Pode parecer surpreendente que a série de maior sucesso da Netflix no momento seja uma versão contemporânea das histórias de um clássico anti-herói francês criado no início do século passado.

Estamos falando de "Lupin", produção que já foi vista por mais de 70 milhões de espectadores no mundo inteiro e é a mais assistida no momento no Brasil. Seu desempenho é uma prova importante do fenômeno de globalização de séries e filmes que as plataformas de streaming têm promovido.

"Lupin" não é um caso isolado. Antes dela, alguns dos maiores fenômenos da cultura pop não vieram de Hollywood. Pense na espanhola "La Casa de Papel", que chegou a 65 milhões de espectadores, na alemã “Dark”, com 22 milhões, e até mesmo na vitória de “Parasita” como melhor filme no Oscar em 2020. "Falamos tanto da produção global que não percebemos que ela já chegou", afirma o jornalista e crítico de cinema Roberto Sadovski.

A grande virada de chave, segundo ele, veio com a pandemia. Com cinemas fechados, as pessoas passaram a consumir muito mais conteúdo em casa. “Obviamente, a produção hollywoodiana não ia dar conta dessa demanda”, diz Sadovski.

O volume de conteúdo disponível se tornou ainda mais importante e as plataformas passaram a recorrer a produções estrangeiras, usando suas máquinas de propaganda para promover filmes brasileiros, séries asiáticas e documentários da América Latina.

É claro que se a qualidade do material não for boa, esse desempenho tem vida curta. “Lupin”, por sorte, é entretenimento de alto nível. A trama é baseada nas aventuras de Arsène Lupin, criação do escritor Maurice Leblanc (1864-1941). O ladrão de casaca, como ficou conhecido, se envolve em roubos fantásticos que envolvem planejamento meticuloso, como uma versão de Sherlock Holmes dedicada a cometer crimes, não a solucioná-los.

O papel principal ficou com Omar Sy, o rosto mais conhecido do cinema francês atual. Ele ficou popular com “Intocáveis”, de 2011, e usa seu carisma para elevar a série. Em entrevista ao jornal The New York Times, Sy conta que interpretar o personagem é uma realização. “Se eu fosse inglês, diria que o papel dos sonhos é James Bond. Como sou francês, é Lupin”, diz.

A própria escolha de Sy, um ator negro, faz parte da estratégia de trazer a história para os nossos dias, assim como a BBC fez com Holmes há alguns anos. Em vez de usar cartola e sobretudo, ele usa tênis Jordan e foge de perseguições pedalando uma bicicleta. Os problemas que enfrenta, como o racismo, também são bastante atuais.

"Eles colocam nas telas a diversidade que existe no mundo real", diz Sadovski. “Vivemos em um mundo plural e o entretenimento precisa gerar empatia com o público. Só se incomoda com isso quem percebeu que a contagem regressiva para esse tipo de pensamento está acabando."

A popularidade de “Lupin” também pode ser sentida fora das telas. Livros que compilam os contos escritos por Leblanc sumiram das prateleiras das livrarias virtuais. A Amazon avisa que quem encomendar o livro agora só receberá sua cópia daqui a dois meses.

Por enquanto, estão disponíveis apenas cinco episódios da primeira temporada. Os outros cinco, no entanto, já foram gravados. Ainda sem anunciar a data de estreia, a Netflix garante que a espera será curta.

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