Quando o tapume foi retirado, uma escultura de Tomie Otake, posicionada no meio do corredor, foi revelada em meio às vitrines com acessórios de moda. A peça, do acervo da galeria Nara Roesler, é um “sinalizador” da nova ala do shopping Cidade Jardim, inaugurada esta semana, em São Paulo. Do teto, no atrium de três andares, pendem luminárias monumentais de Arthur Lescher delimitando o espaço dedicado ao home & design.
Na terceira expansão em 15 anos, que demorou dois anos para ser concluída, o centro de compras de luxo do grupo JHSF com “100% de área locada”, estabeleceu uma área exclusiva para arquitetura, artigos de casa, mobiliário, decoração e arte e, ao mesmo tempo, definiu uma nova frente de atuação.
Com 28 lojas como Artefacto, Baccarat, Jader Almeida, AD Studio, Studio Bola, 6F, Vallvé dispostas em três andares, a divisão vai representar 23% da área do shopping, que agora chega a 49 mil m² de ABL. Isso sem contar outras lojas do setor que já funcionavam no shopping e que não migraram para nova ala, como Zara Home, Spicy e Tania Bulhões, por exemplo, chegando a mais de um quarto da ABL de todo o Cidade Jardim.
Para além de disputar espaço com o D&D, shopping exclusivo do tema que funciona próximo, do outro lado na marginal Pinheiros, o espaço concebido por Arthur Casas vai atender a “um desejo antigo dos clientes”, disse ao NeoFeed, Robert Bruce Harley, CEO da JHSF Malls, mas que “vai se tornar um destino também nesta área.”
O Cidade Jardim, destaca ele, é “o maior empreendimento de uso misto de larga escala de alta renda do país”, com duas torres comerciais, dez torres residenciais. “Em junho entregamos mais 64 apartamentos e já lançamos mais quatro residenciais. Home e design têm tudo a ver com nosso público.”
“O diferencial e o pioneirismo é trazer esta área para dentro do nosso mix de lifestyle que tem moda, gastronomia, entretenimento. É aumentar a gama de negócios dentro do shopping.” A ampliação para esta área é também um reflexo do movimento que começou na pandemia, quando as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa com o home office e investir no ambiente doméstico.
A frente Home & Design passa a fazer parte, também, do mix dos novos empreendimentos do grupo, caso dos novos shoppings que vão iniciar ou já estão em construção como o Shops Faria Lima, de 11 mil m² de ABL, na rua Leopoldo Couto de Magalhães, e no Boa Vista Village, em Porto Feliz, no interior de São Paulo.
Este ano, o Cidade Jardim vai organizar a primeira expedição para o Salão do Móvel de Milão, (18 e 23 abril), para promover experiências para clientes e arquitetos. O shopping faz ações semelhantes durante as semanas de moda internacionais.
“Vamos entender como funciona Milão para ter um modelo mais estruturado no próximo ano, talvez até com um espaço Cidade Jardim no salão.” O shopping hoje é apoiador do evento de arquitetura e design de interiores Casa Cor e não pretende concorrer nessa frente. Por sinal, farão uma exposição em conjunto em maio.
Mas, enquanto isso, já trabalha no programa mais nevrálgico do setor que é a plataforma de relacionamento com os arquitetos e designers de interiores. Na prática, são eles os responsáveis pela maior parte das recomendações de compras para os clientes. O shopping D&D e a alameda Gabriel Monteiro da Silva, o corredor de lojas de decoração de São Paulo, por exemplo, são muito ativos nesta seara, com brindes e negociações especiais.
“Com o nosso mix de gastronomia, moda e entretenimento podemos promover experiências que ninguém mais pode nesta área. Por exemplo, levar um arquiteto a um desfile internacional do nosso portfólio, ou dar acesso especial a nossas lojas ou descontos nos restaurantes.”
Além das lojas, o Home & Design vai abrigar obras de artistas e designers do acervo de galerias. Cada peça exposta é acompanhada de um QR-Code e, por meio dele, o cliente pode pedir a reserva e a área de concierge do shopping intermediará a venda.
A área de Home & Design será integrada a Faculdade Belas Artes, promovendo sinergia também com a área de educação. A faculdade se instalou no Cidade Jardim no ano passado, fazendo parte da primeira fase desta expansão, trazendo um novo público e incremento o fluxo diário em 15%. No trimestre, diz Harley, o shopping atraiu um milhão pessoas.
Para os próximos meses, o grupo vai fortalecer sua área de gastronomia. Em abril, numa parceria com a JHSF, será inaugurada no Cidade Jardim uma unidade do restaurante francês L’Avenue, a segunda unidade fora de Paris (a outra fica na Saks, em Nova York).
No Shops Jardins, será aberta a segunda unidade do Vista, restaurante que funciona dentro do Museu de Arte Contemporânea, no Ibirapuera, além de uma nova marca, o Giu Giu, do mesmo grupo do restaurante Roi. Na área de moda internacional, o shopping inaugurou uma loja de Stella McCartney em janeiro.
Em 2022, as vendas nos shoppings do grupo cresceram 27,8%, para R$ 3,9 bilhões e o volume de couverts vendidos nos restaurantes tiveram um incremento de 31,5%, segundo balanço divulgado na quinta-feira, 16 de março. Esse portfólio de empreendimentos fechou o ano com uma taxa de ocupação de 97,4%.
Já a receita líquida da companhia registrou um recuo de 5,2% no período, para R$ 1,9 bilhão. Enquanto o lucro líquido ficou em R$ 632,1 milhões, queda de 35,6%. O Ebitda ajustado da operação foi de R$ 916,4 milhões, uma redução de 24,6% sobre 2021.
O endividamento chegou a R$ 610,3 milhões, alta de 79,3% em relação ao trimestre anterior, mas com prazos estendidos de pagamento, de 5,3 anos para 6,2 anos. A maior parte da amortização ficou para 2025.