A Covid-19 esvaziou as salas, cadeiras e corredores da PicPay em Vitória (ES) e em São Paulo. Mas, mesmo com 1,4 mil funcionários em home office, o ritmo na fintech segue intenso. E, prestes a sair do forno, os frutos mais recentes desse trabalho marcam a entrada oficial da startup em dois segmentos: cartões e crédito pessoal.
“Nós entendemos que esses produtos estão prontos para ir ao mar aberto e ganhar escala”, diz Gueitiro Genso, CEO da PicPay, com exclusividade ao NeoFeed. “Por isso, decidimos criar uma unidade de negócios para reunir essas duas soluções, que são estruturantes para qualquer ecossistema financeiro.”
O movimento reforça a estratégia da fintech de reunir um leque cada vez mais abrangente de serviços financeiros em uma única plataforma, baseada em recursos de pagamento a distância, como o QR Code.
Para comandar a nova área, a PicPay contratou Frederico Trevisan. Com mais de 15 anos de experiência no setor e passagens pelos bancos Santander, Citi e Itaú Unibanco, o executivo vai liderar uma equipe que já conta com mais de 100 pessoas. E que deve contribuir para a projeção da companhia de fechar 2020 com 2 mil funcionários.
Esse time não será, porém, um mundo à parte dentro da PicPay, pois atuará conectado às demais áreas. “Se ficássemos apartados, como geralmente é feito, voltaríamos ao mundo analógico”, diz Trevisan, head de PicPay Card e Crédito. “Esse modelo vai nos dar uma visão transversal de todo o ecossistema.”
Parte do esforço mais recente dessa estratégia, a estreia oficial no mercado de crédito está programada para junho, com a oferta de empréstimos para pessoa física. Em fase de ajustes de prazos, taxas e demais condições, as primeiras operações foram realizadas na semana passada.
Questionado sobre o desafio de entrar no segmento em meio à perspectiva de aumento da inadimplência, Genso explica que a oferta seguirá o modelo adotado nos demais produtos. “Nós somos a plataforma de entrega da solução”, diz. “A gestão do risco e o financiamento virão de parceiros.”
O pontapé será dado com o Banco Original, que controla a PicPay. O volume de recursos ainda não está definido. “Mas não estamos limitados a essa conexão”, diz. Segundo o executivo, a fintech já negocia com outros parceiros interessados em oferecer crédito pessoal por meio da plataforma.
A mesma abordagem está sendo usada em cartões. Em janeiro, a PicPay iniciou os testes na modalidade de cartões de crédito, em parceria com o Original, junto a uma base de 30 mil clientes. E agora, juntamente com essa alternativa, está lançando um cartão de débito, cujos ajustes também foram finalizados na semana passada.
Com alguns cliques, o usuário pode ter um cartão virtual, além de solicitar um físico. Os gastos são gerenciados pelo aplicativo, que dá acesso a todos os produtos da carteira digital, bem como a possibilidade de realizar pagamentos via QR Code em lojas físicas, dentro de uma rede de cerca de 3 milhões de estabelecimentos conectados à plataforma.
Em janeiro, a PicPay iniciou os testes na modalidade de cartão de crédito, em parceria com o Original, junto a uma base de 30 mil clientes
“Vamos olhar para todas as modalidades de crédito, entre elas, as transferências pessoais, peer-to-peer, e as ofertas para empresas”, observa Trevisan. “Temos, no mínimo, o potencial de alcançar toda a base de usuários da PicPay.”
Impulso
A julgar por essa base, a PicPay poderá nadar de braçada antes de chegar, de fato, ao mar aberto. Depois de fechar 2019 com 13,4 milhões de usuários, sendo 3,9 milhões ativos, a plataforma já vinha em um ritmo intenso de crescimento. E ganhou ainda mais impulso com a Covid-19.
De uma média mensal de 500 mil novos usuários por mês, antes da pandemia, a startup registrou um volume de 3 milhões, apenas em abril. Com esse salto, a empresa antecipou a meta projetada para o fim de 2020, com 20 milhões de usuários, sendo 8 milhões deles ativos.
De uma média mensal de 500 mil novos usuários por mês, antes da pandemia, a startup registrou um volume de 3 milhões, apenas em abril
“A crise acelerou em muitos anos a curva de adoção e a busca do consumidor por pagamentos sem contato”, diz Genso. “E acredito que esse é um caminho sem volta.” Mesmo nesse cenário, a empresa não revisou suas projeções para o ano, que incluíam a meta de transacionar R$ 31 bilhões, ante os R$ 5 bilhões de 2019.
No momento, boa parte dos esforços está centrada em ações para reduzir os impactos da pandemia. A plataforma está sendo usada, por exemplo, para centralizar e agilizar a distribuição de doações e de recursos que têm como destino um grande volume de pessoas.
O governo do estado de São Paulo adotou essa abordagem para que os responsáveis por alunos da rede pública recebessem os valores referentes à merenda escolar durante a quarentena. O leque inclui ainda as prefeituras de Jacareí (SP) e de Duque de Caxias (RJ), e entidades como a Central Única das Favelas (CUFA) e Comunitas.
Os destinatários das doações baixam o aplicativo e enviam uma selfie e um documento de entidade. Após a verificação dos dados, eles têm acesso a uma conta digital, que é usada como o canal para que os recursos cheguem em suas mãos e possam ser gastos em toda a rede credenciada na plataforma.
No total, já foram distribuídos R$ 5 milhões em benefícios sociais, para mais de 700 mil famílias. A PicPay está fechando outras dez parcerias para ampliar o alcance dessa iniciativa.
A modalidade foi criada em uma semana, com foco específico na crise. Mas com o teste, a fintech avalia acelerar o lançamento de outras aplicações que já estavam em seu escopo. “Podemos oferecer em breve, por exemplo, o produto para as empresas pagarem seus funcionários e fornecedores.”
Com as perspectivas de um portfólio mais amplo, da adoção mais rápida da digitalização nos serviços financeiros e de uma agenda do Banco Central que inclui questões como pagamentos instantâneos e open banking, Genso entende que a PicPay está preparada para enfrentar, na mesma medida, a concorrência ainda mais acirrada.
“No futuro, vamos ter cinco ou seis grandes ecossistemas e eu não tenho dúvida que estaremos entre eles”, diz. Esse roteiro não passa, necessariamente, por uma abertura de capital, algo que já foi alvo de especulações. “Não temos necessidade de funding. Se isso acontecer, será consequência, mas não é o nosso foco.”
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