O americano Michael Burry, que ficou conhecido ao ser interpretado por Christian Bale no cinema, escreveu um conselho curto e grosso no Twitter: "venda". A palavra postada na sua conta na rede do passarinho azul, na quarta-feira, 1º de fevereiro, foi a resposta do investidor à recuperação surpreendente do mercado de ações em janeiro, após o tombo verificado no ano passado.
Fundador da Scion Asset Management, Burry previu a bolha imobiliária de 2008 e ganhou US$ 850 milhões com a crise do suprime, um feito que inspirou o livro e o filme “A Grande Aposta”.
Seu post cifrado era uma referência à recente recuperação de ações de algumas empresas, em especial de tecnologia, que tiveram forte desvalorização em 2022. O recado, porém, era claro: ainda é cedo para acreditar que o jogo da renda variável virou.
O índice de referência S&P 500 aumentou 6,2% em janeiro, enquanto o índice Nasdaq Composite subiu 11%, registrando seu melhor desempenho em janeiro desde 2001.
A queda das ações de tecnologia em 2022, após acumularem valorização por vários anos, foi resultado da migração dos investidores para ativos de curto prazo.
O movimento teve início com o aumento histórico da inflação nos EUA no ano passado, o que levou o Federal Reserve, o banco central dos EUA, a aumentar as taxas de juros de quase zero para mais de 4%.
Na atual retomada, as ações da Tesla, montadora de carros elétricos do bilionário Elon Musk, obtiveram um ganho de 41% em janeiro, tornando-se o segundo melhor desempenho no S&P 500, enquanto o principal fundo Ark Innovation, de Cathie Wood, registrou seu melhor mês de todos os tempos.
Visionário, Burry já havia feito apostas contra ações da montadora e do fundo com foco em tecnologia em 2021, antes do desempenho atual.
O fundador da Scion Asset Management, que sempre usou o Twitter para alardear suas previsões, já vinha enfatizando a instabilidade do preço dos ativos há dois anos.
Chegou a diagnosticar a "maior bolha especulativa de todos os tempos em todas as coisas" e previu a "mãe de todas as quedas” no segundo semestre de 2021.
No ano passado, subiu o tom. Em outubro, comparou o momento do mercado com o início do estouro da bolha pontocom, no começo dos anos 2000, identificando o mesmo comportamento irracional do mercado acionário de crises anteriores.
Em 23 de janeiro, Burry tuitou um gráfico mostrando a queda do S&P 500 durante o crash das pontocom e circulou em vermelho sua alta entre setembro de 2001 e março de 2002, antes de atingir o fundo do poço seis meses depois.
O recado era que o aumento de 17% do S&P 500 desde a baixa de outubro passado também poderia ter vida curta.
Seu tuíte de apenas uma palavra reforça sua convicção de que a virada do mercado de ações deve demorar.