O desempenho da economia no 1º trimestre de 2023 será destaque na virada de maio para junho – período de agenda repleta de informações sobre política fiscal, crédito e mercado de trabalho, com anúncio do Caged e Pnad Contínua.
A combinação desses dados, que incluem abril e maio, indicará se a atividade entrou com o pé direito no 2º trimestre. E, embora o Produto Interno Bruto (PIB) do 1º trimestre seja retrato do passado, um resultado mais positivo será animador.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o PIB na quinta-feira, 1º de junho. E a expectativa é de consagração da agropecuária como chave-mestra da atividade de janeiro a março.
O Monitor do PIB, do FGV Ibre, e o IBC-Br, Índice de Atividade do Banco Central, anteciparam taxas de expansão no trimestre sobre o anterior, de 2,41% e 1,6%, respectivamente. Díspares por diferenças metodológicas de aferição, mas fortes.
A pujança do agronegócio – imperativa de janeiro a março e somada à resiliência do setor de serviços – potencializou as projeções para o PIB deste ano. Grandes bancos veem expansão entre 1,5% e 1,8%.
As variações são o dobro do esperado até recentemente e miram a estimativa de 1,9% para a expansão de 2023 apresentada pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, na terça-feira, 23 de maio.
Na Focus, com sua centena de contribuidores, o avanço das projeções é lento, mas firme também. Em janeiro, a pesquisa apontava alta de 0,78% para o PIB do ano. Na última edição, 19 de maio, a estimativa mediana alcançou 1,20%.
Ainda que bancos e consultorias considerem desaceleração da atividade à frente, um sentimento otimista emerge, inclusive, porque o início do corte de juros está cada vez mais próximo.
O IPCA-15 de maio, divulgado na quinta-feira, 25 de maio, subiu 0,51% no mês, ante 0,57% em abril. Em 12 meses, o indicador recuou de 4,16% para 4,07%. A desaceleração provocou queda generalizada dos juros em mercado.
Também conspira para percepção mais otimista de cenário, a aprovação da âncora fiscal na Câmara, na terça-feira, 23 de maio, e encaminhada ao Senado.
Âncora fiscal reduz riscos
O avanço das regras fiscais é visto como redução de riscos do ponto de vista do investidor, especialmente na economia real, e fonte de estímulo para que o governo atue em outras frentes – até porque ampliar a arrecadação não é escolha, mas necessidade para que o novo arcabouço fiscal funcione.
E, neste momento, uma das frentes que o governo abraça é a de incentivos à indústria que deve recuperar seu protagonismo, segundo o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, dedicado à discussão sobre uma nova política industrial.
Especialista em atividade, Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, que prevê expansão do PIB de 1,2% no 1º trimestre em relação ao 4º trimestre do ano passado e 2,9% em base interanual, calcula que a agropecuária avançou 8,3% no período, ante igual período de 2022.
Ele alerta, porém, para uma questão: ao longo do ano, o agronegócio manterá a força deste resultado? No 1º trimestre, lembra, o desempenho do setor foi coincidente com o escoamento da supersafra de soja.
“Se o agro seguir puxando a atividade para cima, as variáveis de ajuste a acompanhar são serviços e especialmente indústria, que se recente de um mundo e um país com demanda mais fraca”, pondera.
A possibilidade de o fôlego da agricultura ter refletido um movimento importante, mas pontual, fortalece a expectativa de que o governo, para além da retórica, dará particular atenção ao setor industrial daqui para frente.
Neste contexto, o clamor pela queda do juro e maior oferta de crédito tende a ficar mais agudo. E por um fator adicional. A atividade econômica mais forte, que o PIB do 1º trimestre deve confirmar, tende a reforçar a percepção do mercado de que o BC resistirá a baixar a guarda na vigília contra a inflação.
É fato que a inflação vem sofrendo “grande desaceleração”, como reconheceu o presidente do BC, Roberto Campos Neto, na segunda-feira, 22 de maio, em seminário sobre a autonomia da instituição, promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em parceria com o jornal Folha de S.Paulo.
Mas Campos Neto voltou a alertar para a expectativa de inflação “bastante persistente” em prazos mais longos, coladas em 4%, e para medidas de núcleo – que excluem preços mais voláteis – em torno de 7,5%.
O presidente do BC não indicou quando a Selic começará a cair e nem poderia ser diferente. Afinal, decisões sobre taxa de juro são colegiadas, tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que avalia indicadores econômicos e financeiros a cada reunião – ou a cada 45 dias.
Selic "só cai" em setembro
Entretanto, pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) com associados, publicada também na segunda-feira, revela que os bancos esperam corte da taxa básica a partir de setembro.
E a expectativa não é descabida, uma vez que as instituições acompanham com lupa a mobilização do Ministério da Fazenda e do próprio BC quanto à possibilidade de mudança no regime de metas.
A ideia, comentada com insistência por Haddad, é trocar a meta de base fixa em ano-calendário para meta contínua, a ser cumprida ao longo do tempo.
Decisão neste sentido poderá ser tomada na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) agendada para 29 de junho – praticamente uma semana depois da próxima reunião do Copom, marcada para 20 e 21 de junho. O encontro seguinte do colegiado será em 1 e 2 de agosto.
A expectativa quanto a uma definição sobre as metas ou o próprio regime tende a crescer nas próximas semanas, em função de suas implicações para a política monetária e, por tabela, para o crédito.
Vale, da MB Associados, em análise prospectiva alerta exatamente para o custo do crédito e as dificuldades pós-Americanas que impõem dúvidas para os setores da Indústria e Serviços até o fim do ano.
“O consumidor tem dado sinais de dificuldades de pagamento de suas dívidas, como se vê na alta da inadimplência desde o ano passado. Há chances de se ultrapassar os piores momentos da crise de 2015/2016 com o agravante de que a piora no emprego ainda deve vir junto com juros elevados até o segundo semestre”, avalia o economista.
“Com o consumidor emparedado em termos de renda e crédito, a demanda pelo básico se manterá e o varejo deverá enfrentar dificuldades até o fim do ano”, pondera o economista, para quem a Americanas não causou uma crise, mas ajudou a elevar a cautela nos bancos quanto à concessão de empréstimos.