No auge da pandemia, a JHSF experimentou uma sensação, no mínimo, dicotômica. Enquanto seus shoppings como o Cidade Jardim eram temporariamente fechados e os hotéis e restaurantes como o Fasano eram esvaziados por conta das restrições sanitárias, o seu braço de incorporação crescia numa velocidade nunca antes vista pelo grupo.

Foi assim até o segundo trimestre deste ano. Neste terceiro trimestre, os ventos mudaram. E para melhor. O negócio de incorporação, sobretudo o complexo Boa Vista, no interior de São Paulo, continua crescendo a reboque de uma mudança de comportamento do público de alta renda, que viu a necessidade de encontrar "refúgios" fora dos grandes centros.

A novidade, agora, é que o segmento de hotelaria e gastronomia voltou com tudo e deixou de comer caixa. Ou seja: a JHSF começou a ganhar dos dois lados - tanto com o público que busca um "lugar para chamar de seu" como com as pessoas que estão cansadas de ficar em casa e, com o avanço da vacinação contra a Covid-19, passaram a frequentar seus estabelecimentos.

No balanço, publicado na quinta-feira, dia 4 de novembro, isso fica ainda mais evidente. De julho a setembro, a receita líquida somou R$ 331,4 milhões, alta de 14,3% em relação a igual intervalo de 2020 e uma expansão ainda maior, de 265,7%, sobre o terceiro trimestre de 2019, antes da crise. O Ebitda ajustado, com isso, cresceu mais de cinco vezes em dois anos, saltando de R$ 43,5 milhões no terceiro trimestre de 2019 para R$ 228,6 milhões em 2021.

A maior parte desse êxito se deve ao Complexo Boa Vista, de empreendimentos de luxo, em Porto Feliz, no interior de São Paulo. Um deles, o Boa Vista Village, foi responsável por mais da metade das vendas do terceiro trimestre, com R$ 184,5 milhões, de um total de R$ 333,7 milhões em faturamento bruto. E a JHSF quer mais.

No terceiro trimestre, a companhia fez quatro novos movimentos de expansão. Um deles foi um investimento de R$ 55 milhões para comprar novos terrenos e ampliar o Village. A expectativa é que os imóveis a serem construídos gerem vendas de R$ 400 milhões. “Parece uma boa taxa de retorno que será gerada aos acionistas no futuro”, afirmou o CEO da companhia, Thiago Alonso de Oliveira, em teleconferência com analistas, nesta sexta-feira, dia 5.

Além disso, a JHSF investiu R$ 65 milhões, no mesmo período, para a construção de novas casas no complexo, para locação. Os imóveis já são avaliados em R$ 265 milhões, ou quatro vezes mais. Também foram aplicados R$ 140 milhões na aquisição de mais 6 milhões de metros quadrados para o complexo, que devem resultar em R$ 7 bilhões em vendas, estima a empresa.

Por último, a companhia antecipou para o terceiro trimestre a quitação do que faltava pagar por um terreno, na cidade de São Paulo, que custou R$ 150 milhões. Ele seria pago no terceiro trimestre do ano que vem e o valor restante estava indexado à inflação medida pelo IPCA. No entanto, com os preços subindo, a empresa preferiu pagar antes e ainda descolou um desconto de 10% em relação ao que faltava.

“Esse terreno é para o projeto no Real Parque (bairro de São Paulo) e tem estimativa de R$ 1,5 bilhão em valor geral de vendas, e também para um shopping de mil metros quadrados”, afirmou. Oliveira destacou ainda que, ao longo de 2021, a carteira de contas a receber da JHSF cresceu R$ 540 milhões, com todos os recursos indexados a algum dos principais índices de inflação: IPCA, INPC e IGP-M. "Do total da nossa carteira, de quase R$ 1,2 bilhão, cerca de R$ 700 milhões são para receber em 365 dias", ele enfatizou.

Além da expectativa de ter um caixa turbinado em incorporações no médio prazo, a JHSF também voltou a lucrar com os negócios de hotelaria, que soma oito unidades do Hotel Fasano (seis no Brasil, um em Nova York e um no Uruguai), e gastronomia, que tem 26 restaurantes, a maioria no Rio e em São Paulo, que inclui as redes do Gero e do Baretto, e três no Uruguai.

O Ebitda ajustado das duas áreas somadas, as únicas que estavam no vermelho, ficou positivo em R$ 16,4 milhões no terceiro trimestre, revertendo resultado negativo de R$ 7,1 milhões em igual trimestre do ano passado.

Já supera, inclusive, o resultado de igual período de 2019, antes da pandemia, que ficou positivo em R$ 8 milhões. O varejo, que inclui shoppings e os canais digitais de vendas, voltou a subir. O Ebitda ajustado, que havia ficado positivo em R$ 7,8 milhões no terceiro trimestre do ano passado, ante R$ 20,4 milhões em igual período de 2019, saltou para R$ 28,8 milhões no intervalo de julho a setembro de 2021.

O Aeroporto Internacional Catarina, para voos executivos, também está em expansão. A receita líquida cresceu 53,3% no terceiro trimestre, para R$ 9,6 milhões, enquanto o Ebitda ajustado teve avanço de 11,6%, para R$ 1,9 milhão.

Segundo Oliveira, há planos para ampliar o negócio, dos atuais cinco hangares para 11, na segunda fase de expansão da capacidade. O objetivo, ele disse, é que o aeroporto tenha 250 aeronaves baseadas.

Como são áreas de margem reduzida (hotelaria, gastronomia e aeroporto) em comparação ao negócio de incorporação, a expansão delas acabou resultando em uma margem menor para a companhia como um todo. O indicador caiu para 65,6% no terceiro trimestre, de 74,5% um ano antes.

Mas o importante, disse Oliveira, é que o lucro bruto, conhecido como o resultado nominal, teve expansão, de 18,9%, para R$ 312,4 milhões. "E todo mundo vive do resultado nominal", afirmou.