Em um momento no qual a indústria automotiva enfrenta uma crise intensa de componentes, que se reflete em questões como a queda na produção e a elevação dos preços dos automóveis, as locadoras de carros estão sendo forçadas a escolher dois percursos opostos.
O primeiro deles, aceitar os preços mais altos e ampliar a pressão no retorno sobre o capital investido no longo prazo. Na outra direção, frear as compras, segurar o crescimento, se apoiar em uma frota mais antiga e se contentar com margens de curto prazo mais baixas.
As escolhas feitas nesse cenário são o tema central de um relatório distribuído nesta quarta-feira pelo Bank of America. E que traz uma análise sobre as estratégias adotadas por dois dos principais nomes desse setor no País: a líder Localiza e a Movida, terceira colocada nesse ranking.
“Nós aconselhamos os investidores a monitorarem as duas estratégias, dado que, em um setor intensivo em capital e com espaço limitado para manobras, um erro de cálculo sobre os preços de compra e venda, ou níveis de tarifa, pode comprimir substancialmente os retornos para o próximo ciclo”, escreveram os analistas Murilo Freiberger e Gustavo Tasso.
No relatório, intitulado “Comprar ou não comprar, o dilema da locação de carros”, a dupla do Bank of America destaca que a Localiza e a Movida tiveram um desempenho similar no segundo trimestre de 2021 em seus negócios de locação e gestão de frotas.
Entretanto, os analistas ressaltaram uma diferença nas duas abordagens. A Localiza decidiu pela via de manter um baixo volume de compras no período, com uma fatia de 10% da sua frota total. Enquanto a Movida acelerou essa frente para um índice de 19%, dando um sinal verde para os preços mais altos.
Eles também observam que ambas as empresas entregaram um retorno sobre o capital investido sólido, de 14% e 10%, respectivamente. Mas fazem a ressalva de que esses indicadores estão sendo impactados pelo fator transitório das fortes vendas nas operações de carros usados.
Excluindo essas margens atípicas, o Bank of America estima que retorno sobre o capital investido da Localiza seria de aproximadamente 11% e o da Movida, de cerca de 7%. “Assim, o ROIC atual de locação de carros pode estar cerca de 400 pontos-base abaixo dos números relatados, no longo prazo”, observaram os analistas.
Eles também apontaram o crescimento de 12% no ebtida do segmento de locação da Localiza no segundo trimestre na comparação com os níveis do fim de 2019. E o salto de 26% da Movida nesse indicador, no mesmo intervalo.
“No entanto, o capital investido da Localiza no segundo trimestre cresceu apenas 2% desde o quarto trimestre de 2019, contra o aumento de 43% da Movida. Esses números sugerem que o ROIC da Localiza está crescendo na margem, enquanto o da Movida está recuando.”
O relatório frisa ainda que questões como os gargalos na produção de automóveis são transitórios e que, à medida que esse desafio seja superado, as locadoras poderão renovar suas frotas em condições mais favoráveis.
Embora ressaltem que ainda é prematuro escolher a estratégia vencedora, os analistas apontaram, a princípio, a postura da Localiza, mais focada em retornos de longo prazo, como a mais promissora delas.
“Embora possa frustrar as expectativas do mercado sobre volume e margens de curto prazo, a história nos mostra que uma abordagem conservadora é, em geral, a melhor opção do setor”, acrescentou a dupla, que reiterou a recomendação de compra para a Localiza, com preço-alvo da ação em R$ 78 e, uma classificação neutra para a Movida, com preço-alvo de R$ 24.