Os bancos centrais de vários países anunciaram na noite de domingo, 19 de março, uma medida em conjunto para aumentar o fluxo de dólares americanos no sistema financeiro global e, com isso, conter uma possível falta de liquidez das instituições bancárias em meio à crise bancária iniciada com a falência do Silicon Valley Bank (SVB), nos Estados Unidos, no início do mês.
Em comunicado, o Banco do Canadá, o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão, o Banco Central Europeu, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) e o Banco Nacional Suíço anunciaram que as linhas de swap de dólares – mecanismo de transferência de liquidez da moeda americana, por meio do Fed, para outros países –, que eram semanais, passam a ser diárias.
O anúncio foi feito horas depois que o banco suíço UBS, o maior do país, anunciou a incorporação do rival Credit Suisse por US$ 3,25 bilhões, num acordo costurado pelo Banco Nacional Suíço, o BC local, que concordou em oferecer uma linha de liquidez de US$ 100 bilhões ao UBS.
Apesar do anúncio dos BCs e da aquisição do Credit Suisse, os mercados da Europa e da Ásia abriram nesta segunda-feira, 20 de março, em forte baixa, numa indicação de que a crise financeira iniciada nos EUA ainda ameaça o sistema financeiro internacional.
A medida dos BCs, tomada anteriormente durante a crise financeira global de 2008 e, mais recentemente, na pandemia, permite que bancos centrais estrangeiros acessem dólares diretamente do Fed e, por sua vez, façam empréstimos em dólares a seus bancos domésticos.
O objetivo é evitar o que ocorreu após o colapso do Lehman Brothers, em 2008, quando os mercados de financiamento perderam liquidez em meio a um processo de extrema aversão ao risco – o que dificultava os bancos da zona do euro obter dólares americanos.
As transferências diárias de dólares pelas linhas de swap passam a valer a partir desta segunda-feira, 20 de março, até abril. Na prática, o Fed passa a atuar como um credor global de último recurso durante a crise.
Mercados em baixa
Mesmo assegurando a injeção de liquidez em dólares no sistema financeiro global, a medida não impediu que os mercados da Europa e Ásia abrissem sob forte tensão nesta segunda-feira, em reação à aquisição do Credit Suisse pelo UBS.
Após fortes quedas na Ásia, incluindo uma queda de 7,1% no HSBC em Hong Kong, o índice bancário europeu Stoxx 600 recuou mais de 3%. As ações do Credit Suisse caíram 63% e as do UBS 15,6%. O Société Générale caiu 7,9% e o Commerzbank, 8,6%.
Os contratos futuros dos EUA também abriram em queda na segunda-feira, com os contratos do S&P 500 e do Nasdaq 100 caindo 0,3% e 0,2%, respectivamente.
O agravamento da tensão no sistema financeiro global se deve à sobreposição da crise do Credit Suisse - que vinha desde o ano passado, após uma série de problemas de gestão - com a crise de liquidez que levou à liquidação do SVB nos EUA.
Mesmo com a aquisição pelo UBS, o regulador suíço Finma exigiu no domingo que 16 bilhões de francos suíços (US$ 17 bilhões) dos títulos adicionais de nível um (AT1) do Credit Suisse, um tipo de dívida bancária projetada para suportar perdas durante uma crise, sejam reduzidos a zero como parte do acordo de resgate com o UBS.
Com a decisão da Finma, os detentores de dívida AT1 do Credit Suisse perderam mais do que seus acionistas, lançando dúvidas sobre a hierarquia de créditos em caso de falência bancária. Foi a maior redução até agora da dívida AT1.
Os AT1s, que são os títulos de maior risco do banco, geralmente pertencem a investidores em títulos e fundos de hedge, mas também são populares entre investidores de varejo e gestão de patrimônio na Ásia. O mercado global dos AT1 é de US$ 250 bilhões.