Uma das primeiras empresas a desbravar o modelo de marketplaces no Brasil, o Mercado Livre se acostumou a ser apontado como o principal player nesse espaço no País, mesmo com a concorrência crescente no segmento.

Agora, um novo nome deve desafiar esse domínio e, ao que tudo indica, já tem data marcada para entrar nessa disputa: o TikTok, com a plataforma TikTok Shop, cuja estreia no mercado brasileiro está programada para acontecer em abril deste ano, segundo o portal chinês DSB.

A chegada de um novo rival e os consequentes impactos para o Mercado Livre estão justamente no centro de um relatório do Itaú BBA. O banco pontua que, embora esse desembarque já fosse esperado, a confirmação de uma data para que isso aconteça amplia as preocupações dos investidores.

“Acreditamos que essa dinâmica pode ter implicações diretas para o Mercado Livre no Brasil. Como o GMV do Meli ainda está amplamente concentrado em PMEs, muitos desses sellers podem ser atraídos para o modelo da TikTok Shop se ele se mostrar eficaz”, escreve o banco.

Para os analistas do Itaú BBA, esse cenário aumenta a possibilidade de uma sobreposição crescente entre a TikTok Shop e a base de sellers do Mercado Livre no País, trazendo um risco competitivo que “vale a pena monitorar”.

No detalhe dessas implicações, o banco toma como ponto de partida a performance da plataforma do TikTok em outros mercados e a constatação de que as categorias de melhor desempenho da ferramenta globalmente foram os segmentos de saúde, bem-estar e beleza.

“Isso é particularmente relevante, dado que beleza tem sido um foco de crescimento importante para o Mercado Livre, pois é uma categoria de margem alta com forte envolvimento do cliente. Se a TikTok Shop ganhar força no Brasil, isso pode representar um desafio para a expansão do MELI nesse espaço”, destaca o banco.

Com recomendação de outperform – o equivalente a compra – e preço-alvo de US$ 2.473 para a ação do Mercado Livre, os analistas do Itaú BBA ressaltam que os investidores vêm acompanhando de perto do crescimento do GMV da empresa.

“E qualquer desaceleração inesperada no Brasil devido ao aumento da concorrência pode pesar no sentimento (especialmente com as ações perto de suas máximas)”, diz outro trecho do relatório do banco.

Os analistas do Itaú BBA projetam um crescimento de 22% para o GMV do Mercado Livre no País em 2025. E frisam que qualquer índice abaixo de 20% pode fazer com que os investidores comecem a “levantar as sobrancelhas”.

Eles acrescentam que é muito cedo para determinar se a TikTok Shop irá capturar uma fatia relevante de mercado do Mercado Livre no Brasil. E destacam que ainda há incertezas sobre o projeto. Entre elas, se a plataforma irá operar puramente como um marketplace ou vai incorporar outros serviços, como fez no Reino Unido.

“No entanto, a trajetória de crescimento da plataforma em outros países, seu perfil de seller e seu sucesso em categorias de alto valor, como beleza, sugerem que ela justifica um monitoramento próximo”, conclui o Itaú BBA.

As ações do Mercado Livre estavam sendo negociadas com queda de 2,31% na Nasdaq por volta das 11h35 (horário local), dando à empresa um valor de mercado de US$ 99,5 bilhões. Em 2025, os papéis registram alta de 15,4%.

Quem também reservou espaço em sua prateleira para a TikTok Shop foi o Santander, que ressaltou o lançamento da plataforma antes da expectativa inicial e o fato de os chineses estarem acelerando sua expansão na América Latina.

O banco aponta, no entanto, que a chegada da nova rival traz oportunidades para players que estão mais bem preparados no mercado brasileiro, como Mercado Livre, Natura, Renner, Magazine Luiza e C&A.

Em contrapartida, o Santander entende que a TikTok Shop traz um pacote de ameaças para plataformas “retardatárias”, como Azzas 2154, Guararapes, Grupo SBF e Vulcabras. Ao mesmo tempo, seus analistas fazem um alerta a esses dois grupos de empresas.

“Embora o lançamento da TikTok no México revele sua abertura para parcerias com empresas estabelecidas, seus incentivos agressivos aos vendedores e adoção nas categorias de beleza, moda e casa sinalizam a urgência dos varejistas brasileiros em desenvolver estratégias específicas para a plataforma antes da entrada potencialmente disruptiva da TikTok Shop”, escreve o Santander.

Ao usar a operação no México – lançada em 6 de fevereiro desse ano - como referência, o banco observa que a TikTok Shop pode replicar no Brasil iniciativas como a oferta de um período de 90 dias sem comissão e frete grátis.