Adele, Taylor Swift, Lady Gaga, Beyoncé, Rihanna, Angelina Jolie, Michelle Obama e Oprah Winfrey têm em comum o apreço pelas criações do designer Fernando Jorge. Em apenas dez anos, o joalheiro nascido em Campinas, interior de São Paulo, construiu carreira em Londres, expôs suas joias nos quatro cantos do mundo e desenhou brincos, anéis, colares e pulseiras para algumas das mulheres mais celebradas do nosso tempo.
“Saber que meu trabalho é compreendido por mulheres que não enxergam joias apenas como status me traz uma sensação de paz”, diz Fernando Jorge ao NeoFeed.
Em junho, foi a vez da cantora Adele ser clicada usando brincos feitos por Fernando em um show em Las Vegas. "É uma validação profissional imensa porque essas mulheres têm acesso a tudo, mas em algum momento escolhem usar uma peça que eu desenhei”, afirma o designer.
Para Jorge, o design é o atributo mais valioso das peças que cria, transcendendo o status da joia, o luxo pelo luxo. E é exatamente esse o mantra seguido pelo joalheiro no recém - inaugurado ateliê da Mayfair, aberto em dezembro passado.
Desde 2012, a loja do designer ficava em Shoreditch, um bairro jovem, eclético e repleto de arte localizado no leste de Londres. No entanto, Fernando Jorge prosperou nos últimos anos e o negócio precisou ser transferido para a Mayfair, um dos metros quadrados mais caros do Reino Unido, lar das embaixadas e de grifes como Gucci, Dolce & Gabana, Rolex, Cartier, Tiffany e tantas outras.
A nova loja, localizada na Grafton Street, só atende com hora marcada e foi idealizada pelo Studio Mellone, do arquiteto brasileiro André Mellone. Ocupa um andar inteiro de um edifício industrial vitoriano. A abundância de luz natural somada aos móveis de madeira e decoração clean dão ao espaço uma aura "casual chique".
No espaço, outros dez artesãos completam a equipe de Fernando Jorge na produção de coleções vendidas em mais de 40 lojas de grifes multimarcas mundo afora, incluindo Bergdorf Goodman, Matches Fashion, Le Bon Marché e Net a Porter.
Uma joia de família
Fora da capital britânica, a marca de Fernando Jorge possui showroom em São Paulo, no Jardins, e escritório em Nova York. As bases avançadas são comandadas, respectivamente, pelas irmãs do designer, Renata e Paula, que foram atraídas para o mundo das joias na empreitada que virou negócio de família.
Os preços dos acessórios desenhados por Fernando vão de £ 1.000 a centenas de milhares de libras. Atualmente, os Estados Unidos são o principal mercado da marca, seguido pelo Oriente Médio e pelo Reino Unido.
“A cliente que compra de mim costuma entender mais sobre o universo das joias e valoriza o valor do design. Elas estão abertas a experimentar peças de marcas menores, sem recorrer sempre às joalherias tradicionais”, afirma o designer.
Diferentemente de talentos que primeiro ficam conhecidos no Brasil para depois fazerem sucesso no exterior, Jorge consolidou seu nome na Inglaterra quando quase ninguém o conhecia no circuito brasileiro das joias.
Filho de uma professora e de um engenheiro de classe média, ele é a primeira pessoa da família a trabalhar com o ofício. Foi o talento para desenhar que garantiu sua entrada no mundo dos metais e pedras preciosas. “Sempre lidei com o mundo de forma muito visual. No primeiro ano da faculdade de design, consegui estágio em uma marca de joias e me apaixonei.”
Há 15 anos, Jorge se instalou em Londres para fazer mestrado na Central St. Martins, que formou alguns dos principais designers ingleses. O projeto final do designer foi sua primeira coleção autoral de joias, que de cara atraiu os primeiros clientes abastados. A partir daí, conta, “tudo aconteceu de forma orgânica. Sem business plan”.
No Brasil, o designer trabalhou por três anos no time de criação da prestigiada joalheira nacional Carla Amorim, uma de suas principais referências. Segundo ele, os designers que o inspiram são aqueles que conseguem modernizar o clássico trazendo autenticidade. “Escolhi Londres porque aqui tem uma energia criativa mais disruptiva em relação à joalheria tradicional.”
Fernando Jorge gosta de dizer que cria joias que combinam com o corpo, não com as roupas. Ele busca inspiração nas curvas e na sensualidade da pele para imprimir nas peças seu estilo orgânico, refinado, único. “Detalhes muito ornamentais não cabem no meu trabalho.”
Acostumado a trabalhar principalmente com ouro e diamante, a origem das matérias-primas é muito importante para Jorge. Tornou-se um dos pioneiros, entre seus pares no Brasil, a qualificar sua rede de fornecedores e comunicar a procedência de seus metais e pedras, garantindo que nenhum acessório seja produzido a partir da mineração em terras indígenas ou na Amazônia, por exemplo. Uma decisão que se mostrou um diferencial em seu trabalho para o público europeu.
Ele também visita pessoalmente algumas minas de onde são extraídos seus materiais de trabalho. O designer acaba de voltar de uma extração de ouro na Costa do Marfim e prepara uma nova incursão a uma produtora de diamantes da Botsuana. “Como nossa produção não é de grande escala, é mais fácil checar a origem dos materiais e exigir certificações”, diz Jorge.
Na última década, Fernando Jorge venceu diversos prêmios internacionais, entre eles o de Designer de Joias do Ano (2019) pelo Gem Award e o de Melhor em Diamantes (2020) pelo Town&Country Award.
Fernando Jorge acredita que sua arte se diferenciou e ganhou destaque na Europa e no mundo ao se inspirar nos clichês brasileiros como a praia, o corpo e a sensualidade. “Entendi que, como brasileiro, a brasilidade faz parte do meu processo criativo de forma natural, sem esforço calculado.”