Em abril de 2021, em meio à intensa competição que as diversas plataformas de investimentos travavam entre si pelos recursos dos investidores do varejo, a Inter Invest lançou um cashback de ofertas públicas, repassando 50% da comissão de distribuição para os investidores da plataforma
Agora, em meio a alta dos juros e a uma retração no interesse das pessoas com o mundo dos investimentos, em especial o de renda variável, a divisão de investimentos do Banco Inter está fazendo um novo movimento para conquistar o cliente do varejo.
A instituição começa a oferecer o serviço de carteiras administradas para os clientes que tenham ao menos R$ 50 mil investidos em sua plataforma. Antes, isso era restrito a investidores que mantinham R$ 1 milhão investidos no Inter.
“O marketplace está pronto, posso colocar um produto ou outro, mas agora queremos ajudar o nosso cliente com serviço de investimentos”, diz Felipe Bottino, diretor da Inter Invest, ao NeoFeed.
Com R$ 67 bilhões em ativos sob custódia e 3 milhões de pessoas em sua plataforma de investimento, a Inter Invest acredita que "centenas de milhares" de clientes são elegíveis a usar esse novo serviço, de acordo com Bottino.
O serviço será tocado pela Inter Asset, gestora que foi incorporada pela Inter Invest em 2019, após a compra de uma fatia de 70% na DLM Invista. Atualmente, ela conta com mais de R$ 8 bilhões em ativos sob gestão e 90 fundos próprios.
A asset faz gestão de carteiras administradas desde 2015, contando atualmente com mais de 400 carteiras administradas, que são aquelas que compete à gestora definir a melhor estratégia de investimentos.
O desafio agora é conseguir oferecer o mesmo nível de serviços para o varejo. Para isso, a Inter Invest vai contar com o apoio da tecnologia. Em um primeiro momento, o interessado terá interação com pessoas da asset, mas a ideia é tornar o processo de identificação do perfil de risco e as expectativas de retorno automatizado.
Feito esse enquadramento, a Inter Invest vai oferecer uma carteira para o cliente, cuja composição e decisões de investimentos serão baseados em uma estratégia maior desenhada pelos gestores da asset para cada perfil e necessidade de investidor.
Segundo Daniel Castro, CEO da Inter Asset, a gestora passou mais de 12 meses trabalhando na sistematização de processos, desde a venda da carteira, passando pela gestão e reenquadramento de portfólios, chegando ao envio de informações ao cliente.
“Depois de muito investimento em tecnologia, conseguimos superar o desafio de levar as carteiras administradas para o varejo”, diz Castro. “O cliente não terá nenhuma informação a menos do que o cliente com mais de R$ 1 milhão.”
Para acessar o serviço, o cliente terá que pagar uma taxa baseada no tamanho da carteira. No caso de uma carteira de R$ 50 mil, o Inter vai cobrar uma taxa de gestão de cerca de 0,9% ao ano em relação ao patrimônio, caindo para 0,3% ao ano à medida que o valor na carteira vai crescendo.
A decisão de oferecer o serviço de carteira administrada está baseada numa avaliação de que o processo de atração de clientes para o mundo dos investimentos precisa entrar em uma nova fase.
Segundo Bottino, a plataforma aberta de investimentos, com vários produtos à disposição, tem gerado uma paralisia em muitos clientes, que ficam em dúvida na hora de escolher o produto.
“A plataforma aberta foi um movimento necessário em um primeiro momento, quando os grandes bancos concentravam grande parte dos recursos e nem sempre investiam de maneira eficiente”, diz Bottino. “Agora, a plataforma aberta não é mais o que 95% dos brasileiros precisam, nem o que vai ser o melhor para o cliente.”
A iniciativa do Inter de oferecer o serviço de carteira administrada para um público com um montante de investimento menor não é necessariamente nova. A Warren permite investir em uma carteira administrada com R$ 100. No entanto, ela é um dos poucos casos de valor menor, uma vez que a maioria dos competidores exige valores a partir de R$ 100 mil, como é o caso da EQI.
A estratégia de buscar clientes com tíquete menor pode ajudar na atração de novos clientes, uma vez que R$ 50 mil não é necessariamente um valor muito atrativo para o atual modelo de agentes autônomos, bastante utilizado por XP e BTG Pactual, segundo Luciana Ikedo, especialista em investimentos.
“Quando se coloca uma taxa maior, como 0,9%, você acaba viabilizando o atendimento deste cliente”, afirma. “O Inter tem também um modelo digital, o que também acaba ajudando a tornar a operação viável.”
A medida também pode dar a sua contribuição em um momento em que todos estão de olho na rentabilidade dos bancos digitais, principal inquietação de curto prazo dos investidores em relação ao Inter.
No quarto trimestre de 2022, o Inter apresentou resultados mistos, segundo o BB Investimentos, com crescimento de receitas de juros e de serviços, onde a Inter Invest se enquadra. Mas teve uma escalada de despesas, além de deterioração sequencial da inadimplência.
O lucro líquido, nos três últimos meses de 2022, foi de R$ 29 milhões, revertendo o prejuízo registrado no mesmo período de 2021, graças a um ganho fiscal. A receita líquida cresceu 33%, para R$ 1 bilhão.
A despesa com pessoal, principal ponto destacado por analistas, subiu 63%, enquanto a taxa de inadimplência (NPL) aumentou em 0,30 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, para 4,1%.
As ações fecharam o pregão de terça-feira, 14 de março, com queda de 8,94% na Nasdaq, a US$ 1,63. Em um ano, os papéis acumulam baixa de 81,4%, levando o valor de mercado a US$ 653,8 milhões.