Há um ditado popular no campo que diz: “de grão em grão, a galinha enche o papo”. A Seedz, empresa que opera com uma plataforma de relacionamento voltada para agricultores, aposta nesta tese. Mas os grãos, neste caso, são outros negócios voltados para profissionais do agro que a startup vem absorvendo por meio de M&As.
A companhia está anunciando, com exclusividade para o NeoFeed, que firmou um acordo para incorporar a operação da Perfarm, startup que opera uma plataforma para fazer a gestão de fazendas com o uso de dados. A ideia é reduzir o custo e auxiliar ao agricultor na tomada de decisões sobre a safra. São quase 40 mil agricultores que usam o sistema.
“Há um impacto muito grande na operação do agricultor quando ele não está digitalizado e uma das maiores dores está no planejamento do negócio, em saber o que plantar e quais insumos ele precisa”, diz Matheus Ganem, cofundador e CEO da Seedz ao NeoFeed. “Resolvemos entrar no dia a dia da fazenda para poder ajudar o agricultor a resolver esses problemas.”
Luiz Roberto Sodré, cofundador da Perfarm ao lado de Daniela Vianello, concorda. “Mesmo produtores rurais que têm um bom nível de tecnologia embarcada no campo, ainda carecem de suporte e perdem valor por conta de decisões de negócio mal tomadas”, diz. “Seja na aquisição de financiamento, na compra de produtos ou na venda da safra em momentos em que não há máxima lucratividade.”
Sodré explica que a operação de M&A com a Seedz deve ampliar o potencial da companhia para conseguir novos clientes. Nos termos acordados do negócio, não há dinheiro envolvido, somente a troca de ações entre os sócios das duas empresas. A Perfarm vai manter sua marca, mas agora operando debaixo da Seedz.
Este é o segundo movimento que a Seedz faz neste sentido. Em dezembro, a companhia anunciou a aquisição da empresa mineira Atomic Agro, também num modelo semelhante de troca de ações. Na época, a companhia operava com um aplicativo de planejamento de safra utilizado por 7 mil agricultores e que monitorava 2 milhões de hectares.
As aquisições fazem parte dos planos da agtech para atacar três vertentes do agronegócio. Além da plataforma de gestão, a companhia também está se preparando para entrar no mercado de crédito rural, em que pretende destinar até R$ 100 milhões para produtores rurais. As primeiras operações serão feitas ainda neste ano.
“Não queremos ser uma fintech do agro. O modelo do serviço financeiro é complementar ao negócio”, diz Ganem. O empreendedor, no entanto, não descarta que a operação possa vir a se tornar o carro-chefe do negócio nos próximos anos. “Dado o tamanho do tíquete, pode ser que se torne a principal fonte de receita no futuro.”
Por ora, o principal braço da operação ainda é o negócio que nasceu em 2017 sob iniciativa de Ganem e do sócio Daniel Rosa e envolve a plataforma de relacionamento e de fidelidade que conecta fazendeiros, cooperativas, revendedores, distribuidores e profissionais da indústria.
Com o uso da tecnologia, produtores rurais e revendedores podem receber moedas digitais chamadas de “seedz” como forma de premiação pelo cumprimento de metas. Essas moedas podem ser trocadas por prêmios que vão desde cashback até a assinatura de softwares voltados para operacionalizar fazendas e viagens de intercâmbio e serviços de manejo e monitoramento de irrigação de safras.
O modelo de negócio gira em torno da cobrança de uma mensalidade do serviço paga pelas empresas que usam a plataforma. Uma parte da receita, porém, vem do programa de fidelidade, em que a Seedz vende sua moeda por um preço para os clientes e permite a troca dos produtos e serviços por outro, ganhando no spread.
Nesta frente, a Seedz conta com pouco mais de mil empresas como clientes e que concentram cerca de 80 mil agricultores. Na carteira estão companhias como John Deere, AgroGalaxy, UPL, Yara, Helm, Belagrícola, Yoshida, Cocamar, Fiagril e Agrex, entre outras.
Em termos de expansão, a agtech já tem clientes em três países da América Latina além do Brasil: Argentina, Paraguai e Bolívia, além de contratos firmados em outros oito países da região. No alvo da expansão internacional, o próximo destino é os Estados Unidos.
“É um mercado que tem tamanho semelhante ao brasileiro e um movimento natural para a Seedz”, diz Ganem, que ainda afirma que a ideia é montar uma operação local para buscar clientes no país, algo diferente do que é feito na maior parte dos outros mercados internacionais em que a companhia opera.
A Seedz não é a única a operar neste modelo. Uma das principais concorrentes é a Orbia, que pertence à Bayer e também tem um programa de fidelidade. Ganem, no entanto, explica que há diferenças entre os negócios, principalmente pelo fato de a rival operar com um marketplace, “algo que não está no nos planos da Seedz no curto prazo”, segundo o empresário, e pela Seedz ter outras frentes de negócio.
A Seedz vem crescendo em ritmo acelerado. No número de funcionários, a startup mais do que triplicou o time e agora tem 170 empregados (já contando com uma equipe de cerca de 20 trabalhadores da Perfarm). Em relação às finanças, Ganem não abre números, mas diz que a Seedz tem fluxo de caixa positivo e pelo menos dobrou de tamanho em relação ao ano passado.
Financeiramente, a companhia está capitalizada. Em outubro, recebeu um aporte de valor não revelado da 10b, uma das gestoras da SK Tarpon e que contou com a participação da Volpe Capital, fundo que tem entre os sócios André Maciel, ex- managing partner do Softbank na América Latina, o fundo americano The Yeld Lab e o family office Tridon Participações.