Na Fórmula 1, o “pole position” é o piloto que conquista o direito de largar na frente. É, portanto, o competidor que tem mais chance de vencer a corrida, se souber usar bem esse privilégio até a última volta.

Se o e-commerce brasileiro decidisse fazer uma disputa no autódromo de Interlagos, o “pole position” seria o Mercado Livre, que nesta semana captou R$ 8,5 bilhões em um follow on e se tornou a empresa do setor com mais caixa disponível para fazer investimentos, à frente de Magazine Luiza, Americanas e Via.

Quem montou esse grid de largada foi o Credit Suisse, que analisou as captações feitas pelas companhias nos últimos três anos, os investimentos já realizados e os resultados financeiros dos últimos balanços.

“O Mercado Livre assumiu a ‘pole position’ do e-commerce e agora é quem tem mais poder de fogo para continuar investindo em uma aceleração sustentável que, em última análise, vai apoiar o crescimento à frente”, escrevem os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto.

O Magazine Luiza, em segundo lugar, tinha R$ 7,7 bilhões de "poder de fogo" no segundo trimestre, mas, com o R$ 1 bilhão que já consumiu na compra da KaBum! e com a deterioração das suas margens no terceiro trimestre, agora tem R$ 5,8 bilhões, estima o Credit Suisse.

A Americanas aparece em terceiro, com R$ 3 bilhões, e a Via fecha a segunda fileira com R$ 610 milhões.

De 2019 para cá, o Mercado Livre é também quem mais captou no mercado, com R$ 15,9 bilhões. O segundo colocado é a Americanas, com R$ 10,3 bilhões, seguida de Magazine Luiza, com R$ 8,2 bilhões, e Via, com R$ 4,4 bilhões.

Para o Credit Suisse, a mais recente captação do Mercado Livre não muda “dramaticamente” o cenário de competição para o e-commerce, mas deixa a disputa mais difícil para as outras três concorrentes, que já enfrentam um cenário macroeconômico desafiador no Brasil, com juros e inflação em alta.

"A posição (delas) ainda é confortável, mas como o crescimento do e-commerce historicamente consome caixa e isso provavelmente não mudará em um futuro previsível, não podemos ignorar que pode ser mais doloroso para Magazine Luiza, Americanas e Via buscar recursos no mercado, se os investidores continuarem penalizando as ações", dizem os analistas.

A ação da Magazine Luiza acumula queda de 62% em 2021, a R$ 9,48, enquanto o Credit Suisse estima preço-alvo de R$ 15 em 12 meses. O papel da Americanas tem desvalorização de 55% no ano, a R$ 33,80. O banco vê potencial para R$ 42. Já a Via cai 46%, a R$ 5,70, pouco acima do preço-alvo estimado pelo Credit Suisse, de R$ 5,50.

Enquanto o último follow on do Mercado Livre representou "uma diluição muito pequena", compara o Credit Suisse, a mesma quantidade diluiria os acionistas da Magazine Luiza e da Americanas em 12% e 22%, respectivamente. No caso de Via, a diluição seria ainda maior, de 49%.

"Não nos interpretem mal. Não estamos dizendo que essas empresas irão ao mercado logo, mas se e quando o fizerem, pode haver um pouco mais de diluição", afirma o banco. "O atual cenário requer um uso mais cuidadoso do caixa disponível."

Na avaliação do Credit Suisse, o curto prazo continuará difícil para as empresas de comércio eletrônico, "devido ao fraco crescimento dos canais físicos e das composições rígidas nas categorias principais".

"No entanto, acreditamos no aumento da penetração do e-commerce e em um crescimento atraente para 2022, o que pode representar um ponto de inflexão para o Magazine Luiza e Americanas (ambos classificadas como 'outperform')", afirmam.

Em relação à Via, o banco tem uma visão menos favorável, uma vez que o recente aumento das provisões trabalhistas, para R$ 2,5 bilhões, "provavelmente exigirá muito dinheiro que antes era esperado para ser investido no crescimento, o que ajuda a justificar nosso rating de 'underperform'."

Em Nova York, a ação do Mercado Livre é negociada a US$ 1.487,33, em queda acumula de 9,31% no ano. O Credit Suisse calcula preço alvo de US$ 2.200 em 12 meses.