Em julho do ano passado, a Apple tinha sinalizado que iria entrar no mercado de Buy Now Pay Later. Para os leigos, o popular crediário. Na época, a companhia da maçã estava firmando uma parceria com o Goldman Sachs para lançar um produto que permitisse parcelar compras. Nesta segunda-feira, 6 de junho, isso se tornou realidade.
Durante a WWDC, o principal evento da empresa americana voltado a desenvolvedores, a companhia anunciou o lançamento do Apple Pay Later, serviço que vai permitir o parcelamento de compras por meio do Apple Pay.
A ideia é de que a nova função seja ofertada juntamente com a atualização do iOS para a versão 16, o que deve acontecer até o fim deste ano. Com o update do sistema operacional do iPhone, os usuários do telefone podem dividir compras em até quatro parcelas que devem ser quitadas num intervalo de até seis semanas.
A Apple não detalhou exatamente como o modelo vai funcionar. O que se sabe até o momento é que não haverá juros na operação e que a novidade estará disponível inicialmente apenas nos Estados Unidos. A companhia também informou que o recurso é aceito em compras online que aceitam pagamentos feitos por cartões Mastercard.
O ponto chave desta história é que a Apple entra num mercado que apresenta instabilidade. É o caso, por exemplo, da Klarna. Fintech mais valiosa da Europa avaliada em mais de US$ 45 bilhões, a companhia começou a apertar os cintos. No último mês, demitiu 10% de sua força de trabalho composta por mais de 7 mil trabalhadores.
Sebastian Siemiatkowski, CEO da Klarna, afirmou na época que este era o “anúncio mais difícil” que ele já havia feito. Segundo o executivo, as demissões se deram por conta de um “ano tumultuado” devido à guerra da Rússia na Ucrânia, a mudança na confiança do consumidor, o aumento na inflação e a volatilidade do mercado.
O drama da Klarna é ainda maior. Para financiar sua operação, a fintech está buscando uma outra rodada de investimento, agora de US$ 1 bilhão. O problema é que, de acordo com o The Wall Street Journal, isso só será possível se a Klarna reduzir sua avaliação para algo em torno de US$ 30 bilhões.
O dinheiro é necessário. Entre 2005 e 2019, a fintech obteve lucro em todos os anos de sua operação. Porém, desde 2020, a companhia registrou números negativos em seus balanços. No primeiro trimestre deste ano, o prejuízo ficou em US$ 250 milhões, quatro vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado.
Já a americana Affirm que captou mais de US$ 1,5 bilhão com investidores privados antes de estrear na Nasdaq em janeiro do ano passado viu suas ações desabarem nos últimos meses. Desde o IPO, a companhia já perdeu quase 80% de seu valor de mercado e está avaliada em pouco menos de US$ 6,8 bilhões.
A expectativa é de que o mercado vire. Um estudo realizado pela consultoria canadense Precedence Research aponta que o mercado de Buy Now Pay Later movimentou US$ 125 bilhões em 2021. A expectativa é de que esta cifra escale mais de 43% por ano até 2030, quando deve movimentar mais de US$ 3,2 trilhões no mundo.
A chegada da Apple acirra a disputa no crediário digital. Mas isso está longe de traduzir um futuro de terra arrasada para quem tentar competir contra a empresa da maçã.
Há dois exemplos neste sentido, ambos no streaming. O Apple Music, por exemplo, não desbancou o rival Spotify, que conta com um número maior de usuários. Enquanto o serviço da Apple tem cerca de 78 milhões de usuários, o Spotify conta com mais de 182 milhões de assinantes. Já o Apple TV tem cerca de 50 milhões de assinantes, enquanto a Netflix conta com mais de 220 milhões de assinaturas ativas.