No fim de março, quando boa parte do comércio já estava fechado nas principais grandes cidades brasileiras por conta da pandemia da Covid-19, o empresário Hélio Rotenberg, presidente da Positivo Tecnologia, mandou parar as importações de componentes para produção de computadores, pois não sabia a dimensão da crise.

Dois meses depois, a ordem mudou. “Agora, a gente fala embarca, embarca, embarca”, disse Rotenberg ao NeoFeed. “A demanda está muito maior do que imaginávamos. O problema hoje é de oferta.”

Com a fábrica de Manaus (AM) e de Ilhéus (BA) abertas, a Positivo corre para dar conta da demanda de notebooks para o varejo. De acordo com Rotenberg, as vendas de maio foram aproximadamente 45% maiores do que o mesmo mês do ano passado.

“Nas vendas para o varejo, batemos todos os recordes dos últimos cinco anos”, afirma Rotenberg. Em junho, segundo ele, a demanda segue alta, aproximadamente no mesmo patamar de maio.

A Positivo não abre dados mês a mês por ser uma companhia aberta. Mas, para efeito de comparação, a empresa vendeu 126 mil computadores varejo no segundo trimestre de 2019. A imensa maioria dessas máquinas era de notebooks.

Agora, no meio da pandemia, a expectativa era de uma retração por conta das lojas físicas fechadas, o principal canal de vendas da Positivo. Mas não foi o que acabou acontecendo no caso dos notebooks

A explicação de Rotenberg para essa demanda surpreendente em 2020 é simples: o alto número de pessoas em home office e a grande quantidade de estudantes em aulas remotas. Esse comportamento levou uma grande quantidade de consumidores, e até mesmo de empresas, a sites de comércio eletrônico em busca de um notebook.

O empresário cita o seu próprio exemplo. Antes da pandemia, ele tinha apenas um computador em casa, que era compartilhado com todas as pessoas da família. Agora, são cinco: dois para ele, dois para suas filhas e um para sua esposa.

A pergunta que Rotenberg ainda não sabe responder é se essa demanda vai prosseguir nos próximos meses ou se cairá, passado esse primeiro momento de corrida aos sites de e-commerce de varejistas em busca de um equipamento por conta da pandemia.

Antes de sentir os efeitos econômicos da Covid-19, as vendas de notebooks representaram 41,8% da receita da Positivo no primeiro trimestre de 2020. Neste período, o faturamento geral da companhia foi de R$ 378,6 milhões, uma alta de 8,9% em comparação ao mesmo período do ano passado.

“Nesse trimestre, sofremos mais com o efeito cambial do que com a paralisação das atividades, que aconteceu na última quinzena de março”, afirma Rotenberg.

Apesar desse bom desempenho do varejo, as vendas de notebooks não devem compensar a queda em outras áreas, em especial para pequenas empresas e para o governo. “No caso de grandes empresas, há setores ativos e outros parados”, afirma Rotenberg. As vendas de smartphones, outra importante linha de receita da Positivo, também está com vendas menores.

“No cômputo geral, as vendas estão um pouco abaixo do que tínhamos planejado. Mas estamos trabalhando muito para fechar no zero a zero”, afirma o presidente da Positivo Tecnologia.

Apesar disso, Rotenberg se diz animado com o resultado até agora, pois, em sua visão, muitas empresas estão sofrendo muito mais do que a Positivo. “Acho até que a gente vai passar bem por essa crise”, afirma ele.

Mercado em queda

A previsão da IT Data, consultoria que analisa o mercado de tecnologia, é de que o mercado de computadores brasileiros terá uma queda de 15% em número de unidades em 2020, com a venda de 5,5 milhões de PCs, dado que inclui desktops e notebooks.

As vendas de computadores devem ter queda de 15% em 2020, com venda de 5,5 milhões de unidades, segundo estimativa da IT Data

Mas os dados precisam ser analisados por segmentos. Segundo a consultoria, as vendas de notebooks vão crescer. Por outro lado, as de desktops terão forte queda em 2020. Governos e empresas também vão comprar menos.

O que vai segurar as vendas de computadores será o varejo online. Antes da pandemia, de cada três computadores vendidos no varejo, apenas um era online. “Hoje, 80% das vendas de PCs são online”, diz Ivair Rodrigues, diretor de pesquisas da IT Data.

Além disso, a base instalada de computadores do mercado brasileiro tem uma idade média de seis anos. “Quando as pessoas foram trabalhar ou tiveram que ceder os equipamentos para seus filhos estudarem em casa descobriram que seus equipamentos não serviam mais”, afirma Rodrigues.

Isso levou muitas pessoas correrem para comprar notebooks. Muitas empresas também optaram por adquirir novas máquinas para seus funcionários trabalharem remotamente. “Isso tudo fez a venda online de computadores no varejo disparar”, diz Rodrigues.

Esse movimento acabou gerando um efeito curioso. Dez de cada dez analistas de mercado concordavam que o computador caminhava parar ser um item obsoleto nas casas, tornando-se um equipamento de nicho, especialmente para uso corporativo.

Nesse sentido, o computador já estava sendo substituído por smartphones e smartTVs nas casas dos brasileiros. Agora, no meio da pandemia, o bom e velho notebook parece que está sendo redescoberto.

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