A italiana Azimut, uma das principais gestoras de fortuna da Europa, tem presença em 17 países e US$ 92 bilhões sob gestão. Mas, desde sua criação, em 1989, nunca tinha olhado para Portugal, ali do lado da Itália, como um destino a ser desbravado.
Foi preciso que os brasileiros se movimentassem para a empresa passar a enxergar o mercado português com mais atenção. Com um séquito de clientes de bolso fundo saindo daqui com destino à terra de Camões, a gestora decidiu que era a hora de criar uma base por lá.
E o homem escalado para isso é justamente o mesmo que comanda as operações da gestora no Brasil, dona da AZQuest e da Azimut Brasil Wealth Management. Trata-se de Giuseppe Perrucci, que está no grupo desde 2008 e toca as operações brasileiras desde 2013.
“Há 15 anos, Portugal era a última roda do carro da zona do euro, mas nos últimos anos apresentou avanços fantásticos, criando um ambiente muito positivo para as pessoas se mudarem”, diz Perrucci ao NeoFeed. “Agora, o país se tornou importante para nós.”
O escritório, sediado em Estoril, Cascais, onde muitos recém-chegados de alta renda estão se estabelecendo, vai servir de canal para atendimento aos clientes da Azimut que se mudaram para Portugal e também para a prospecção de potenciais clientes.
O Brasil é um dos principais mercados da Azimut, com R$ 30 bilhões em ativos sob gestão, sendo que R$ 11 bilhões estão debaixo da área de wealth, que tem 3 mil clientes.
Com a imigração ganhando força, principalmente durante o período da crise econômica de 2015 e agora com a pandemia, a Azimut decidiu transferir Perrucci no final de 2020 para Portugal, para ele começar a estruturar a operação local, tocando em paralelo as atividades no Brasil.
Segundo Perrucci, neste primeiro momento, o propósito da filial portuguesa é estar próximo dos clientes e potenciais clientes, não só brasileiros, como de outras nacionalidades. Ela será responsável por fazer a ponte com os gestores da Azimut e eventualmente tirar dúvidas sobre investimentos.
O escritório também vai ajudar no estabelecimento das famílias no país, indicando advogados especializados em trâmites imigratórios e corretores para compra de imóveis.
Além de servir como referência para os clientes que têm recursos administrados em outros países, a Azimut também pretende utilizar o escritório para oferecer produtos a gestoras de patrimônios, family offices e corretoras em Portugal, aproveitando o fato de estar se instalando no país.
Perrucci destacou que a Azimut não tem autorização para atuar como gestora de recursos em Portugal. O escritório pode apenas repassar interessados em terem recursos geridos pela casa para algum gestor localizado nos outros 17 países em que tem atividade. Para isso, ele planeja uma série de encontros e reuniões com potenciais clientes para falar dos serviços oferecidos pela Azimut.
“Eu só posso fazer marketing da Azimut, não posso atuar com wealth management. Quem tiver interesse, nós vamos colocar em contato com os times de São Paulo, de Luxemburgo, que podem fazer essa gestão”, afirma Perrucci.
De acordo com ele, não está nos planos da Azimut começar a oferecer serviços de gestão de patrimônio em um primeiro momento em Portugal, mas isto pode mudar com o tempo, caso o mercado cresça.
“O tamanho do mercado de wealth management de Portugal é na casa dos € 50 bilhões. A Azimut sozinha gere € 85 bilhões pelo mundo”, afirma. “Hoje, nosso objetivo é olhar para o estrangeiro com dinheiro fora de Portugal e ajudá-lo na interação com seus gestores e com as autoridades locais."
Ainda que seja um mercado pequeno, a Azimut vai contar com concorrência para servir a população brasileira de classe alta. Também atento a esta imigração, o BTG Pactual inaugurou em 2020 uma base da área de wealth management no país, que também presta serviços para outros países europeus. O Itaú BBA é outro que tem operações em Portugal para atender brasileiros que migraram para lá.
Atração portuguesa
Portugal virou um destino cobiçado por muitos brasileiros, depois de passar anos relegado à última posição na preferência de imigração para a Europa.
Além de fazer parte da União Europeia, ter um clima melhor que outros países do Velho Continente e ter o mesmo idioma, o país também atuou para atrair novos moradores.
Com uma população envelhecendo e vendo uma redução de investimentos no país nos últimos anos, o governo tomou uma série de iniciativas para atrair imigrantes qualificados e investidores.
Uma delas foi a criação do Golden Visa, programa que facilita as regras de residência para aqueles que realizarem investimentos vultuosos em Portugal, mecanismo utilizado por grande parte dos clientes da Azimut para migrarem.
O governo também instituiu, em 2009, um regime fiscal especial para atrair estrangeiros qualificados, oferecendo uma alíquota de imposto de renda de 20% por uma década, porcentagem significativamente menor em relação ao cobrado dos portugueses, que pode chegar a 50%.
Essas iniciativas surtiram efeito. Dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão oficial de imigração, mostram que, em 2021, o país contabilizou 714,1 mil estrangeiros de um total de 10,3 milhões de habitantes.
Os brasileiros formam a maior comunidade de estrangeiros, com 209 mil pessoas, 29,2% do total. Olhando para os números do Golden Visas, os brasileiros também se destacam. Desde a sua criação, em outubro de 2012, até março deste ano, os brasileiros foram a segunda nacionalidade a ter mais vistos concedidos, atrás apenas dos chineses.
Diante do crescimento da imigração em Portugal, puxada pelos brasileiros, a Azimut começou a estudar o mercado português e viu as oportunidades que ele está apresentando.
“Nos últimos anos, Portugal se destacou na parte de tecnologia. Tem o Web Summit, maior evento de tecnologia da Europa, muitas empresas de tecnologia estão surgindo ou se instalando, e as criptomoedas ganharam um tratamento fiscal muito interessante”, afirma Perrucci.
Os incentivos ao setor tecnológico têm atraído investimentos. A gestora de venture capital Futurum Capital é outro nome brasileiro em terras lusitanas. Ela está nos trâmites finais para criar um fundo de 30 milhões de euros para investir em startups na Europa, conforme contou Eduardo Zaidan, cofundador da Futurum ao Café com Investidor, programa do NeoFeed que entrevista os principais gestores de venture capital e private equity do Brasil.
Perrucci acredita que a migração para Portugal deve continuar aquecida nos próximos anos, mesmo que a alta dos preços dos imóveis em Lisboa e outras grandes cidades tenha limitado a emissão de Golden Visas a regiões no interior do país. Para ele, as boas condições criadas pelo estado português para imigrantes devem continuar estimulando a chegada de novos moradores.
“Hoje em dia tem a possibilidade de trabalhar a distância, e as pessoas podem aproveitar os benefícios fiscais de Portugal, além da qualidade de vida do país”, disse. “Os preços dos imóveis subiram, mas quando olhamos para Paris, Londres, estamos longe de um nível de preço muito alto.”