O início desta semana foi marcado pela queda intensa nas bolsas de valores em todo o mundo, sob o impacto da expansão do coronavírus fora da China, em países como Coreia do Sul, Itália, Áustria, Espanha e Irã. Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), já são mais de 81 mil casos e um número superior a 2,8 mil mortes relacionadas ao vírus.

No Brasil, o mercado de capitais ficou blindado dessa exposição por conta do Carnaval. Com o fim da folia, no entanto, e a abertura das negociações na bolsa brasileira, nesta quarta-feira, 26 de fevereiro, a partir das 13h, veio a já esperada ressaca.

E ela foi intensa, tendo como impulso adicional a confirmação do primeiro caso do vírus no País. Na volta do feriado, o Ibovespa operou em forte queda e encerrou o dia com com baixa de 7%, com 105.718 pontos.

Nesse cenário, as companhias aéreas Gol e Azul lideraram a lista de maiores recuos do pregão, com perdas de 14,3% e 13,3%, respectivamente. Outras empresas ligadas ao setor de turismo também refletiram esse contexto, como a CVC, que chegou a registrar queda de mais de 7% durante o dia.

“Mesmo sem ter quase participação no mercado lá fora, essas aéreas brasileiras têm 50% de seus custos atrelados ao dólar, o que impacta diretamente em seus resultados”, disse Betina Roxo, analista de ações da XP Investimentos, durante transmissão sob os impactos do coronavírus na economia, no fim da tarde desta quarta-feira.

O dólar comercial fechou o dia a R$ 4,444 na venda, uma alta de 1,16%. O índice representou o maior valor nominal da moeda americana desde a criação do Plano Real.

Os impactos extrapolaram o segmento de turismo e alcançaram outras empresas e setores. A relação das maiores baixas no dia incluía a Gerdau, a CSN e a JBS, todas com perdas superiores a 9%.

“Todas essas cotações estão diretamente relacionadas com a oferta e a demanda na China, que é grande compradora dessas indústrias”, diz Eduardo Belotti, CEO da Real Valor, startup de investimentos.

Há, no entanto, um outro componente que reforça o impacto para as siderúrgicas brasileiras. “Essas empresas já vinham sofrendo com a decisão do governo americano de taxar o aço internacional em 25%”, afirma William Teixeira, head de renda variável da Messem Investimentos. “A Gerdau, por produzir nos Estados Unidos, seria teoricamente menos prejudicada, mas também acaba sofrendo com esse cenário.”

Sinais

Antes mesmo da volta das negociações na B3, os sinais de que as empresas brasileiras não passariam incólumes a essa crise já haviam sido dados. Na segunda e na terça-feira, o EWZ, um dos índices que refletem as principais ações brasileiras negociadas no exterior, acumulou uma queda de 6,3% nos Estados Unidos.

Segundo a casa de análises Levante Investimentos, entre os papéis locais que registraram maior queda no mercado americano nesse intervalo figuram a Vale, com 9,72%; a Petrobras, com 9,08% nas ações preferenciais e 8,62% nas ordinárias; e a Gerdau, com 8%.

“No caso da Vale, a pressão de baixa vem sobretudo da perspectiva de baixa demanda por minério de ferro, enquanto ainda lida com a recente divulgação de seu balanço e o desastre de Brumadinho, trazendo mais prejuízos do que o esperado”, escreveu, em relatório, a Levante.

“Qualquer setor ligado a commodities, como mineração e petróleo, estará mais exposto nesse momento”, diz Teixeira, da Messem. Em contrapartida, ele cita segmentos como as empresas de concessões de energia elétrica, menos ligados ao mercado internacional e donos de receitas recorrentes, como aqueles com perspectivas mais positivas nesse cenário.

Teixeira acrescenta, porém, que o grau de incerteza ainda é elevado. “Enquanto o vírus estava contido na China, boa parte do mercado até conseguia precificar esse risco”, afirma. “Agora, com essa rápida disseminação pelo mundo, inclusive no Brasil, o grande medo é não conseguir saber ainda exatamente qual será a extensão dessa situação e seu reflexo na economia global.”

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