Em março de 2020, com a chegada da pandemia e de suas restrições, a brasileira Gympass não teve outra alternativa. A única opção era ir além da oferta de acesso a redes de academias como um benefício corporativo, modelo por meio do qual a startup chegou a 11 países e alcançou o status de unicórnio.

Como o seu público, a empresa não ficou parada. Em duas semanas, migrou as academias, treinos e atividades físicas para o online. E passou a adicionar uma série de aplicativos para criar uma plataforma de bem-estar, centrada em temas diversos, da nutrição e da meditação às terapias holísticas.

Agora, como parte desse exercício de reinvenção, a Gympass está avançando para um período essencial no dia a dia de qualquer pessoa disposta a ter uma vida saudável. A empresa acaba de fechar uma parceria para que o Sleep Cycle, aplicativo sueco rastreador de sono, integre o seu ecossistema.

“Antes, a Gympass ficava no mesmo espaço dos planos de saúde, do vale alimentação. Agora, nossa visão é ir para outra caixinha”, diz Priscila Siqueira, CEO da Gympass no Brasil, com exclusividade ao NeoFeed. “A ideia é construir uma plataforma única de bem-estar. Ainda não tem uma empresa que fala disso de maneira integrada.”

Sem dormir no ponto, a Gympass trouxe um dos principais aplicativos do mercado de sono para a sua plataforma. Fundada em 2009 e listada na bolsa de valores de Estocolmo, a Sleep Cycle tem uma base superior a 1 milhão de usuários, em mais de 150 países, e já analisou mais de dois bilhões de noites.

Para garantir uma boa noite de sono, o Sleep Cycle tem um alarme inteligente, que ajuda a identificar o melhor horário para acordar o usuário. A versão premium do aplicativo traz outros recursos. Entre eles, um rastreador e treinamento de sono, música, meditações e detecção de ronco.

Essa versão premium poderá ser acessada pelos funcionários das mais de 6 mil empresas atendidas pela plataforma da Gympass. A startup oferece diferentes opções de planos pagos no modelo de coparticipação, com preços mensais que variam de R$ 29 a R$ 600. O valor varia conforme os apps e serviços contratados.

“Temos outros aplicativos, mas o Sleep Cycle é muito específico e estratégico, dada a sua cobertura e amplitude para cuidar do sono”, afirma Siqueira. “E quando se pensa em bem-estar, essa área é fundamental para montar uma rotina saudável.”

Alguns dados do Sleep Cyle dão a medida da oportunidade a ser explorada. Os brasileiros, por exemplo, dormem, em média, 6 horas e 44 minutos por noite, quando a quantidade recomendada é de 8 a 10 horas. Em termos de qualidade do sono, o País ocupa apenas a 30ª posição no ranking do aplicativo.

Com presença muito além do Brasil, a Gympass também está de olho em outros números, que mostram o potencial dessa área. A consultoria americana Global Market Insights projeta que as tecnologias do sono irão gerar uma receita global de US$ 40,6 bilhões em 2027.

Já sob a ótica da estratégia de plataforma da startup, os indicadores são ainda mais atrativos. De acordo com a consultoria americana McKinsey, o mercado global de bem-estar movimentou mais de US$ 1,5 trilhão em 2020 e deve registrar um crescimento entre 5% e 10% nos próximos anos.

Alguns números também traduzem o que a Gympass está construindo nesse segmento. Além da carteira de clientes, de mais de 50 mil parceiros de fitness, de 940 atividades ofertadas e da presença em mais de 7,5 mil cidades, a plataforma da empresa já tem mais de 30 aplicativos plugados de bem-estar.

Com um volume de acesso de mais de 20 milhões de funcionários das empresas atendidas, a relação inclui, por exemplo, a Zen App, de meditação; a 8Fit, de treinos; a Guia da Alma, de terapias holísticas; a Tecnutri, de nutrição; e a Mobills, de educação financeira.

Priscila Siqueira, CEO da Gympass no Brasil

Essa lista também vem crescendo com aquisições, uma estratégia que ganhou força depois de a empresa captar uma rodada série E, no valor de US$ 220 milhões, em junho de 2021, junto a fundos como Softbank e General Atlantic. Com o aporte, a startup foi avaliada em US$ 2,2 bilhões.

Em dezembro de 2021, veio a compra da americana Trainiac, aplicativo de personal trainers. Em janeiro desse ano, foi a vez das plataformas de bem-estar Andjoy, da Espanha, e 7Card, da Romênia que, juntas, trouxeram 1,4 mil clientes corporativos. Já em abril, a Gympass comprou a brasileira Vitalk, de programas e conteúdos de saúde mental.

Esse último segmento mostra que também há espaço para soluções desenvolvidas dentro de casa. É o caso da Wellz, plataforma de saúde mental ofertada, inicialmente, apenas no Brasil, como um módulo adicional no portfólio da empresa. E que inclui programas, conteúdos, terapias e outros recursos dentro desse universo.

Em outra frente, a companhia tem uma área que municia os departamentos de recursos humanos e de saúde e bem-estar nas empresas com uma série de dados, conteúdos e programas a serem implementados pelas empresas.

“Um dos legados da pandemia é esse olhar mais crítico para o cuidado dos funcionários. Antes, isso estava mais restrito às grandes empresas globais”, diz Siqueira. “Hoje, todas as companhias estão preocupadas com essa questão. E nós já conseguimos atender desde uma padaria até uma grande corporação.”

Com diferentes propostas, há outras startups bilionárias atentas ao conceito de bem-estar. Um dos exemplos é a americana Ro, avaliada em US$ 5 bilhões e que já captou US$ 1 bilhão junto a fundos como General Catalyst.

Entre outros nomes, para citar apenas startups americanas, a lista inclui empresas como Cerebral, Better Up e Noom, avaliadas, respectivamente, em US$ 4,8 bilhões, US$ 4,7 bilhões e US$ 3,7 bilhões.