Há pouco mais de um ano, quando a pandemia ainda afligia a economia e prejudicava especialmente as montadoras, a Movida decidiu que o momento conturbado era o ideal para renovar sua frota.
Para ganhar escala e ter uma maior oferta de veículos de maior valor agregado, de olho num aumento da receita por unidade e também para fazer frente ao endurecimento da competição, a companhia foi às compras. Em uma sequência dessa estratégia, no segundo trimestre de 2022, a frota da locadora de veículos do grupo Simpar totalizou 207 mil carros novos, alta de 54% em relação ao mesmo período de 2021.
Agora, sob a constatação de que a frota atingiu tamanho e o perfil considerado ideal, a Movida entende que chegou o momento de focar no segundo objetivo de seu plano estratégico: tornar-se o maior gerador de valor da indústria de locação de veículos no longo prazo.
“A gente atingiu uma escala que precisava ser atingida, então não precisa crescer mais do que cresceu”, diz Renato Franklin, CEO da Movida, ao NeoFeed. “Agora, o foco é eficiência operacional para crescer de forma sustentável, tendo como princípio básico a geração de valor.”
Uma das áreas em que a Movida pretende investir esforços é na digitalização da jornada do cliente. Atualmente, cerca de 65% das transações da companhia são feitas por canais diretos e online. Segundo Franklin, a ideia é expandir esse patamar, sem especificar uma meta.
Outro ponto a ser aprimorado são as ferramentas de precificação, que já ajudam a obter uma maior receita por carro. Franklin destaca que a companhia está bem posicionada nessa frente e cita que, graças a esses mecanismos, a área de aluguel de veículos conseguiu registrar, pela primeira vez na história, uma evolução de receita média por carro entre o primeiro e o segundo trimestre, período de baixa sazonalidade, para R$ 2.973 mensais, alta de 1%.
“Desde a abertura de capital [em fevereiro de 2017], falamos que os benchmarks de eficiência dessa indústria ainda serão escritos”, afirma Franklin. “No próximo ciclo, vamos buscar aperfeiçoar com tecnologia processos operacionais, que vão levar a eficiência da indústria para mais um passo, alavancando o retorno sobre o capital investido no médio prazo.”
Ainda que coloque ênfase em tecnologia, Franklin afirma que a frota atual também será um fator que ajudará a alcançar a meta ambiciosa. Com 207 mil veículos, a frota da Movida ainda é menor que a registrada pela Localiza, líder de mercado, no primeiro trimestre. Sem considerar a Unidas, cuja incorporação foi liberada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em junho, a Localiza tinha um total de 273,6 mil carros.
No mesmo período, a Unidas tinha 116,1 mil veículos em sua frota. No acordo firmado com o Cade para se unir à Localiza, a empresa se comprometeu a vender 49 mil carros dessa base. O pacote acabou adquirido pela Ouro Verde, controlada pelo fundo canadense Brookfield, por R$ 3,5 bilhões.
Para Franklin, apesar de a frota ser menor que a registrada pela dupla, a Movida foi assertiva em suas compras, renovando a idade dos veículos e adicionando uma quantidade maior de veículos SUV, o que resulta em demanda elevada e bons tickets de aluguel. “Temos escala que nos permite competir com qualquer um e volume suficiente para comprar carro. E com os veículos novos, temos um custo por carro bastante eficiente”, diz.
Os primeiros resultados dessa estratégia apareceram nos resultados do segundo trimestre. A receita líquida da Movida cresceu 90,5%, para R$ 2,3 bilhões. Em aluguel de automóveis e gestão de frotas, as áreas mais beneficiadas pela nova frota, a receita mensal por carro cresceu 46,2% e 30,2% ante o segundo trimestre do ano passado, respectivamente.
Combinado com o maior volume já registrado em vendas por seminovos, o Ebitda da Movida acabou crescendo 2,3 vezes, para R$ 905,3 milhões.
Apesar do impulso operacional, a nova frota também resultou num aumento das despesas com depreciação da Movida no segundo trimestre. Na parte de aluguel de carros, os custos subiram 72,2%, para R$ 247,9 milhões, enquanto em gestão de frotas, os custos avançaram 154,2%, para R$ 173,6 milhões.
Esse ponto foi destacado pelos analistas do Santander em relatório sobre a temporada de balanços. Para eles, a depreciação seria um dos fatores a fazer com que o lucro crescesse menos no segundo trimestre, junto com o aumento das despesas financeiras. O banco projetou um avanço de 12%, para R$ 195 milhões. No fim, a última linha do balanço cresceu 7,4%, a R$ 186,8 milhões.
Segundo Franklin, a empresa escolheu ser mais conservadora em relação à depreciação, assumindo os impactos nesse primeiro momento, para não ter que fazer reajustes no ano que vem, quando o mercado deve voltar ao normal e os preços dos seminovos não vão subir, como ocorreu de forma anômala durante a pandemia.
“Acreditamos que o mercado começou a normalizar na venda de seminovos, os preços devem voltar a cair todo mês”, afirma. “Fora que a gente tem um percentual maior de SUVs na frota. Isso faz com que o preço médio da frota fique maior, com isso a depreciação por carro fica maior em termos absolutos.”
As ações da Movida fecharam o pregão dessa segunda-feira, dia 1º de agosto, com alta de 2,44%, a R$ 13,01. No acumulado do ano, os papéis registram queda de 17,5%, levando o valor de mercado para R$ 4,7 bilhões.