Foram muitas as escalas cumpridas por Vanessa Colella no último mês: Alemanha, Emirados Árabes, México, Colômbia e Peru. As viagens têm sido uma constante em sua agenda desde março de 2022, quando ela deixou o Citi, após uma passagem de 12 anos no banco americano.

Na época, a executiva americana, que já foi nomeada uma das Mulheres Mais Poderosas pela revista American Banker, embarcou em uma nova jornada ao assumir o posto de head global de inovação e parcerias digitais da Visa.

Parte desse novo roteiro, o Brasil foi a última parada em sua “turnê” mais recente para conhecer os 17 centros de inovação globais da gigante americana de meios de pagamento. O que não significa que o País esteja no fim da fila de prioridades da executiva e da empresa.

“Eu colocaria o Brasil no topo da lista”, diz Colella, ao NeoFeed. “Seja em termos da sofisticação do que se pode construir aqui, por conta da infraestrutura, dos players do setor e dos neobanks, como do ponto de vista do apetite pelo que vem a seguir. Ninguém está parado no Brasil.”

Longe de um mero discurso, essas e outras características destacadas por Colella fazem com que o Brasil dialogue diretamente com o mantra que vem sendo adotado globalmente pela Visa, resumido na ambição - e no desafio - de se consolidar como a “rede das redes”.

Nesse conceito, a gigante americana avaliada em US$ 475 bilhões quer se reposicionar como um hub intermediário de transações, geradas e concluídas por diversos atores.

“Hoje, em pagamentos não existe apenas um tipo de player inovando. E, até 2030, a previsão é de que 74% das movimentações de dinheiro não sejam feitas por uma instituição financeira”, afirma. “O fato é que as boas ideias vêm de todos os lados e é importante ser a conexão de todas essas redes.”

A partir dessa orientação, os projetos “a quatro ou mais mãos” e as parcerias com todos os elos da cadeia – e fora dela – são uma entre tantas atribuições de Colella. E o Brasil tem sido palco de bons exemplos de como a Visa tem colocado essa tese em prática.

A Visa e o Real Digital

Esse é o caso dos testes que já estão sendo realizados para o Drex, projeto-piloto do Real Digital encampado pelo Banco Central. A Visa está participando desse processo por meio de dois consórcios, liderados pelo Bradesco e pela XP.

“Cerca de 93% dos bancos centrais em todo o mundo estão considerando ou explorando ativamente as moedas digitais”, diz Colella. “Temos sido muito ativos nessas discussões. É preciso garantir que esses novos sistemas acomodem todo tipo de movimentação de dinheiro.”

Outro projeto envolve a fintech brasileira Bitfy, com foco no combate às ações de cambistas, uma prática bastante comum em eventos no País. A dupla desenvolveu uma plataforma que transforma os ingressos em tokens não-fungíveis (NFTs), que podem ser rastreados e validados pelos compradores.

“O que é fascinante no Brasil é o fato de que, aqui, existe esse espírito de empreendedorismo, de construir soluções novas, e há uma infraestrutura bem desenvolvida para isso”, observa Colella. “E essas duas qualidades não estão necessariamente distribuídas uniformemente pelo mundo.”

Para a executiva, nesse contexto, o Brasil é um “grande laboratório” para a Visa e tem totais condições de não ficar restrito às suas fronteiras.

“O Brasil é um exportador de ideias e serviços financeiros para o mundo”, ressalta ela. “Não se trata de trazer para cá o que eu vi em San Francisco. É o contrário. É como relacionamos o que vemos aqui com oportunidades na Alemanha, nos Estados Unidos, na Indonésia.”

O exemplo mais recente made in Brazil que começa a decolar fora do País vem do segmento de mobilidade urbana. A Visa Brasil desenvolveu um sistema de pagamento por aproximação, via cartões da bandeira, para o pagamento de passagens de diversos modais de transportes.

O projeto envolveu a instalação de um chip nas catracas, sem que os operadores precisassem trocar os equipamentos para viabilizar o processo. Depois de avançar em mercados como o Rio de Janeiro, a ferramenta já está sendo exportada para países como México, Argentina e República Dominicana.

“Esse projeto é importante não apenas pela engenhosidade técnica”, aponta Colella. “Mas também, porque esse tipo de utilização cria um hábito e abre caminho para diversas outras aplicações.”

Vanessa Colella, head global de inovação e parcerias digitais da Visa
Vanessa Colella, head global de inovação e parcerias digitais da Visa

Uma outra amostra dessa vocação para exportação e de como o País está no radar global da Visa veio em junho, quando o grupo comprou a Pismo por US$ 1 bilhão. Dona de uma plataforma de serviços bancários e pagamentos em nuvem, a fintech brasileira atua na América Latina, Ásia-Pacífico e Europa.

Como o acordo ainda está em fase de aprovação regulatória, Colella prefere não tecer comentários a respeito. Assim como não revela o montante reservado pela Visa à área de inovação. Mas alguns números dão uma dimensão do tamanho da aposta em frentes diretamente ligadas a essa frente.

Nos últimos dez anos, a companhia investiu US$ 3 bilhões em soluções relacionadas à inteligência artificial. E essa conta cresceu nesta semana, com o anúncio de uma cifra US$ 100 milhões, a ser aplicada em iniciativas de IA generativa, por meio do braço de corporate venture capital Visa Ventures.

“Estamos em um ciclo em que todos estão entusiasmados com a IA generativa, mas levará algum tempo para vermos como isso realmente impacta o consumidor”, diz Colella. “Não é algo que vá acontecer na terça-feira. É muito mais profundo. E é por isso que precisamos prestar mais atenção nesse tema.”