do FitBank, ele teve o primeiro contato com o trio em 2016, quando eles foram os primeiros a apostar na startup de infraestrutura de pagamentos. De lá para cá, a empresa também atraiu aportes do J.P. Morgan e da CSU.
“Eles trazem muita coisa para a mesa. Contatos, bagagem, insights e um viés de olhar a mesma questão por prismas diferentes, mas não exigem que seja do jeito deles”, diz Farah. “É muito importante ter um investidor que te ajuda ao invés de ficar de braços cruzados, apenas apontando seus erros e acertos.”
Farah também destaca as boas perspectivas com a criação da NVA Capital. “Vamos ter acesso a mais estrutura para reforçar nossos controles”, observa. “Eles estão se organizando para fazerem aquilo que já fazem muito bem, só que em uma escala e intensidade muito maiores.”
Como parte desse movimento, um dos próximos da NVA Capital é formar um time com ao menos dez profissionais, incluindo nessa conta analistas e os três fundadores. Com essa equipe, a gestora não fecha as portas para ativos que possam encorpar seu portfólio.
A tese dos eventuais novos investimentos seguirá a linha já adotada. O olhar estará centrado em aportes pré-seed e seed, destinados a empresas que já tenham produtos validados, equipes formadas, estejam em fase de ganhar tração e atuem, principalmente, nos diferentes elos da cadeia de fintechs.
Da mesma forma, a ideia é que as participações girem em torno de 10% a 15% e que os cheques fiquem na faixa de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões e. “Já existem alguns ativos mapeados e não há uma grande rigidez nessa tese. Podemos fazer um pouco mais se for preciso”, diz Englert. “E não temos um compromisso. Mas a intenção é fazer, em média, dois investimentos por semestre.”