Em 2013, o empreendedor Daniel Heise era mentor da Endeavor no Brasil, quando conheceu Eric Santos, um dos fundadores da startup brasileira Resultados Digitais, que desenvolveu uma ferramenta de marketing digital baseada na nuvem.
Heise, que já fundou diversas startups, apresentou, então, a desconhecida startup de Florianópolis à DGF Investimentos, uma das mais antigas gestoras de venture capital do Brasil, com mais de 50 investimentos realizados desde 2001.
Em junho de 2013, a DGF assinava o primeiro cheque institucional para a Resultados Digitais, fundada dois anos antes. Hoje, a startup conta com outros investidores de peso em sua base acionária, como a TPG Growth, Redpoint eventures, Astella, Endeavor Catalyst e Riverwood Capital.
“Quando investimos, ela faturava menos de R$ 200 mil por ano. Hoje, ela já fatura centenas de milhões de reais”, diz Sidney Chameh, sócio da DGF Investimentos, ao NeoFeed.
A Resultados Digitais é uma das startups mais reluzentes do portfólio da DGF Investimentos, que começa a captar seu sétimo fundo nesta quarta-feira, 3 de outubro, em evento com investidores.
O fundo 7 será de US$ 50 milhões. Ele começou a ser captado no começo deste ano, mas a pandemia do novo coronavírus fez com que a gestora se concentrasse na orientação ao atual portfólio de startups. Agora, a DGF volta à carga com os investidores.
A ideia é fazer o primeiro fechamento da captação, para começar a investir os recursos, até o fim deste ano. “O novo fundo é uma sequência do trabalho que temos feito com empresas de software e de SaaS (software as service)”, diz Frederico Greve, sócio da DGF.
Em seus seis fundos anteriores, a DGF investiu em 50 startups e teve 23 saídas. São empresas como a Logocenter, que foi comprada pela Microsiga e deu origem à Totvs, ou Direct Talk, uma das pioneiras em relacionamento com consumidor via internet, que se uniu à Seekr e deu origem à Hi Plataform.
Atualmente, a gestora tem 25 startups e conta, além da Resultados Digitais, com empresas como Ingresse, Reclame Aqui, Mercado Eletrônico, IntelliBrand e Rocket.Chat, entre outras, em seu portfólio.
“Conhecia a DGF antes mesmo de eles investirem na Rocket.Chat”, afirma Gabriel Engel, CEO e fundador da Rocket.Chat, um sistema de mensagens que é usado por grandes empresas e pela Marinha dos Estados Unidos. “No mundo do SaaS, eles são referência.”
A DGF, em geral, participa de séries A de investimentos. O novo fundo deve manter essa característica, com cheques que podem começar em US$ 3 milhões e ir até US$ 7 milhões. Uma parte que pode variar de 30% a 50% do total captado vai ficar reservado para follow ons nas startups investidas.
Ao mesmo tempo que começa a captar seu novo fundo, a DGF traz Daniel Heise como seu novo sócio – sim, lá atrás foi ele quem apresentou a Resultados Digitais à gestora. “Eu já era investidor da DGF”, diz Heise, que fundou mais de 10 startups, entre elas Direct Talk, Atrativa e Scup.
A missão de Heise será ajudar na construção do portfólio do novo fundo. Hoje, ele está baseado em Miami, onde também segue dando mentorias à Endeavor. “Quero trabalhar junto com os empreendedores”, afirma Heise.
A chegada de Heise acontece depois da saída de Patrick Arippol, que era sócio da DGF, no ano passado, para criar o seu próprio fundo, o Alexia Ventures. “Ele era a cara da DGF no venture capital e muitos investidores ficaram incomodados com a saída de seu principal gestor”, diz uma fonte do setor de venture capital. A DGF diz que a chegada de Heise não tem nenhuma relação com a saída de Arippol.
A nova captação da DGF acontece em meio um cenário extremamente competitivo entre os principais fundos de venture capital no mercado brasileiro. Mas, ao mesmo tempo em que concorrência por um “deal” aumentou, muitos family offices que não alocavam recursos em venture capital passaram a olhar para essa classe de ativos por conta dos juros baixos no mercado brasileiro.
Os principais fundos que atuam por aqui estão também investindo pesado em startups. Até setembro deste ano, o volume de aportes em startups brasileiras somou US$ 2,2 bilhões, em 322 rodadas, de acordo com dados do estudo Inside Venture Capital Brasil, do Distrito Dataminer.
O volume de recursos investidos nos nove primeiros meses de 2020 ficou atrás apenas de 2019, quando foram aportados US$ 2,3 bilhões nas startups.
Esse cenário acontece, mesmo em meio à pandemia, porque os principais fundos de venture capital que atuam no mercado brasileiro captaram antes da crise e têm muito dinheiro para investir.
O Softbank, por exemplo, conta ainda com US$ 3 bilhões de seu fundo de US$ 5 bilhões para a América Latina. O Riverwood Capital tem US$ 500 milhões para investir em empresas na região.
O Kaszek Ventures, maior fundo da América Latina, captou US$ 600 milhões no ano passado. E o brasileiro Monashees levantou US$ 285 milhões em seu nono fundo.
Dinheiro, como se vê, não faltará às startups brasileiras. Com o novo fundo, a DFG é mais uma que entra nessa briga para encontrar bons negócios no ecossistema de empreendedorismo do Brasil.