Não são poucas as reviravoltas na trajetória da americana Avaya. Fundada em 2000, a fabricante de equipamentos de comunicação nasceu como uma companhia de capital aberto, a partir de um spin-off da Lucent Technologies.

Esta, por sua vez, havia seguido a mesma trilha quatro anos antes, quando se separou da gigante de telecomunicações AT&T. Já em 2007, a Avaya fechou capital, após ser comprada pelos fundos Silver Lake e TPG.

O capítulo mais emblemático dessa história veio no início de 2017. Com uma dívida de US$ 6,3 bilhões, a Avaya recorreu ao Chapter 11, recurso da lei americana de proteção contra a falência. Em apenas onze meses, a companhia superou o processo. E, em janeiro de 2018, abriu capital na Bolsa de Nova York.

A rapidez com que a empresa evitou o fundo do poço pode sugerir um breve episódio, sem grandes dores ou sobressaltos. Mas só quem viveu de perto a fase turbulenta consegue definir o que foi aquele período.

Os times de finanças e do jurídico mantinham negociações diárias e árduas com credores, fundos de pensão e sindicatos. Já aos executivos na ponta da operação, restava outra tarefa, não menos complexa e ingrata: comunicar e tranquilizar os clientes.

“Entrar no Chapter 11 nunca é uma boa notícia para se dar”, diz Galib Karim, vice-presidente para a região de Américas Internacional da Avaya, em entrevista exclusiva ao NeoFeed. No mapa da empresa, a região compreende as operações no Canadá e na América Latina.

O desafio foi ainda maior no que diz respeito aos clientes latino-americanos. “Enquanto nos Estados Unidos, a lei é vista como uma ferramenta para evitar a falência, a visão aqui é de que você, na prática, já faliu”, afirma Karim.

O segredo, diz Karim, foi manter a transparência. “Em nenhum momento nós escondemos a nossa agenda. Transmitíamos a mesma mensagem para credores, funcionários e clientes.”

Outros pontos contribuíram para que a Avaya virasse a página. Apesar do peso substancial da dívida, a companhia tinha uma operação lucrativa. Isso fez com que a empresa seguisse um caminho pouco comum em processos desse porte.

Não houve praticamente cortes entre os 8,7 mil funcionários. Nem tampouco grandes desinvestimentos. O único ativo vendido no período foi a divisão de redes, em um acordo com a Extreme Networks, de US$ 100 milhões.

Galib Karim, vice-presidente da Avaya

Uma questão crucial foi a equação parcial dos débitos. Em outubro de 2017, os principais credores, entre eles, fundos como o BlackRock, aceitaram abater parte do montante devido em troca de participação na operação. A dívida líquida foi reduzida para os atuais US$ 2,38 bilhões.

“Isso fez com que, no lugar de pagar juros ou dívidas, a Avaya concentrasse seu fluxo de caixa na operação”, afirma Hamed Khorsand, analista da consultoria americana BWS Financial.

Na mesma época do acordo, a Avaya anunciou uma renovação no alto escalão. A começar pelo CEO Kevin Kennedy, que foi substituído pelo diretor de operações Jim Chirico, na empresa desde 2008.

No total, a troca envolveu 60% dos executivos. Do mercado, vieram nomes ligados ao ecossistema de inovação e startups, e a conceitos como computação em nuvem e inteligência artificial.

Novos competidores

Para Karim, a mescla dos novatos com os veteranos de casa, como ele, trouxe a fórmula ideal para enfrentar as mudanças nos mercados de equipamentos, software e serviços de comunicação unificada e de contact centers.

“Muitos dos nossos principais competidores atualmente não existiam há dois anos”, diz o executivo, que aponta o surgimento de startups globais e locais como um ponto de atenção, além de nomes tradicionais como a também americana Cisco.

“A inovação em todo lugar nos coloca em um estado de paranoia. Se antes desenvolvíamos produtos em dois ou três anos, hoje precisamos fazer isso em, no máximo, seis meses.”

Além da crise econômica de 2008, a dificuldade para se adaptar à evolução do mercado ajuda a explicar a entrada da Avaya no Chapter 11. Juntamente com um empréstimo de cerca de US$ 8 bilhões feito pelo Silver Lake e o TPG para financiar a operação, em 2007.

Antes do pedido de proteção contra a falência, a companhia já vinha investindo na transição de uma empresa de equipamentos para uma operação centrada em software e serviços.

Hoje, essas ofertas já representam 83,6% da receita. Agora, os novos nortes são áreas como inteligência artificial, internet das coisas e computação em nuvem.

Para acelerar mais uma reinvenção, a estratégia da Avaya passa por aquisições

Para acelerar mais uma reinvenção, a estratégia passa por aquisições. Em janeiro, a Avaya comprou a Spoken, startup com um portfólio de ofertas baseadas em inteligência artificial, um modelo de contact Center como serviço e dona de mais de 170 patentes.

Três meses antes, a Avaya já havia investido em uma fatia da Cogito, novata que desenvolveu um software de análise de comportamento humano, voltado a call centers.

As parcerias também integram esse pacote. A companhia tem, por exemplo, uma aliança estratégica com a americana Afiniti, também na área de inteligência artificial, com duração, a princípio, de dez anos.

Entre as novidades do portfólio, o Brasil é o país de mais rápido crescimento na adoção de computação em nuvem, diz Karim. E para atender a essa demanda, a companhia está negociando com um provedor de data center instalado no País, de nome não revelado, para a hospedagem local de suas ofertas no segmento. A projeção é de que a parceria seja fechada até outubro.

Em alta

As ofertas na nuvem foram um dos destaques na divulgação dos resultados da Avaya, realizada na terça-feira, 13 de agosto.

O segmento registrou um crescimento de mais de 170% no terceiro trimestre fiscal da companhia, encerrado em 30 de junho. A vertente já representa 11% da receita total. No período, a empresa conquistou 1,4 mil novos contratos e faturou US$ 720 milhões, contra US$ 755 milhões um ano antes.

Apesar da queda na receita, as ações da Avaya fecharam o pregão em Nova York cotadas a US$ 11,80, alta de 14,79%. Durante o dia, os papéis chegaram a ter uma valorização de mais de 16%. Por trás dessa escalada, está uma declaração de Jim Chirico.

Jim Chirico, CEO da Avaya

“Como uma atualização no processo de alternativas que estamos conduzindo com o j.p. morgan, neste momento, estamos em discussões avançadas com várias partes em uma série de transações estratégicas para maximizar o valor aos acionistas”, afirmou o CEO na teleconferência de resultados com analistas. “Esperamos concluir esse processo em 30 dias.”

Em março, a agência de notícias Reuters informou que a Avaya estava avaliando um investimento de US$ 5 bilhões de uma companhia de private equity, não revelada, com o consequente fechamento do seu capital.

Já em abril, as especulações apontavam uma possível fusão com a canadense Mitel, no valor de US$ 2 bilhões. “A melhor alternativa seria fechar novamente capital para se concentrar 100% no negócio e não no preço das ações”, diz Khorsand, da BWS.

À parte dos rumores, o fato é que a afirmação de Chirico abre as portas para uma nova reviravolta no roteiro da empresa. E essa possibilidade não assusta Karim. “Nossas finanças são sólidas, somos lucrativos e nosso modelo de negócios gera caixa”, afirma. “Já nos reinventamos outras vezes. Seja o que acontecer, será melhor para o futuro da companhia.

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