Quem procura, acha – e a Apple parece ter encontrado mais oportunidades de negócios ao anunciar a abertura de sua plataforma de localização de dispositivos, batizada de "Find My", para terceiros.

Criada em 2010, a ferramenta vem pré-instalada em todos os aparelhos da companhia, e permite que o usuário monitore as coordenadas do gadget remotamente.

A novidade foi anunciada pelo próprio CEO da empresa, Tim Cook, durante a  conferência anual da companhia, no início desta semana. Essa é a primeira vez que desenvolvedores externos terão acesso à plataforma, antes exclusiva aos produtos da casa – iPhones, iPads, Macs, AirPods e Apple Watches.

A extensão da aplicação, prevista para estar disponível a partir do lançamento do sistema operacional iOS 14, em outubro, dividiu opiniões. De um lado, parte do mercado acredita que a estratégia pode enfraquecer a venda de acessórios da companhia, em especial, os AirPods.

Diversas outras marcas também investem na oferta de fones de ouvido sem fio, com bom design e qualidade. Mas o fato de o AirPod ser integrado ao ecossistema Apple, com direito à localização, pesava para a escolha dos usuários de iPhones e outros gadgets da marca. No ano passado, a Apple vendeu 60 milhões de unidades de seu fone de ouvido.

A divisão de Wearables, Home e Acessórios, que abriga ofertas como o AirPod e o Apple Watch, já tem uma receita relevante na operação da Apple, o que só reforça essa preocupação.

No seu segundo trimestre fiscal da Apple, encerrado em 28 de março, a divisão de Wearables, Home e Acessórios movimentou US$ 6,2 bilhões

No seu segundo trimestre fiscal da Apple, encerrado em 28 de março, o segmento movimentou US$ 6,2 bilhões. A receita foi superior às vendas de Macs e iPads, que geraram, respectivamente, no período, US$ 5,3 bilhões e US$ 4,3 bilhões. No total, o faturamento da Apple foi de US$ 58,3 bilhões. 

Em relatório, a Apple ressaltou que as medidas de distanciamento social decorrentes da pandemia do novo coronavírus impulsionaram as vendas da divisão no período, especialmente dos AirPods.

Em um contraponto ao risco de desaceleração das vendas nessa categoria, com a abertura do "Find My" a outros desenvolvedores e fabricantes, a Apple deve ganhar corpo na competição com a também americana Tile.

Fundada em 2012, a startup vende uma pequena placa bluetooth, quadrada ou redonda, para ser alocada em carteiras, chaveiros e celulares, a fim de mostrar a localização desses objetos em tempo real. A companhia já atraiu US$ 104 milhões em aportes, junto a fundos como GGV Capital e Khosla Ventures.

Ao mesmo tempo, a estratégia pode ajudar a "limpar a barra" no plano das crescentes queixas de conduta anticompetitiva. A Tile é justamente uma das companhias mais empenhadas em "atacar" a Apple com alegações antitruste e de abuso de poder.

Entre outras alegações, a empresa diz que a gigante liderada por Tim Cook tem favorecido seus próprios produtos e serviços – o que seria ilegal. Diversas cartas já foram protocoladas junto à União Europeia para investigação.

Com essa novidade, as acusações da Tile e de outras empresas devem perder força e abrir caminho para o esperado lançamento da AirTags, pequenos devices de monitoramento da Apple, que vão competir diretamente com os produtos da startup no seu encalço e de outras rivais.

A vantagem da empresa da maçã nessa corrida é que, com mais desenvolvedores e parceiros em sua plataforma, será possível melhorar a funcionalidade de rastreamento de localização, uma vez que ter mais dispositivos aumenta a probabilidade de que o sinal emitido pelo aparelho perdido seja captado pela rede do serviço.

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