Quem nunca guardou moedinhas não imagina o montante de dinheiro que podemos acumular "juntando", num período de meses ou anos, os trocados de compras concluídas com notas em espécie. O amplo uso de cartões de crédito e débito, porém, tem relegado à desnutrição "porquinhos" mundo afora, uma luta que pode ser vencida com a mesma arma – a tecnologia.

Fundada em 2012, a Acorns é uma startup que permite "arredondar" transações para investir os centavos excedentes. Depois de baixar o aplicativo, preencher um rápido cadastro, linkar sua conta bancária e cadastrar os cartões de crédito e débito que desejar, o usuário é avisado, a cada compra, da possibilidade de separar uns centavos para investir.

Digamos, por exemplo, que uma compra em um supermercado tenha dado R$ 12,30, e você paga usando um cartão de crédito previamente cadastrado no aplicativo. O sistema automaticamente vai perguntar se você deseja pagar R$ 13 por essa mesma compra e usar os R$ 0,70 a mais para investir em ações.

Pode parecer pouco, mas de centavo em centavo, chega-se à casa das centenas. De milhares. Ou, no caso da Acorns, aos bilhões. Em uma entrevista recente, o CEO Noah Kerner disse que, até 2018, usuários americanos investiram US$ 1 bilhão com a “ajudinha” do aplicativo.

Além de aplicar os trocados, o aplicativo permite que os usuários configurem depósitos recorrentes, que começam em US$ 5 dólares por semana. Todo o dinheiro é aplicado em ações que são definidas em conjunto com o usuário, que fornece ao aplicativo informações como idade, prazo de retirada do dinheiro, salário, objetivo (aposentadoria, férias, compras e etc.) e tolerância a investimentos de riscos.

A cada opção assinalada, o aplicativo afunila as melhores escolhas, que já foram previamente selecionadas e "catalogadas" por ninguém menos que Harry Markowitz, economista ganhador do prêmio Nobel em 1990.

Tela do aplicativo Acorns

Disponível para Android e iPhone, o aplicativo da Acorns pode ser baixado gratuitamente, mas o serviço é pago. Ao optar pelo Acorns Core, o plano mais básico, o usuário desembolsa US$ 1 ao mês e conta apenas com a ferramenta de "arredondamento" de compras.

No Acorns Core + Acorns Later, pensado para a aposentadoria, o usuário gasta US$ 2 por mês e, além do serviço oferecido no básico, ainda tem acesso a planos para abater os investimentos do imposto de renda.

Já no Acorns Core + Acorns Later + Acorns Spend, que custa US$ 3/mês, a todos os demais benefícios se junta uma conta bancária e cartão de débito sem nenhuma taxa, que arredonda as contas em tempo real, imediatamente.

Em qualquer uma das hipóteses, a Acorns ainda cobra 0,25% ao ano sobre o saldo das contas superiores a US$ 5 mil.

Com mais de 4 milhões de usuários nos Estados Unidos, a companhia pretende chegar aos 100 milhões de usuários ativos.

Embora a meta seja ambiciosa, o caminho é facilitado pelo montante arrecadado nas dez rodadas de investimento. Atualmente na Série E, a Acorns já levantou US$ 207 milhões de grandes empresas, como Bain Capital Ventures, Comcast Ventures e NBCUniversal. Na última captação, em janeiro deste ano, levantou US$ 105 milhões.

A companhia está perto de se tornar um unicórnio, jargão usado para se referir as empresas que valem mais de US$ 1 bilhão. Seu valor foi estimado em US$ 800 milhões.

Ainda que boa parte de seus usuários sejam novatos na área de investimento, alguns são experientes, como Jim Rose, de 63 anos, morador do Tennessee. "Tenho gostado muito do serviço da Acorns, mas não conto apenas com essa alternativa de investimento. Comecei em janeiro e, só de integrar o valor total das compras, juntei US$ 250. Eu encaro o serviço como uma poupança com benefícios, e acho que é uma ótima alternativa a quem não tem educação financeira", disse Rose ao NeoFeed.

Os fundadores da Acorns, Jeff e Walter Cruttenden (à dir.)

Foi para esse perfil de investidor, aliás, que a Acorns foi criada. Filho de um investidor, Walter Cruttenden, Jeff cursava matemática na faculdade Clark College, em Portland, no Oregon, quando percebeu que nem todo mundo a sua volta contava com a mesma experiência, ainda que estivessem interessados no assunto.

"Meus colegas de faculdade eram super curiosos em relação a ações e investimentos, mas nunca conseguiam agir de forma prática por conta das taxas e outros requerimentos mínimos", contou Jeff, ao site Money Under 30. "A partir daquele momento, eu e meu pai pensamos que deveria haver um jeito de facilitar as coisas e criar uma forma realista para pessoas jovens e sem muita grana começarem nesta área."

Tosin Thomas, de 37 anos, entrou faz algumas semanas para a "comunidade" da Acorns, e ainda está tateando o ambiente. Por isso, pergunta sem medo aos quase mil usuários da página do Facebook dedicada a falar sobre o assunto as principais dúvidas que tem. Uma delas é sobre a melhor forma de rentabilizar usando o aplicativo. Seus colegas respondem com o que tem funcionado pra si: uns dizem que contam apenas com os arredondamentos e outros preferem dedicar pelo menos US$ 5 por dia ao sistema. No final das contas, todos concordam com a obviedade – quanto mais se investe, mais retorno se tem.

O problema, na maioria dos casos, está com a saída. Diversos usuários relataram problemas para retirar seu dinheiro do sistema, que pede duas semanas de prazo. "Acho quinze dias muita coisa, porque outros sistemas como Etrades conseguem fazer o procedimento em 5 ou 6 dias, no máximo. Queria entender o porque dessa demora toda", lamenta Adam Smith, de 52 anos. Ele, que trabalha como motorista de Uber, precisou do dinheiro que tinha na Acorns com urgência para honrar uma dívida inesperada, mas atrasou o pagamento por conta da demora da empresa.

Há também relatos de atrasos na entrega do cartão de crédito e outros que lamentam o baixo retorno de seus investimentos. Como acontece com qualquer startup, a Acorns não está blindada a críticas e falhas, mas, até agora, foi a primeira desta revolução digital a tornar o porquinho, senão obsoleto, pelo menos mais magro.

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