A Shopee atravessa um momento conturbado em seus negócios. Somente em setembro, a companhia informou que estava encerrando suas operações na Argentina e que iria reduzir o quadro de funcionários em outros mercados da América Latina. Também nesse mês, a plataforma de e-commerce promoveu um aumento no take rate cobrado dos sellers no Brasil.
As medidas despertaram dúvidas sobre o futuro do negócio. A tensão foi tanta que o Forrest Li, fundador e CEO do Sea Group, conglomerado de Cingapura que controla a operação, enviou pessoalmente um e-mail aos funcionários da companhia abordando esses movimentos.
Mas além das explicações sobre esse contexto, o documento, obtido pelo NeoFeed, trouxe também um aviso: a companhia vai apertar ainda mais o cinto.
“Devemos encontrar todas as formas de reduzir nossos custos operacionais. Quanto mais dinheiro economizamos a cada dia, mais tempo podemos comprar para enfrentar essa tempestade”, informa um dos trechos do e-mail enviado pelo CEO da Sea aos funcionários da Shopee em todo o mundo.
A mensagem lista algumas das ações que serão adotadas de imediato para reduzir os gastos. As principais medidas estão relacionadas aos gastos dos funcionários em viagens de trabalho.
A partir de outubro, todos os reembolsos para essas viagens estarão limitados a voos de classe econômica e a um valor de US$ 150 por diária em hotéis. Em viagens internacionais, as despesas com refeições estarão restritas a US$ 30 por dia, enquanto no caso do transporte, a orientação é usar a opção mais econômica ofertada por serviços locais de mobilidade.
Além disso, Li informou que os líderes da companhia não irão receber nenhuma compensação no curto prazo. A ordem é economizar o máximo de recursos até que a empresa esteja saudável financeiramente.
O executivo explicou que as medidas integram um plano da empresa para se tornar autossuficiente - o que consiste em atingir fluxo de caixa positivo. Isso deverá ser feito num período entre 12 e 18 meses.
"A única maneira de nos libertarmos da dependência de capital externo é nos tornarmos autossuficientes, gerando caixa suficiente para todas as nossas necessidades e projetos”, diz um dos trechos do documento.
Virar essa chave não será fácil. Apesar de reportar um crescimento de receita de 75,6%, para US$ 1,75 bilhão, no segundo trimestre de 2022, e de 27,2% no volume bruto de mercadorias (GMV), para US$ 19 bilhões, a Shopee viu seu prejuízo operacional passar de US$ 579,8 milhões para US$ 648,1 milhões na comparação com igual período de 2021.
Os resultados impactaram diretamente o desempenho do Sea Group na bolsa de valores. Avaliado em US$ 33,2 bilhões, o grupo comandado por Li já perdeu mais de 70% de valor de mercado desde o começo do ano.
A Shopee cresceu ao se aproveitar de uma estratégia agressiva de expansão, bancada pelo dinheiro de investidores. Foi desta forma que a empresa ganhou fôlego para sair da Ásia e conquistar novos mercados na América Latina e na Europa.
Nos últimos meses, no entanto, a empresa passou a enfrentar dificuldades. Ao mesmo tempo em que os resultados financeiros apontam para o aumento do prejuízo, o mercado ficou mais restrito e com menos opções para novas captações. A solução, então, foi mudar a estratégia.
“No passado, focamos primeiro no crescimento e, às vezes, no crescimento a qualquer custo. Esta não foi uma abordagem errada, pois as condições globais estavam repletas de oportunidades na época”, diz um dos trechos do e-mail. “Mas agora que as condições globais mudaram, nós também devemos nos adaptar.”
Essa adaptação se traduziu no fim das operações na Argentina, Espanha e Índia. Houve também redução do quadro de funcionários em mercados como Chile, Colômbia, México, Tailândia, Indonésia, Vietnã. O Brasil, a princípio, passou ileso no que diz respeito aos cortes.
Numa tentativa de tranquilizar os funcionários, mas ainda manter o alerta, Li afirmou que a empresa hoje tem “uma base sólida de dinheiro” que coloca o negócio “em uma posição segura” em relação ao mercado de tecnologia. “No entanto, podemos facilmente extinguir essa base se não formos cuidadosos”, acrescentou.