O setor de e-commerce foi um dos que mais cresceu durante a pandemia, com as pessoas recorrendo à internet para realizar compras em meio ao lockdown imposto para combater a disseminação da Covid-19. E quem mais ganhou com isso foi o Mercado Livre.
A companhia argentina se transformou na referência para o varejo online no Brasil e na América Latina, a ponto de assumir o posto de empresa latino-americana mais valiosa por diversos momentos entre 2020 e 2021 - a última vez em que esteve na liderança foi em setembro do ano passado, ao ser avaliada em US$ 93 bilhões.
De lá para cá, porém, a maré virou. Com a abertura do varejo de rua e a escalada da inflação, o volume de compras pela internet diminuiu, levando o valor do Mercado Livre para os atuais US$ 36,3 bilhões. E a tendência é que o cenário não melhore daqui para frente, segundo relatório do Itaú BBA.
Os analistas do banco de investimentos alertam que a empresa deve enfrentar um cenário bearish no e-commerce da América Latina nos próximos anos. Por conta disto, e do desempenho visto no primeiro trimestre, o Itaú BBA rebaixou o preço-alvo das ações de US$ 1.573 para US$ 1.100, mas mantevve a recomendação de compra.
Antes de continuar, um breve parênteses. A palavra bearish vem do termo em inglês bear market, ou “mercado do urso”, utilizado por investidores para se referirem a um mercado em baixa. O uso da imagem do urso vem do fato de ele, ao atacar uma presa, sufocá-la em direção ao solo, um movimento de baixa.
No caso do Mercado Livre, os analistas Thiago Macruz, Helena Villares, Maria Clara Infantozzi e Gabriela Moraes esperam que o desempenho entre 2022 e 2024 seja afetado pelo “abraço de urso” previsto para o e-commerce brasileiro.
Eles projetam que o ritmo de crescimento do GMV no Brasil vai desacelerar de maneira mais intensa neste e nos próximos dois anos. A expectativa é de altas de 15% para 2022, de 14% em 2023 e 13% em 2024, abaixo das projeções anteriores - avanços de 22%, 20% e 19%, respectivamente.
Para o México, a expectativa é de que o GMV cresça 30% em 2022, 35% em 2023 e 32% em 2024, contra altas estimadas inicialmente de 49%, 47% e 48%, respectivamente.
O que deve ajudar o Mercado Livre, segundo os analistas do Itaú BBA, é a capacidade da empresa de monetizar sua plataforma, com serviços de fulfillment, crescimento da área financeira e receita com publicidade. Esses pontos devem ajudar a margem bruta a crescer acima do esperado, em 4,5 pontos percentuais, para 44,4% em 2022 e 45,4% em 2023.
Mas a última linha do balanço foi revisada negativamente em 38%, para US$ 383 milhões, em 2022, e em 28%, para US$ 611 milhões, em 2023, diante dos efeitos da alta de juros pelo mundo e menor rentabilidade das operações na Argentina.