Anunciada em setembro de 2020, a fusão entre a Localiza e a unidas demandou um longo tempo em análise pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Não à toa. As duas empresas são os dois maiores nomes do mercado local de locação de carros, gestão de frotas e venda de seminovos.

A aprovação para o negócio veio apenas em 15 de dezembro de 2021. E com restrições e remédios estruturais e comportamentais. Entre eles, a necessidade da venda de todos os ativos da Unidas nos negócios de locação, incluindo agências, sistemas e uma parcela – não divulgada – da sua frota.

O sinal verde, de fato, para o acordo só será dado a partir do cumprimento dessa e de outras condições. Mas as perspectivas da operação combinada estão no centro de um novo relatório divulgado nesta segunda-feira, 7 de fevereiro, pelo Goldman Sachs.

O banco estima que a fusão pode criar sinergias entre R$ 6 bilhões e R$ 20 bilhões. Um dos pontos ressaltados são as despesas administrativas, de vendas e gerais, nas quais o Goldman Sachs enxerga um potencial de até R$ 7 bilhões, com a eliminação de estruturas sobrepostas nas duas operações.

Entre outros pontos, os avanços que o acordo colocado em prática traria na gestão de frota, a partir da maior escala da nova empresa e do melhor histórico na compra e venda de carros por parte da Localiza, são mais um fator destacado.

“Para nossa análise, assumimos que a Unidas compraria carros novos com o mesmo desconto da Localiza, fechando a lacuna entre ambas as empresas. Isso poderia criar um valor de R$ 1,4 bilhão”, escrevem os analistas Bruno Amorim e João Frizzo.

Nessa questão, o Goldman Sachs enxerga uma recuperação gradual das vendas de carros novos, especialmente no segundo semestre de 2022, com as montadoras contornando gradualmente os problemas na cadeia que afetaram os números do setor no ano passado. E que, por consequência, impactaram o crescimento os negócios de locação.

O banco prevê que o mercado de carros novos cresça 7% em 2022, ainda abaixo dos níveis pré-pandemia. Nesse cenário, a projeção é de que a Localiza amplie sua frota com 180 mil veículos, contra 220 mil, em 2019, e 110 mil, em 2021. E de que os volumes de locação cresçam 14%.

Ao mesmo tempo, a dupla de analisas frisa que, mesmo com os remédios impostos pelo Cade, o segmento de locação de carros ficará mais concentrado, com apenas dois players de grande porte, sendo o segundo deles, a Movida, bem menor do que a nova companhia resultante da fusão.

Esse contexto traria maior poder de precificação para essas líderes. “Embora não esperemos que a nova companhia aproveite essa escala maior para aumentar as tarifas de aluguel, mas sim para ganhar participação de mercado, estimamos que cada aumento de 1% poderia levar a uma criação de valor de R$ 2 bilhões.”

Em contrapartida, embora o número de veículos a serem vendidos na frota da Unidas não seja conhecido, o Goldman Sachs entende que esse desinvestimento pode levar a uma redução entre 6% e 20% no lucro líquido da operação, levando-se em conta uma faixa entre 20 mil e 70 mil carros.