O banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, não gosta de falar dos seus vinhos. Desde que entrou nesta aventura vitivinícola – primeiro comprou a italiana Argiano, em 2012, na região de Montalcino, na Toscana, e logo depois a Quinta da Romaneira, no Douro português –, Esteves se esquiva das entrevistas, palestras e degustações sobre o tema. Ele parece ser adepto da teoria de que os vinhos devem falar por si, revelar sua qualidade a cada gole.

Nesta busca de qualidade, o banqueiro inova ao investir na descoberta dos crus de Brunello, que podem ser definidos como aquelas parcelas especiais do vinhedo que dão origem aos melhores e mais complexos vinhos.

Assim como nem todo investimento é igual, Esteves vem descobrindo que as vinhas, mesmo que originárias de um mesmo clone, também têm as suas diferenças a partir do local em que estão plantadas e levam isso para seu fruto, a uva.

“É um trabalho de descobrir os melhores terroirs, aqueles que darão vinhos mais complexos, e vinificá-los separadamente”, explica o italiano Riccardo Bogi, embaixador da Argiano, em sua primeira visita ao Brasil. E completa. “Agora precisamos de tempo para acompanhar a evolução destes vinhos.”

A procura pelos melhores vinhedos começou ainda em 2013, logo depois que Esteves comprou a Argiano, uma villa italiana da época do renascimento, rodeada de vinhedos e olivais, em Montalcino. Na época, soube-se que a então proprietária, a condessa Noemi Marone Cinzano, ofereceu a Argiano para outros empresários, inclusive brasileiros. Um deles chegou a estudar a propriedade, mas achou que ela dificilmente seria rentável.

Esteves viu ali uma oportunidade de entrar no negócio do vinho e também de passar alguns dias de férias em uma autêntica villa italiana

Esteves viu ali uma oportunidade de entrar no negócio do vinho e também de passar alguns dias de férias em uma autêntica villa italiana – atualmente, a propriedade construída pela família Pecci, de Siena, entre 1581 e 1596, está sendo reformada.

Logo no início, o banqueiro contratou o italiano Alberto Antonini como enólogo consultor da Argiano, em substituição à Hans Vinding-Diers, que era de confiança da condessa Cinzano.

Italiano da Toscana, Antonini ganhou fama como enólogo-chefe da Antinori e atualmente trabalha com consultor em vinícolas na Argentina, no Chile, em Portugal e nos Estados Unidos, entre outros países.

André Esteves, do BTG Pactual, é dono das vinícolas italiana Argiano e da portuguesa Quinta da Romaneira

Com a chegada de Antonini, Esteves começou a desenvolver um trabalho de identificação dos vinhedos da Argiano com o chileno Pedro Parra, um dos maiores especialistas em terroir da atualidade.

Com o sugestivo sobrenome de Parra, o especialista não apenas entende muito de solo e subsolo (as raízes e seu relacionamento com o tipo de solo têm reflexos importantes na qualidade e complexidade da uva) e a relação de cada tipo de terreno – solos calcáreos, argilosos, arenosos etc. - com as variedades plantadas.

Neste trabalho, são feitos análise da composição do solo, de eletrocondutividade e diversos buracos – chamados de calicatas – de até 3 metros de profundidade são escavados para entender o comportamento das raízes das vinhas.

O primeiro cru de sangiovese será o Brunello Vigna del Suolo, com primeira safra de 2015. O tinto ainda amadurece nas garrafas na adega da vinícola. Por coincidência, este sangiovese é o vinhedo mais antigo da Argiano, plantado na década de 1960.

O primeiro cru de sangiovese será o Brunello Vigna del Suolo, com primeira safra de 2015. O tinto ainda amadurece nas garrafas na adega da vinícola

Ao todo, Parra identificou seis crus de sangiovese em toda a propriedade. Ainda não é certo que todos estes crus resultarão em vinhos únicos. Afinal, são estas uvas que dão complexidade aos Brunello e Brunello Riserva da vinícola, que no Brasil são importados pela Inovini.

Dos 125 hectares da propriedade, 40 hectares são cultivados com a sangiovese, variedade originária da região. Há também sete hectares de cabernet sauvignon, quatro hectares de merlot e quatro hectares de petit verdot, estas todas variedades bordalesas, que são utilizadas em rótulos ícones como o supertoscano Solengo. Este rótulo, aliás, merece um capítulo a parte: é elaborado com a sangiovese e as variedades francesas e criado por Giacomo Tachis (1933 a 2016), enólogo referência na Itália. Na propriedade há, ainda, 10 hectares de olivais.

Um Brunello di Montalcino, da italiana Argiano

Com menos de 60 hectares de vinhedos – os últimos 5 hectares foram plantados já pelo novo proprietário –, Esteves preserva a biodiversidade desta villa italiana, filosofia tão cara aos vinhos atuais.

“Também estamos elaborando vinhos com o uso de leveduras nativas, sempre que as condições da safra permitem”, conta o embaixador Bogi. Estas leveduras, ao contrário das selecionadas, seguem pelo caminho de maior identidade dos vinhos e de menor intervenção.

A vinícola converteu os seus vinhedos ao cultivo orgânico e ecológico em 2013. Outra inovação é que, desde 2019, a Argiano é a primeira vinícola livre de plástico em Montalcino.

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