Uma startup israelense chamou a atenção da B3. Trata-se da BridgeWise, fintech que opera uma plataforma de dados que auxilia a entrada de novos investidores no mercado de capitais. Nesta terça-feira, 31 de janeiro, a companhia anunciou um aporte de US$ 13 milhões com participação direta da bolsa de valores brasileira.

A rodada de financiamento é liderada pela gestora americana de venture capital Group 11 e tem a participação da Mangrove Capital Partners, empresa do setor financeiro com sede em Luxemburgo. O que chama a atenção é a entrada também, ainda sob análise de reguladores locais, do L4 Venture Builder, fundo de investimentos independente da B3.

Lançado no ano passado e com R$ 600 milhões para investir, o L4 Venture Builder foi criado para permitir que a B3 pudesse se tornar acionista de diferentes empresas. No alvo estão companhias de qualquer lugar do mundo, em estágios iniciais de captação e que operam principalmente no setor financeiro.

A BridgeWise é a segunda startup a se encaixar nessa tese. O primeiro investimento, ainda em processo de aprovação por órgãos reguladores, foi feito no começo de janeiro, quando o L4 entrou numa rodada seed de US$ 15 milhões na Parfin, startup britânica que trabalha com infraestrutura para projetos em web3. O aporte foi liderado pela Framework Ventures.

Com sede em Tel Aviv, a BridgeWise chamou a atenção dos investidores brasileiros. Fundada em 2019 sob o nome Deshe Analytics, a companhia mudou sua identidade visual e opera uma plataforma que facilita o acesso a informações e automatiza a análise de mais de 44 mil empresas com capital aberto em diferentes bolsas de valores.

“O investidor profissional e o amador são criaturas distintas. Enquanto um se apoia em pontos fundamentais do negócio, o outro baseia seus investimentos na maioria das vezes em palpites”, diz Gabriel Diamant, CEO e cofundador da companhia ao lado dos irmãos Dor e Or Eligula e Mor Hazan.

Segundo Diamant, a maior parte dos investidores não têm educação financeira ou compreendem outro idioma além do português, o que dificulta a leitura de relatórios. “Mesmo que eu entregue um documento muito bem redigido sobre uma companhia, como a Tesla, isso não servirá de nada”, afirma.

A plataforma criada pela fintech tenta resolver esse problema ao reunir, traduzir e simplificar a leitura de diferentes informações financeiras que são disponibilizadas pelas companhias listadas. Isso é feito a partir de algoritmos que conseguem também gerar relatórios e recomendações detalhadas para a compra ou venda de uma determinada ação.

De acordo com Diamant, a taxa de sucesso nas previsões sobre a alta ou a queda nos preços foi de 70% em 2021 e de 67,5% no ano passado. “Mas este não é o valor do negócio. O valor do negócio está no fato de que estamos dando o acesso simplificado e traduzido desses dados aos clientes”, afirma o executivo.

Na prática, a BridgeWise compete em um mercado que hoje é tomado por casas de análise de investimentos. Ao automatizar as análises, no entanto, a startup consegue cobrir um número maior de companhias listadas em diferentes bolsas de valores, diferentemente do que ocorre com as casas de análise que fazem esse trabalho manualmente.

Com um modelo de software-as-a-service, a BridgeWise aposta em vendas B2B2C. As empresas que firmam contrato com a startup, com valores mantidos em sigilo, podem disponibilizar a ferramenta para seus próprios usuários. Diamant afirma que o número de clientes corporativos gira em torno de 25%, com a maior parte deles localizado em Israel.

Por aqui, a companhia não revela nomes de seus clientes, mas Diamant afirma que a fintech já tem conversas com três das quatro maiores instituições financeiras do país e que duas delas já estão próximas da fase de assinatura de contratos. A expectativa é de que isso aconteça até o terceiro trimestre.

O dinheiro captado nessa rodada servirá para que a companhia amplie sua operação para chegar em novos mercados, sendo o Brasil a principal aposta do momento. “Eu não diria que o Brasil será o principal mercado da BridgeWise, mas será um dos maiores”, afirma Diamant. Prova disso é que na B3, a companhia faz a análise de 339 das mais de 400 empresas listadas.

O montante também será utilizado para o desenvolvimento de novas ferramentas na plataforma e que incorporem, por exemplo, dados relacionados às práticas ESG. Além disso, também há o intuito de capitalizar o negócio agora, ainda que num momento de baixa de investimentos de venture capital em startups, antes que o mercado fique ainda mais restrito.