A novela sobre as participações acionárias da bandeira de cartões Elo, que pertence ao Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, continua a gerar debates e será crucial na abertura de capital da companhia, nos Estados Unidos, uma realidade cada vez mais próxima.

No último fim de semana, a Broadcast, do Grupo Estado, publicou uma reportagem em que afirmava que a empresa deve fazer o seu IPO em uma bolsa americana ainda neste ano. Na quarta-feira, 7 de abril, tanto Bradesco como Banco do Brasil soltaram comunicados ao mercado dizendo que ainda está em estudo.

Apesar do discurso oficial, o NeoFeed apurou com pessoas ligadas à negociação que a Elo pretende, sim, abrir o capital na Nasdaq no último trimestre de 2021. O IPO da bandeira de cartões já vem sendo discutido há muito tempo e não é um tabu entre seus controladores. Os bancos acionistas entrariam como coordenadores e trariam mais dois bancos internacionais para preparar a oferta.

De acordo com uma fonte que conhece as negociações, a ideia inicial era ter feito o IPO em dezembro de 2020. “Desde a metade do ano passado, criou-se um consenso entre os três acionistas que o IPO seria o caminho”, diz esse profissional que acompanhou as movimentações.

“Teve um momento, entretanto, em que o BB ficou mais lento para seguir com o IPO”, diz esse executivo. Mas não caminhou para uma abertura de capital no fim do ano passado porque era o momento de se sentar à mesa e discutir as participações de cada um na empresa.

Pelo acordo firmado entre os acionistas, a empresa é controlada pela Elopar, que é dona de 56,96% da Elo, e tem no seu comando o Bradesco (50,01%) e BB (49,99%). O restante das ações é dividido entre Bradesco (6,14%) e Caixa (36,88%). Mas essas participações são renegociadas de acordo com a emissão de cartões de cada instituição financeira.

Quem emite mais acaba ganhando mais participação acionária. E, por conta do auxílio emergencial do governo, a Caixa passou a emitir muito mais cartões que Bradesco e BB. Portanto, na revisão acionária, que acontece a cada quatro anos, tem direito a uma maior participação.

Segundo o jornal Valor Econômico, na revisão acionária, a Caixa passou a deter 41,4% da Elo. Agora, os três estão mais alinhados e a participação teria já sido concluída. Os bancos, entretanto, não confirmam que fecharam o assunto em questão e dizem que ainda estão conversando sobre as participações.

A Elo, que perdeu o seu presidente Eduardo Chedid para o PicPay, está agora em busca de um novo presidente. O NeoFeed apurou que o perfil procurado é de alguém com experiência em abertura de capital.

Com 180 milhões de cartões emitidos, aceitação em 11 milhões de estabelecimentos e R$ 300 bilhões transacionados em 2020, a bandeira, diz um banqueiro que conhece a companhia, pode atingir um valor de mercado de US$ 7 bilhões.

Mas o sucesso da operação vai depender, sobretudo, de como os acionistas vão se comprometer com o futuro da empresa. “Principalmente com o futuro das emissões de cartões”, diz um executivo do setor de adquirência. “Esses acordos comerciais são importantes para trazer confiança para os investidores.”

Hoje, do total transacionado pela Elo, 20% respondem a operações com cartão de crédito e os outro 80% em operações de débito. A Caixa é mais concentrada no débito, o Banco do Brasil em crédito e o Bradesco é mais equilibrado entre débito e crédito.

Nos últimos anos, a Elo ganhou muita força e share no mercado. Em entrevista ao NeoFeed, em dezembro do ano passado, quando ainda era presidente da Elo, Eduardo Chedid analisou o salto da companhia.

“Em 2017, tínhamos só uma credenciadora que era a Cielo. Hoje temos 21 credenciadoras. Em 2017, tínhamos três emissores, que eram os acionistas, e vamos terminar esse ano com mais de 31. Essas coisas juntas nos possibilitaram alcançar outro nível de crescimento”, disse Chedid na época.

O número de estabelecimentos credenciados também saltou. Saiu de 1,5 milhão em 2015 para 11 milhões no ano passado. E a participação de mercado em cartões alcançou 15%. Um ponto que deve seduzir os investidores é a conversão da bandeira em uma empresa de tecnologia.

A companhia tem atuado no desenvolvimento de produtos para o ecossistema de meios de pagamento, firmado parcerias com aceleradoras como a Plug and Play, uma das maiores do Vale do Silício, e criado opções de pagamento em QR Code em conjunto com instituições financeiras e varejistas.