A política atropela a economia neste início de maio, mas não deve impor prejuízo a um cenário positivo lentamente em construção.

Queda dos juros de longo prazo, câmbio menos volátil e atividade em expansão, por ora acima do esperado para o 1º trimestre, compõem um poderoso arsenal para o governo.

Essa coleção de indicadores colabora para a superação de recentes eventos políticos que ainda não deterioram expectativas – mas podem caminhar para isso se o governo não se agarrar à pauta econômica.

Conturbada pela discussão do Projeto de Lei das Fake News com votação suspensa na Câmara na terça-feira, 2 de maio, e a operação da Polícia Federal, de busca e apreensão na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro e a prisão de ex-colaboradores por suposta fraude em dados de vacinação contra a Covid-19, na quarta, 3 de maio, a arena política ofuscou um dado relevante.

Divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) também na quarta-feira, o Monitor do PIB avançou 2,5% em fevereiro ante o mês anterior. E o fôlego da agropecuária poderá levar a 3% a taxa de crescimento da economia no 1º trimestre de 2023 ante igual período do ano passado.

Esse dado corrobora o resultado do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) – visto como prévia do PIB – também de fevereiro, publicado dias antes, e que apontou expansão de 3,32% em relação a janeiro, pelo desempenho do agro e serviços.

O IBC-Br superou as expectativas e promoveu uma revisão maciça de estimativas para o PIB deste ano. A Focus aponta avanço de 1%, mas alguns grandes bancos já projetam o dobro.

O IBC-Br superou as expectativas e promoveu uma revisão maciça de estimativas para o PIB deste ano

O setor industrial segue na lanterna, confirma o Índice Gerente de Compras (PMI, na sigla em inglês), divulgado pela S&P Global na terça-feira, 2 de maio. De março para abril, o indicador caiu de 47,0 para 44,3 – o sexto mês de desaceleração.

Esse desempenho não surpreende empresas e tampouco o governo que já indicou que não poupará esforços para incentivar o setor.

A S&P Global apurou que empresas reduziram a produção devido à contração mais acentuada de novos negócios por adiamento das encomendas, redução do poder de compra das famílias e incerteza em torno das políticas públicas.

Este cenário setorial carece de informações positivas. E o Comitê de Política Monetária (Copom) não ajudou. Manteve a Selic em 13,75% na reunião encerrada na quarta, 3 de maio, e sem sinalizar tempos melhores.

Em seu comunicado, o Comitê insistiu em apontar como fator de risco altista para a inflação, incertezas “ainda presentes” quanto ao desenho final do arcabouço a ser aprovado no Congresso Nacional. “E de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública e da inflação e sobre os ativos de risco.”

O Copom também insistiu que “conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”. Mas aliviou a mão ao enfatizar que, “apesar de ser um cenário menos provável, não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

Ante o posicionamento do BC – imediatamente criticado no Twitter pela deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT – é razoável esperar mais pressão sobre Roberto Campos Neto que, a qualquer momento, terá à sua disposição dois novos diretores, escolhidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para ocupar quadros vagos na diretoria, por fim de mandato.

Mudança de fato relevante pode ocorrer, entretanto, na virada do ano, quando expiram mandatos de mais dois diretores. E um deles pode ser substituído por Gabriel Galípolo – secretário executivo da Fazenda, informou o Broadcast, na quinta-feira, 4 de maio.

Mudança de fato relevante pode ocorrer na virada do ano, quando expiram mandatos de mais dois diretores

Mas o calvário de Campos Neto vai prosseguir. E no curto prazo. Em 12 de maio, sexta-feira, o IBGE divulgará o IPCA de abril. A inflação oficial deve cair substancialmente, de 0,71% em março para 0,37%, na avaliação da LCA Consultores. Em 12 meses, o índice deverá recuar de 4,65% para 3,95%.

Confirmado o prognóstico, o índice será o mais baixo desde outubro de 2020. Na agenda internacional, na quarts, 10 de maio, serão conhecidas inflação ao consumidor do EUA, Alemanha e China.

Na “super quarta-feira”, 3 de maio, assim denominada pela coincidência de reuniões sobre juro no Brasil e EUA – o Federal Reserve (Fed) também não surpreendeu.

Elevou a taxa básica em 0,25 ponto percentual, para a banda de 5% a 5,25%, a maior em 16 anos. E o comunicado, seguido de entrevista de Jerome Powell, foi interpretado como sinal de pausa no ajuste monetário.

A “parada técnica” é aguardada porque – apesar da resiliência da economia americana e da inflação – persiste o temor de que o colapso dos regionais Silicon Valley, Signature e First Republic prenuncie uma crise bancária de maiores proporções.

O efeito macroeconômico de uma crise bancária ampliada é líquido e certo: retardaria a recuperação da atividade, levando grandes bancos a perdas consideráveis.

A preocupação com a atividade não é exclusividade norte-americana. Na Europa sentimento semelhante não cede. E o melhor exemplo vem da Alemanha que está estagnada. Da China também vêm alertas.

Não é coincidência, portanto, a queda expressiva do preço internacional do petróleo pode até beliscar o resultado trimestral da Petrobras

Não é coincidência, portanto, a queda expressiva do preço internacional do petróleo pode até beliscar o resultado trimestral da Petrobras, que sai em 11 de maio.

O petróleo, porém, não está sozinho no desaquecimento das commodities. E o Banco Mundial joga uma luz sobre a questão.

Embora avalie que as commodities continuarão elevadas neste ano, em relatório a instituição afirma que os preços, em geral, cairão 21% em 2023, ante 2022 – maior retração desde o início da pandemia.

O Banco Mundial alerta que o declínio das commodities deverá comprometer o crescimento de quase dois terços das economias em desenvolvimento dependentes de exportações.

Para alívio geral, sobretudo dos bancos centrais, o Banco Mundial reconhece um efeito positivo na reprecificação das mercadorias: o arrefecimento da inflação global. Uma questão de tempo.