O governo brasileiro iniciou nos Estados Unidos uma ofensiva internacional para captar investimentos verdes para o país. O primeiro resultado foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que se encontra em Nova York, acompanhando a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nesta terça-feira discursa na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
Depois de fazer no domingo uma rodada de apresentação de potenciais aplicações de recursos envolvendo sustentabilidade a 60 investidores estrangeiros, Haddad anunciou nesta segunda-feira, 18 de setembro, que o governo brasileiro vai emitir títulos verdes na Bolsa de Nova York com a intenção inicial de captar US$ 2 bilhões, o equivalente a R$ 10 bilhões.
A ofensiva do governo brasileiro com empresários e autoridades norte-americanas foi precedida por um road show do assessor especial Rafael Dubeux, coordenador do Plano de Transição Ecológica do Ministério da Fazenda. Dubeux participou de 36 reuniões nas semanas anteriores para levar informações sobre o tema aos investidores internacionais.
Em outra frente, também nesta segunda-feira, Haddad publicou um artigo no jornal britânico Financial Times no qual afirma que os investidores estrangeiros que desejam descarbonizar sua cadeia produtiva com projetos verdes “serão muito bem-vindos” ao Brasil.
Em Nova York, o ministro da Fazenda reconheceu que o valor inicial de títulos verdes ainda é tímido e está sujeito a definição pelo Tesouro Nacional, dependendo do interesse despertado pelos investidores estrangeiros. Mas acredita que a capacidade do Brasil de captar recursos no exterior, dada a sua matriz energética altamente sustentável, será bem-sucedida.
“Isso é o começo de um processo, mas a receptividade dos títulos verdes é a melhor possível porque esses recursos estão carimbados para financiar projetos sustentáveis com taxas de juros mais convidativas das que temos hoje”, disse Haddad durante participação de um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Bolsa de Valores de Nova York.
Segundo ele, a produção de energia limpa é a grande vantagem competitiva que o Brasil tem, com potencial para ser exportada como hidrogênio verde. Mas a prioridade, adiantou, será utilizá-la internamente para impulsionar a indústria e agregar valor aos produtos, contribuindo para a neoindustrialização do país.
Os títulos verdes (“green bonds”, em inglês) são títulos financeiros emitidos por entidades, sejam governos, empresas ou organizações, com o propósito específico de financiar projetos ou atividades que tenham um impacto positivo no meio ambiente.
Os projetos de destinação sustentável desses títulos podem ser empregados em vários setores da economia, como de energia renovável, de gestão de resíduos e de conservação (como reflorestamento e proteção de áreas naturais).
Também podem financiar iniciativas relacionadas a meios de transporte com menor impacto ambiental, como veículos elétricos, transporte público eficiente e infraestrutura cicloviária, além de soluções verdes para agricultura e para construções sustentáveis.
"Líder mundial"
Para reforçar o objetivo, o governo brasileiro incluiu outros ministros que fazem parte da comitiva do presidente Lula aos EUA – como Marina Silva, do Meio Ambiente, e Alexandre Silveira, das Minas e Energia – para participar de reuniões com empresários e autoridades norte-americanas, buscando atrair investimento estrangeiro para projetos sustentáveis.
À tarde, Haddad e Marina - além da ministra da Cultura, Margareth Menezes, e de Direitos Humanos, Silvio Almeida - participaram de um debate na Universidade de Columbia cujo tema era como o Brasil pode ser uma referência global para superar os enormes desafios climáticos dessa década.
No artigo assinado no Financial Times, Haddad citou alguns avanços, como do arcabouço fiscal no Congresso Nacional, e destacou a agenda verde do atual governo como o grande diferencial em relação à gestão anterior, de Jair Bolsonaro.
Haddad enfatizou que a estratégia do governo será sustentada por uma base fiscal e regulatória sólida, citando a regulamentação do mercado do carbono, que seguirá os passos do Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia.
“O Brasil já se destaca como líder mundial na economia verde”, escreveu Haddad, lembrando que 92% da geração de energia elétrica provém de fontes renováveis. Segundo ele, ações adotadas pelo novo governo brasileiro produziram uma redução de 48% no desmatamento nos primeiros oito meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano anterior.
O presidente Lula, que fica até quinta-feira nos EUA - numa agenda que inclui encontro com o presidente americano, Joe Biden -, deverá reforçar a política verde do governo em seu discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira.
As Nações Unidas definiram como tema da assembleia deste ano os esforços para avançar na chamada Agenda 2030, que define 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados pelos 193 países-membros da ONU até 2030.