Com a promessa de revolucionar a forma como as pessoas se locomovem, o Segway PT foi apresentado ao mundo em dezembro de 2001. Na ocasião, seu fundador, o engenheiro Dean Kamen, dizia aquele veículo elétrico esquisitão sob duas rodas e movido a eletricidade "seria para o carro o que o carro foi para os cavalos e carruagens".

Quase 18 anos depois, a história da Segway é cheia de altos e baixos – na verdade, muitos mais baixos do que altos. Mas depois de quatro donos diferentes, a companhia parece que encontrou um caminho nas mãos da chinesa Ninebot, que a comprou, em 2015, por US$ 75 milhões.

A nova trajetória da Segway, no entanto, não é a mesma que imaginou Kamen. Desde que comprou a problemática empresa, a Ninebot investiu pesado em patinetes elétricos, antecipando-se à onda que se tornaria uma grande tendências nas principais cidades do mundo - de São Francisco a São Paulo.

Agora, durante a Consumer Electronic Show (CES), maior conferência de tecnologia do mundo, que acontece em Las Vegas, a partir de janeiro de 2020, a Ninebot vai mostrar ao mundo um nova linha de motos e uma e-scooter elétrica ainda maior ao estilo das Vespas italianas.

Serão nove versões, sendo a menor delas capaz de atingir 50 km/h. A mais potente é capaz de acelerar até cerca de 96km/h em 2,9 segundos, atingindo uma velocidade máxima superior a 200km/h.

Essa reinvenção da Segway só foi possível devido à Ninebot. A empresa não desistiu de produzir o Segway PT. Ele ainda é vendido em diversas versões. Mas a companhia chinesa resolveu levar a marca para uma série de produtos de locomoção elétrica, em especial os patinetes.

Agora, a companhia está se beneficiando da onda de veículos elétricos que ganha cada vez mais tração na indústria automobilística. Para se ter uma ideia do acerto da estratégia, o Segway PT teve 100 mil unidades vendidas de 2002 a 2018. Os patinetes elétricos com a marca Segway, por exemplo, atingiram 1 milhão de unidades apenas em 2018, segundo a Ninebot.

A Ninebot está também por trás da revolução do que está sendo chamado de “micromobilidade”, a possibilidade de fazer trajetos mais curtos com veículos mais sustentáveis.

Novas scooters que serão lançadas pela Segway

Além da marca Segway, ela produz patinetes elétricos para quase todas as empresas da área, como Lime e Bird. A Ninebot estima que quatro de cada cinco patinetes elétricos vendidos no mundo eram fabricados em uma de suas três fábricas.

Segundo uma reportagem da agência de notícias Bloomberg, a Ninebot, que tem seu quartel-general em Pequim, era avaliada em US$ 1,5 bilhão no fim de 2018.

Uma longa trajetória

A Ninebot comprou a Segway, em 2015, por uma questão estratégia. Um ano antes, Roger Brown, o terceiro dono da Segway, convenceu a International Trade Commission dos EUA a investigar infrações às patentes da companhia.

Uma das companhias listadas como as que infringiam as patentes da Segway era a Ninebot, que rapidamente negociou a compra da companhia, pois tinha planos de entrar no mercado americano.

A Ninebot viu também valor na marca Segway, que tinha grande reconhecimento público. A sua primeira medida foi baixar o preço dos produtos para menos de US$ 1 mil e investir em patinetes elétricos.

Foi a maneira que os chineses encontraram de “ressuscitar” uma marca que parecia caminhar para o ostracismo, depois de uma grande expectativa de que revolucionaria a forma com as pessoas se locomoveriam em pequenas distâncias.

Altos e muitos baixos

Quando foi anunciado o Segway PT, em 2001, ele desenvolvia uma velocidade máxima de 20 km/h. O desempenho de sua bateria também agradava, com duração entre 2 horas e 6 horas, dependendo das condições.

Tais características fizeram muita gente apostar que o Segway PT pudesse se tornar uma invenção tão popular e influente quanto o computador pessoal. Na ocasião, a Segway levantou US$ 90 milhões em investimentos logo em seu ano de estreia. A promessa era de que 50 mil unidades fossem vendidas nos primeiros 12 meses – número que nunca foi atingido.

A Ninebot, nova dona da Segway, produz quatro de cada cinco patinetes elétricos vendidos no mundo

Os problemas da Segway começaram cedo. Em 2002, o "patinete" elétrico entrou na mira da Justiça. Motivo: sua estrutura era robusta demais para as calçadas dos grandes centros urbanos, mas pequena para transitar com segurança pelas ruas e avenidas.

Neste mesmo ano, o Segway começou a ser testado por carteiros americanos e por funcionários da Disney, que usavam a invenção para se locomover dentro dos parques.

Entusiasmados com a boa aplicação do patinete elétrico até então, Kamen e sua equipe finalmente lançaram o Segway para o público em novembro de 2002. O veículo de duas rodas paralelas estreou na Amazon com um preço fixado em US$ 4,9 mil – valor considerado alto para que pudesse ter um apelo popular.

Não bastasse o valor do produto, a empresa sofreu um baque e tanto com a má publicidade gratuita do então presidente George W. Bush. Enquanto testava a máquina, em junho de 2003, no estado americano de Maine, Bush foi fotografado caindo do aparelho – e o clique rodou os principais jornais do mundo.

Em setembro do mesmo ano, a Segway faz um recall de todas as 6 mil unidades vendidas até então. Centenas de usuários se machucaram ao cair do aparelho, cujo mecanismo de equilíbrio falhava quando a bateria estava prestes a acabar.

Tantos tropeços consumiram cada centavo levantado pela empresa. Em fevereiro de 2004, a Segway já não contava com um fluxo de caixa que permitisse sua operação. Para manter o sonho vivo, Kamen conseguiu US$ 31 milhões em empréstimos e hipotecou sua fábrica, na esperança de que uma nova injeção de dinheiro salvasse o negócio.

Com os recursos, a companhia pode se estruturar. Entre os anos de 2004 e 2006, a Segway desenvolveu modelos específicos para campos de golfe e para operações policiais. Essa talvez tenha sido a decisão mais acertada da companhia até então. O resultado foi um aumento de 50% na venda dos veículos desde 2002.

Apesar da melhora dos resultados, estava claro que o Segway PT não teria um impacto na vida das pessoas como o computador pessoal. Em dezembro de 2009, o então CEO da empresa, James Norrod, deixou o cargo quando a companhia foi vendida para a inglesa Hesco Bastion, do empresário britânico James Heselden. O valor da transação não foi divulgado.

Em setembro de 2010, Heselden, aos 62 anos, caiu de um penhasco com um Segway. O acidente fatal manchou mais uma vez a imagem do produto. Com isso, o equipamento passou a ser utilizado em algumas poucas áreas, como por turistas para conhecer atrações de algumas cidades e para a fiscalização policial.

Em 2013, a Segway mudou de mãos mais uma vez. Ela foi comprada pela Summit Strategic Investments, do empresário Roger Brown, por apenas US$ 9 milhões.

O empresário viu, mais uma vez, potencial na marca, que era usada por mais de 6 milhões de turistas em cidades como São Francisco e Washington DC por ano.

Sua estratégia foi cortar custos, buscando produzir o Segway PT de forma mais barato, além de negociar um contrato melhor com o fornecedor de bateria. Brown conseguiu tornar a empresa lucrativa, até vendê-la para a Ninebot, por US$ 75 milhões, multiplicando por quase dez o seu investimento.

Agora, há quase cinco anos sob a gestão da Ninebot, a Segway não só sobreviveu como está estendendo sua linha produtos para novos áreas.

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