Em 2017, a Positivo substituiu o “sobrenome” Informática, que acompanhava a empresa desde a sua fundação, em 1989, pela palavra Tecnologia. Longe de ser um mero detalhe, a mudança simbolizava o plano da fabricante de ir além dos computadores, diante da desaceleração nas vendas da categoria.

Quatro anos depois, a companhia brasileira começa a colher resultados mais consistentes dessa busca por diversificação. E entende que o cenário é favorável para dar mais velocidade às estratégias desenhadas para o que batizou como novas avenidas de crescimento.

“O ano passado foi a sedimentação do trabalho que fizemos nesses últimos anos”, diz Hélio Rotenberg, em entrevista ao NeoFeed. “Hoje, esses novos negócios já representam 19% da nossa receita bruta e a tendência é que eles ganhem cada vez mais representatividade.”

Primeira área lançada sob esse posicionamento, a oferta de máquinas de pagamento é um exemplo de como a Positivo está expandindo seus limites. A oferta, que também inclui serviços de manutenção, estava atrelada, até então, a um contrato de exclusividade com a Cielo.

Agora, com o fim desse compromisso, a Positivo terá pista livre para buscar outros clientes para esse portfólio, além de incluir mais serviços nesse pacote. Entre eles, soluções ligadas a sistemas de frente de caixa, conectividade e gestão completa dos equipamentos.

Há novidades também nas ofertas no espaço de internet das coisas, que reúnem produtos no segmento de casa inteligente e registraram um crescimento de 1.485% na base de usuários únicos em 2020, para cerca de 250 mil consumidores.

Além de ampliar esse portfólio, com produtos como fechadura eletrônica e novas opções de câmeras e iluminação, a Positivo está investindo em novas configurações e especificações para começar a testar a aderência desses itens na área de escritórios inteligentes.

Ainda nessa área, a empresa está aumentando os pontos de comercialização, antes mais restritos ao varejo virtual. Outra estratégia recente é a busca de parcerias com construtoras para a adoção desses produtos em seus empreendimento. Já existem acordos fechados com MRV, Hupi e Tecverde.

Outro segmento com boas perspectivas é o de servidores, criado a partir da aquisição da Accept, em 2019, e cuja receita cresceu 29% em 2020, para R$ 283 milhões. “Além do aumento exponencial no tráfego de dados, temas como o 5G e as nuvens híbridas estão abrindo novos mercados para essas ofertas”, diz Rotenberg.

A expectativa de receitas adicionais já em 2021 também passa pelas urnas eletrônicas. No ano passado, a Positivo ganhou a licitação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a renovação do parque desses equipamentos. O contrato de R$ 800 milhões prevê a entrega de 180 mil dispositivos.

“Nesse ano, vamos consolidar todas essas avenidas antes de entrar em novos negócios”, afirma Rotenberg. “Mas, mesmo nesses mercados, temos alternativas para explorar outros modelos e fontes de receita.”

Uma das possibilidades é a divisão de HaaS (Hardware as a Service), que hoje trabalha unicamente com a locação de notebooks, tablets, celulares e servidores da própria Positivo. A empresa não descarta incluir mais equipamentos, de outros fabricantes, nesse portfólio.

Ao mesmo tempo, a Positivo vai ampliar o montante disponível para aquisições de startups por meio de seu veículo de corporate venture, que hoje conta com 11 investidas: Hilab, AgroSmart, @Tech, Hitech Electric, EuNerd, PharmaLog, BG, Ambar, Rina, Eleva e Observatório.

“Vamos investir em torno de R$ 30 milhões nesse ano”, afirma. Em 2020, a cifra destinada a esses acordos foi de R$ 11 milhões. Ele ressalta que o fundo já assinou cheques de R$ 10 mil a R$ 10 milhões. “O mais importante é que a startup tenha sinergia com o nosso negócio.”

A Positivo também enxerga um cenário favorável em seus negócios tradicionais. Especialmente, a reboque dos fatores que impulsionaram as vendas em 2020. E que, segundo Rotenberg, seguirão alimentando a demanda além do curto prazo, como o trabalho híbrido, o ensino a distância, a telemedicina e outros exemplos da digitalização acelerada a partir da Covid-19.

“Não se trata de uma questão pontual. Todos esses conceitos vieram para ficar”, afirma o empresário. “O computador voltou a ser pessoal. E deixou de ser um bem desejado para se tornar essencial.”

Além das ofertas destinadas aos consumidores, Rotenberg aponta boas oportunidades com a necessidade de renovação do parque de equipamentos no segmento corporativo e na área pública, demandas que ficaram reprimidas em 2020 e que, agora, começam a se refletir, por exemplo, no aumento do volume de licitações por parte de secretarias estaduais de educação.

O único senão destacado pelo empresário é o risco de desabastecimento, devido ao aumento exponencial da demanda em todo o mundo, que começa a se refletir na falta e no aumento dos preços dos componentes.

“Mas acredito que isso acontecerá por um curto período, até que as capacidades de produção sejam ampliadas”, afirma. Ele acrescenta que, dado esse cenário, a expectativa é de um aumento no preço dos equipamentos da ordem de 15% a 20% em 2021.

Resultado

No quarto trimestre, a Positivo registrou um lucro líquido de R$ 149,7 milhões, um salto de 2.716,6% sobre igual período de 2019. Já no resultado consolidado do ano, o avanço foi de 839,4%, para R$ 195,8 milhões.

A companhia destacou que a última linha do balanço foi impactada positivamente em R$ 139 milhões, devido a créditos tributários e não recorrentes. Excluindo-se esses efeitos, o lucro líquido apurado no ano foi de R$ 57 milhões, alta de 174% sobre o número reportado em 2019.

Já a receita líquida reportada foi de R$ 886,5 milhões entre outubro e dezembro, 59,4% superior ao montante divulgado um ano antes. Em 2020, a receita líquida ficou em R$ 2,19 bilhões, um crescimento de 14,5%.

Avaliada em R$ 748,3 milhões, a Positivo fechou o pregão desta terça-feira com alta de 7,68% em suas ações, cotadas a R$ 5,33. Em 2021, os papéis da companhia acumulam uma valorização de 4,5%.