Em um momento em que a maioria das empresas de varejo quer ser fintech, a Hash está recebendo um aporte série B de US$ 15 milhões (aproximadamente R$ 83 milhões) liderado pelo fundo de venture capital americano QED Investors, que já investiu nos unicórnios Nubank, Creditas, Loft e QuintoAndar no Brasil.
Participam da rodada a Globo Ventures, veículo de investimento da família Marinho, e Thomas Stafford, um dos sócios da DST Global. O Kaszek e a Canary seguiram o aporte na startup fundada por João Miranda e que se define como uma infraestrutura de pagamentos para empresas.
“Eu monto uma fintech para as empresas e nasci para ser white label”, diz Miranda, ao NeoFeed, que foi o segundo funcionário da Pagar.me, fintech fundada por Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, comprada pela Stone, em 2016. Hoje, a dupla, que está à frente da Brex, startup avaliada em US$ 2,6 bilhões, é também investidora da Hash.
Com o aporte, a Hash vai investir os recursos em novos produtos. A empresa acaba de ser aprovada como emissora da bandeira de cartões Mastercard, vai aplicar para obter uma licença de instituição de pagamento no Banco Central e pretende lançar mais serviços financeiros para as empresas.
"Quando conhecemos o João Miranda e a Hash em 2019, sabíamos que eles estavam desenvolvendo algo que poderia ser uma grande inovação. Eles estavam construindo um produto de pagamentos que não existia", afirma Mike Packer, sócio da QED Investors, ao NeoFeed. "A Hash estava resolvendo problemas de pagamento complicados e criando oportunidades para fornecedores e compradores."
No ano passado, a Hash movimentou R$ 300 milhões com suas soluções financeiras para empresas. A meta é multiplicar por cinco essa cifra, chegando a R$ 1,5 bilhão em 2021. Atualmente, a fintech conta com cinco clientes, sendo o principal deles a Leo Madeiras, que lançou sua própria maquininha de pagamentos, utilizada por 10 mil marceneiros.
Esse pequeno número de clientes se deve a estratégia da fintech, que passou de 2017 a 2019 no desenvolvimento das soluções financeiras. Só então foi ao mercado em busca de clientes. “Primeiro escalamos com a Leo Madeiras. Agora, vamos escalar todos os projetos”, diz Miranda. “Estamos em negociação com mais dez.”
De acordo com Miranda, a “maquininha” de pagamentos, em geral, é a porta de entrada para a oferta de outros serviços, como uma conta digital. O cartão de crédito começará, em breve, a ser oferecido aos clientes. E, no estilo da Hash, será um “white label”.
Nos planos da Hash estão também o crescimento de sua equipe. Atualmente, a fintech conta com 100 funcionários. A meta é dobrar esse número, sendo que boa parte deles vão ser contratados para a área de tecnologia.
Quem já está “batendo ponto” na Hash é Marcelo D'Alfonso, ex-CEO da Wirecard e da MoiP, que foi contratado em janeiro deste ano como CFO (Chief Financial Officer) e tem a missão de ajudar a Hash a conseguir a licença de instituição de pagamento no Banco Central.
“Hoje, tem muito casca por cima da tecnologia. São poucas as empresas do mercado que conseguem oferecer infraestrutura completa e atendem ao regulatório do Banco Central”, diz uma fonte do setor, que atua em fintechs desde meados dos anos 2010.
De acordo com essa fonte, a maioria das empresas que querem um espaço nessa área tem uma camada de integração e conta com parcerias com outras instituições financeiras para prestar o serviço. “Mas essas startups têm um papel importante na democratização dos serviços financeiros”, afirma.
O investimento na Hash acontece em um momento extremamente aquecido na área de fintechs. Nos três primeiros meses de 2021, as startups financeiras receberam US$ 517 milhões em aportes, o que representa 25% de todos os recursos do ano passado, segundo relatório do Distrito, um ecossistema independente de startups.
Esse resultado fora da curva, no entanto, foi puxado por dois aportes. O principal deles foi o do Nubank, que levantou US$ 400 milhões e foi avaliado em US$ 25 bilhões, seguido pela RecargaPay, que captou US$ 70 milhões.
Na área de M&A, as transações estão também em alta. No primeiro trimestre de 2021, foram realizadas oito fusões e aquisições, um terço do total do ano passado. A maior delas foi a da Konduto, comprada pela BoaVista, por US$ 29,6 milhões.
Outro destaque foi a fusão entre Rebel e Geru, que deu origem a Open Co, uma das maiores fintechs de crédito sem garantia do Brasil, que captou R$ 150 milhões em um rodada série C, liderada pelo IFC e Goldman Sachs, em março deste ano.
A QED Investors não ficou de fora desses aportes. O fundo americano participou da rodada série A da Cora, um banco digital com foco em PMEs (pequenas e médias empresas), que recebeu R$ 150 milhões no começo de abril.
Considerado um fundo especialista em investimentos em startups financeiras em seu estágio inicial nos Estados Unidos, Reino Unido, América Latina e Sudeste da Ásia, a QED Investors, além dos quatro unicórnios no Brasil, conta também com outras startups bilionárias em seu portfólio, como Credit Karma, SoFi e Kavak.
“Já tínhamos uma relação muito próxima do Mike Packer”, diz Miranda, em referência ao sócio da QED Investors, que liderou o investimento na Hash. “A QED foi um match perfeito.” Agora, a Hash precisa dar match com os clientes.