O TikTok vai chacoalhar o mercado brasileiro de comércio eletrônico em 2023. E não será com as populares dancinhas que viralizam no aplicativo de vídeos curtos chinês que já conquistou mais de 1 bilhão de usuários ao redor do mundo.
A companhia está montando uma pesada estrutura para atuar em e-commerce e trazer o TikTok Shop para o Brasil a partir do primeiro trimestre de 2023, apurou o NeoFeed com uma fonte a par dos planos da companhia controlada pela chinesa Bytedance.
“O TikTok vem para brigar em posição de mercado com Amazon e AliExpress”, diz a fonte com quem o NeoFeed conversou. “Mas vai afetar todo mundo: Mercado Livre, Americanas, Magalu e Via.”
No LinkedIn, há pelo menos 15 vagas para atuar na área de comércio eletrônico no Brasil, um movimento visto com potencial de expandir a receita da rede social de vídeos curtos, dependente de publicidade. Procurado, o TikTok não quis comentar.
A estratégia é apostar em live commerces com parceiros locais e com fornecedores da China. Uma logística própria está sendo estudada para manter a qualidade de entrega, algo considerado vital pelos executivos da empresa para não derrapar na estreia.
Na China, onde o aplicativo é conhecido como Douyin, a plataforma de vídeos curtos já movimenta mais de US$ 100 bilhões em vendas online e comercializou mais de 10 bilhões de produtos em 2021.
A companhia começou a apostar em e-commerce apenas em 2020, atrasada na comparação aos seus principais concorrentes, como Kuaishou e Alibaba. Mas ganhou relevância por investir em formatos de compras ao vivo que não estão vinculados a influenciadores digitais.
Um dos formatos é o de perfis administrados por marcas que vendem seus próprios produtos. O outro são lojas, que vendem várias linhas de produtos. Os influenciadores digitas, capazes de movimentar uma grande audiência, não estiveram no centro da estratégia – ao menos na China.
O modelo para ganhar dinheiro inclui um take rate baixo, que varia entre 1% e 5%, dependendo da categoria. A publicidade faz parte da estratégia – e é fundamental para que as páginas possam ser vistas por uma quantidade maior de usuários.
As live commerces são uma modalidade bastante popular na Ásia, mas que só agora começa a ganhar relevância em países ocidentais. Trata-se de um mercado bilionário. De acordo com estudo da Research and Markets, as live commerces devem movimentar US$ 600 bilhões em 2027. Não há dados sobre o Brasil sobre esta modalidade de vendas.
Em uma live commerce, os produtos são anunciados durante transmissões ao vivo. No caso do TikTok, quem assiste aos vídeos podem clicar no link do produto anunciado para fechar a compra. Tudo é feito na dentro da própria plataforma, sem fricção.
A Kwai, que é rival do TikTok, já atua com live commerce dentro de sua plataforma no Brasil e deve apostar cada vez nesta modalidade para rentabilizar sua operação que é comandada por Mariana Sensini, que foi também CEO do Pinterest.
Entre os gigantes de comércio eletrônico, o live commerce começa a ganhar espaço de forma ainda lenta. A Americanas fez, no ano passado, uma parceria comercial com a chinesa OOOOO (pronuncia-se U) e vai apostar neste modelo durante a Black Friday deste ano.
Startups também estão avançando neste espaço. O chinês Yan Di deixou, em abril deste ano, largou o posto de country manager do AliExpress no Brasil para fundar Mobocity, empresa focada na produção e transmissão de live streamings.
A StreamShop, uma plataforma que fornece ferramentas para que diferentes empresas possam realizar lives para vender produtos e serviços, já conquistou uma carteira de 45 empresas. Entre elas há nomes como Natura, L’oréal, Vivo, Banco Inter, ZeeDog e Basf.
Outro exemplo é a Mimo Live Sales, que conquistou investidores de peso, como Nizan Guanaes, Sabrina Sato, Camila Salek e o casal sino-americano Mark Yuan e Zoe Yu Zhang, fundadores da And Luxe, pioneira em live commerce nos EUA.
Não será uma missão fácil para o TikTok se consolidar no Ocidente com sua plataforma de comércio eletrônico. No Reino Unido, o TikTop Shop foi lançado no ano passado e a companhia não teve o sucesso esperado.
Uma reportagem do jornal britânico Financial Times (FT) relatava que as vendas não escalaram do jeito que o TikTok esperava e que isso teria feito a companhia frear o avanço para outros países da Europa.
“A leitura do mercado é que deu errado (a operação no Reino Unido), mas o TikTok não tinha testado tudo ainda”, diz a fonte que conhece os planos do Tiktok ao NeoFeed. “Se tivesse dado tão errado assim, por que eles estariam investindo no Brasil? E eles vão também para os Estados Unidos.”
A aposta do TikTok é o engajamento dos usuários brasileiros na plataforma. O Brasil é o segundo país que mais usa a rede social de vídeos curtos, segundo uma pesquisa consultoria alemã Statista.
No ranking, a China aparece na liderança do uso do TikTok nos últimos 12 meses, com 72% dos entrevistados reportando ter utilizado o app. No Brasil, o percentual é de 40%, seguido pelo México (37%), pela Rússia (31%), e pela Alemanha (26%).
Quando surgiu, o TikTok se tornou a principal dor de cabeça do Instagram, a rede social de imagens da Meta (ex-Facebook). Tanto que Mark Zuckerberg copiou os vídeos curtos com o Reels. Agora, no e-commerce, será que vai se transformar no principal pesadelo dos varejistas online?