No dia 15 de novembro, a Original Holding, rede de concessionárias do grupo Simpar anunciou a compra da UAB Motors por R$ 510 milhões. No dia 9 de dezembro, a Vamos, adquiriu a HM Empilhadeiras em um negócio de R$ 150 milhões. No domingo, 12 de dezembro, a Original comprou mais uma rede de concessionárias, a Sagamar, do Maranhão, por R$ 306 milhões.
Não deu nem tempo de respirar e mais uma empresa da holding Simpar fez outra aquisição. Na manhã desta quinta-feira, 16 de dezembro, a Movida, também controlada pelo grupo da família Simões, anunciou a compra da Marbor Frotas Corporativas, de Mogi das Cruzes (SP). Trata-se de um negócio de R$ 130 milhões e adiciona mais uma fatia do bolo para a companhia no segmento de gestão de frotas.
De acordo com o fato relevante que acaba de ser publicado, a “transação irá contribuir com 1,8 mil veículos atrelados a contratos de locação, os quais possuem uma idade média de aproximadamente 1,4 ano e estão distribuídos entre mais de 100 clientes corporativos com contratos com prazo médio de 2,7 anos.”
Mais do que o fortalecimento da Movida em um setor estratégico, a recente compra reforça o apetite de aquisições de seu grupo controlador. Só neste ano, a Simpar, avaliada em R$ 9,87 bilhões na B3, e suas empresas desembolsaram mais de R$ 2 bilhões em M&As. Mais: nos últimos 12 meses, colocaram outros R$ 7,4 bilhões em crescimento orgânico.
E, se depender de Fernando Simões, CEO da Simpar, o ritmo vai continuar acelerado. O grupo deve investir até R$ 12 bilhões em crescimento orgânico em 2022 e intensificar os movimentos de fusões e aquisições – só neste ano foram mais de dez empresas compradas. Mas, afinal, por que a Simpar passou a acelerar esse processo no último ano?
“Porque, do jeito que estávamos, com as empresas como unidades de negócios da JSL, não era sustentável. Agora é mais fácil porque cada companhia do grupo consegue consolidar e acoplar as adquiridas”, diz Simões ao NeoFeed. Essa reorganização societária começou no ano passado e tem feito do grupo acionista de grandes empresas listadas em bolsa e outras com grande potencial para abrir capital.
“Temos empresas independentes e em negócios com grandes potenciais de transformação e crescimento na economia”, diz Simões. “A gente não trabalha para listar empresas, mas a consequência pode ser listar.” Mais do que buscar capital, diz o empresário, a intenção de fazer um IPO é, sobretudo, o de perpetuar o negócio e trazer valor para os acionistas.
Debaixo do guarda-chuva da Simpar, que acaba de entrar no ISE da B3, estão 35 mil funcionários e empresas como a JSL Logística, que atua na área de transportes e é avaliada em R$ 2,21 bilhões; a Movida, de aluguel e gestão de frotas e valor de mercado de R$ 6,5 bilhões; a Vamos, de aluguel de máquinas e caminhões, com valuation de R$ 12,8 bilhões; a Original, de concessionárias; a CS Infra, que atua na área de infraestrutura e está absorvendo a CS Brasil; e BBC, empresa de leasing que acaba de receber a autorização do BC para se tornar um banco.
“O grupo e suas empresas saíram de um lucro de R$ 17 milhões, em 2017, para R$ 1,2 bilhão nos três primeiros trimestres de 2021. Anualizado, temos R$ 1,6 bilhão de lucro”, diz Simões. O dinheiro tem sido reinvestido na evolução do negócio. A alavancagem está em 3,3 vezes do ebitda da companhia, hoje em R$ 1,2 bilhão.
“Eu não acredito em quem trabalha cegamente pelo lucro. Senão, você vira o Tio Patinhas, lapida a empresa e quebra ela. A gente acredita no lucro sustentável”, afirma o empresário. “Há 10 anos, abrimos o capital valendo R$ 1,1 bilhão e hoje valemos mais de R$ 9 bilhões, sem nunca ter feito um follow on. A Vamos abriu o capital neste ano e foi uma das que mais se valorizaram na bolsa.” Desde janeiro, quando fez o IPO, os papéis saltaram 103,2%.
Apesar de Simões frisar que as companhias estão crescendo organicamente, as aquisições também estão ajudando a dar um grande impulso nos resultados. A JSL Logística, dona de uma frota de mais de 16 mil caminhões, tinha receita de R$ 3,2 bilhões em agosto do ano passado. Hoje, em valores anualizados, está em R$ 5,6 bilhões.
A Original Holding, de revendas de veículos, é outro exemplo dessa estratégia. Ela vendia apenas veículos da Volkswagen e da Fiat e faturava R$ 786 milhões. Com as duas recentes compras, a UAB Motors e da Sagamar, que ainda precisam ser autorizadas pelo Cade e pelas montadoras, a empresa passará a vender outras marcas como BMW, Jaguar, Land Rover, Kia, Jeep e Volvo, e contará com um faturamento de mais de R$ 3,2 bilhões.
O próximo grande foco do grupo é na área de infraestrutura – um setor que os investidores olham com lupa e gera muito interesse por parte do mercado de capitais. Em novembro, foi aprovada a aquisição da Ciclus, empresa de tratamento de resíduos que pertencia a família Simões, pela CS Infra.
“Vemos esse movimento como um movimento estrategicamente sólido, pois aumenta ainda mais a diversificação da receita da Simpar em direção ao setor resiliente de infraestrutura; e continua sua estratégia vencedora de fomentar subsidiárias administradas de forma independente”, escreveram os analistas da XP, Pedro Bruno, Lucas Laghi e Gabriela Ferranto.
Com a incorporação da Ciclus, que trata os resíduos da cidade do Rio de Janeiro e de outros municípios fluminenses, a CS Infra passou a contar com um portfólio que inclui dois terminais portuários na Bahia, a concessão da Rodovia Transcerrados (PI), o BRT de Sorocaba (SP).
“Tem muito potencial nessas áreas. Para se ter uma ideia 55% dos resíduos sólidos são despejados de forma irregular”, diz Simões. E prossegue. “Acredito que acontecerão muitas concessões e PPPs médias, de serviços. É aí que vamos entrar. Não vamos fazer um metrô, obras de bilhões de reais.”
Simões explica que todos os negócios da companhia, fundada por seu pai, o lendário Júlio Simões, foram surgindo, ao longo dos anos, das necessidades de seus clientes. Nos anos 1980, a companhia tinha 126 caminhões e três clientes representavam 75% do faturamento. “O que o cliente pedia a gente fazia”, diz Simões. “Era a visão do cliente, o que ele precisava. Os negócios foram criados internamente, organicamente.”
Aposta no ecossistema
“Há cinco anos, se você me perguntasse onde eu estaria, eu não te diria que estamos como hoje. Há sete anos, por exemplo, tínhamos só a JSL, a Original e a CS Brasil”, afirma. Agora, a ideia é aproveitar as sinergias das gigantes que foram criadas e tirar o máximo do ecossistema formado por frotas como as mais de 21 mil máquinas e caminhões da Vamos, os mais de 16 mil caminhões da JSL e os mais de 160 mil veículos da Movida.
A BBC, empresa de leasing que acaba de virar banco, está no centro dessa estratégia. Presidida por Paulo Caffarelli, ex-presidente do Banco do Brasil e da Cielo, a companhia pretende avançar em novas áreas.
Hoje, por exemplo, a JSL paga R$ 1,2 bilhão por ano de frete para subcontratados. A ideia é que todo esse dinheiro passe pela conta digital da instituição financeira e que os caminhoneiros tenham acesso a microcrédito.
Financiar os clientes dos clientes também está no radar da BBC. E entrar forte com crédito para vender os próprios caminhões e suas frotas no mercado. “Posso financiar os seminovos da Movida, os carros da nossa rede de concessionárias. Vamos capturar sinergia muito grande no nosso negócio.”
Na avaliação dos analistas do banco BTG Pactual, Lucas Marquiori, Fernanda Recchia e Aline Gil, os papéis da Simpar estão sendo negociados com um desconto de 27% para o valor de seu patrimônio, incluindo as participações nas empresas listadas e o potencial das outras companhias do grupo.
“Por último, vemos um valor oculto relevante nas subsidiárias não listadas da Simpar, já que todas elas recentemente anunciaram movimentos estratégicos. Somos compradores", escreveram os analistas.