Nove meses após demitir seu então CEO, Steve Easterbrook, com um pacote de indenizações e benefícios de quase US$ 42 milhões, o McDonald's está processando seu ex-executivo sob acusações de mentira, ocultação de provas e fraude.

A "novela" entre Easterbrook e McDonald's começou em novembro do ano passado, quando veio à tona informações de que o executivo mantinha relações sexuais com uma das funcionárias da rede de fast-food.

Embora o relacionamento tenha sido consensual, a política da companhia impede que pessoas em cargos de liderança nutram laços afetivos ou sexuais com subordinados diretos ou indiretos.

Na época, Easterbrook encaminhou um e-mail para todos os funcionários do grupo assumindo seu erro. Como "recompensa", ele foi demitido sem justa causa, o que lhe garantiu acesso a uma indenização e a benefícios generosos.

Mas uma denúncia anônima no mês passado voltou a "esquentar a chapa" do executivo: quando era CEO, Easterbrook teria se relacionado com outras funcionárias, algo que o empresário havia negado durante as primeiras investigações.

Nesta segunda-feira, 10 de agosto, o McDonald's deu entrada no processo contra seu ex-CEO por manter relações sexuais com três colaboradoras, sendo que a uma delas Easterbrook cedeu um lote lucrativo de ações. 

Nos documentos protocolados pela companhia há provas de que o executivo teria usado seu e-mail corporativo para encaminhar fotos das três funcionárias nuas ou seminuas a outras contas pessoais. Easterbrook tentou deletar as mensagens de seu celular, mas elas continuavam no servidor da empresa.  

"Nossas evidências consistem em dezenas de fotografias com nudez total, parcial e explícita, além de vídeos de várias mulheres, inclusive das três funcionárias da empresa. Os arquivos foram enviados em anexo do e-mail profissional para o e-mail pessoal de Easterbrook", alega o McDonald's no processo ao qual o The New York Times teve acesso, detalhando ainda que as mensagens datam do fim de 2018 ao começo de 2019. 

Os advogados do executivo não se pronunciaram ou elaboraram um comunicado público. Enquanto isso, a rede de fast-food alega que suas provas sustentam as acusações de fraude e mentira. Quanto à tentativa de apagar os e-mails, Easterbrook vai ser julgado por ocultação de prova. 

Ascensão e a queda 

Formado em ciências naturais pela Universidade de Durham, na Inglaterra, Easterbrook começou sua carreira como contador na consultoria PricewaterhouseCoopers. 

Foi em 1993 que o inglês entrou para o grupo McDonald's, como gerente financeiro do escritório de Londres. Por 18 meses, Easterbrook passou pela "Universidade do Hambúrguer", como é chamado o centro de treinamento do McDonald's, em Chicago. 

O executivo, então, passou a subir a famosa "escada corporativa", ascendendo a diferentes posições nas áreas financeiras e de operação. Até que, em 2001, chegou ao cargo de vice-presidente na região sul do Reino Unido. Cinco anos depois, todo o território do Reino Unido, que conta com 1,2 mil restaurantes, estava sob seu comando. 

A confiança da rede, na época, se provou acertada. A Easterbrook é creditado o sucesso de revitalizar o negócio do McDonald's na área, que passou a focar no treinamento da equipe, na incorporação de itens saudáveis ao menu e no redesign das lanchonetes. 

Foi também nesta época que Easterbrook teve seu primeiro relacionamento "suspeito". O executivo namorou por dois anos a responsável pela conta do McDonald's de uma empresa de relações públicas terceirizada. 

As notícias de contato íntimo vieram a público em 2015, mas a empresa disse que o caso não violava sua política porque a funcionária não estava ligada ao grupo. Ainda assim, a namorada de Easterbrook foi remanejada para atender outra conta.

O inglês chegou à posição de CEO em 2015. Na época, o McDonald's passava por desafios financeiros enquanto suas vendas pareciam estacionadas.

Profundo conhecedor da companhia e do mercado de fast-food, Eastebrook deu início a sua pequena grande revolução, trazendo tecnologia aos restaurantes da marca.

Foi sob seu comando que as lanchonetes incorporaram telas touchscreen, pedidos online, delivery e a bem-sucedida extensão do menu de café-da-manhã, que seria válido para todos os horários.

Essas mudanças quase dobraram o valor dos papéis da empresa. Quando assumiu o comando global do McDonald's, as ações eram negociadas a US$ 95. Ao ser demitido, elas valiam um pouco mais de US$ 195, um salto de 105%. 

Mas não há bom resultado em Wall Street que sustente acusações tão graves de má-conduta. Outros executivos também caíram pelo mesmo motivo.

Brian Krzanich deixou o comando Intel acusado de assédio sexual em 2018. Pelo mesmo motivo, o chairman e CEO da Fox News, Roger Ailes, perdeu seu cargo em 2016. Seis anos antes, Max Hurd foi mandado embora da HP por manter relações sexuais com uma funcionária. 

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