Fundada em fevereiro de 2015, como o braço de comércio eletrônico da Sea, grupo de Cingapura, a Shopee começou a expandir suas fronteiras em 2019. A partir do desembarque no Brasil, naquele ano, a plataforma chegou a outros países da América Latina e também a mercados como Espanha e Índia.

Três anos depois, no entanto, a companhia está seguindo um roteiro inverso, ao reduzir ou mesmo encerrar boa parte dessas operações. E as medidas mais recentes nessa direção vieram à tona nesta quinta-feira, 8 de setembro.

Segundo a agência de notícias Reuters, a Sea comunicou hoje aos seus funcionários que está encerrando a operação da Shopee na Argentina e reduzindo os quadros da companhia no Chile, na Colômbia e no México. A reportagem cita um e-mail interno enviado aos profissionais do grupo e informações obtidas com pessoas a par desses movimentos.

Procurada pelo NeoFeed, a empresa informou que a operação brasileira da plataforma não será afetada por essa decisão e confirmou que a única operação a ser fechada, de fato, será a da Argentina, que vinha operando como um projeto-piloto. Nos demais países citados, a plataforma irá se concentrar em um modelo de transações cross-border.

De acordo com o e-mail obtido pela Reuters, o CEO da Shopee, Chris Feng, disse aos funcionários que “à luz da atual incerteza macroeconômica elevada”, a empresa precisava focar seus recursos em suas principais operações.

A justificativa segue exatamente as palavras e o tom adotados na divulgação do resultado da Sea no segundo trimestre, em agosto. Na época, o grupo também citou o ambiente macroeconômico incerto para suspender as projeções anuais de receita para a sua unidade de comércio eletrônico e anunciou que passaria a focar ainda mais em eficiência e na rentabilidade dessa divisão.

O novo posicionamento foi precedido pela divulgação do grupo de um prejuízo líquido de R$ 569,8 milhões no segundo trimestre, alta de 77,4% sobre a perda registrada em igual período, um ano antes. Já a receita total da companhia cresceu 29%, para US$ 2,94 bilhões.

Apesar de um crescimento de receita de 75,6%, para US$ 1,75 bilhão, e de 27,2% no volume bruto de mercadorias (GMV), para US$ 19 bilhões, a Shopee reportou um prejuízo operacional de US$ 648,1 milhões entre abril e junho, contra US$ 579,8 milhões, um ano antes.

A redução da presença na América Latina não é o primeiro passo da Shopee em meio a esse ambiente mais desafiador. Antes, a empresa já havia fechado suas operações na Índia, em março desse ano, e na Espanha, em junho.

Ao mesmo tempo, a empresa já havia promovido cortes em seus quadros em mercados como Tailândia, Indonésia e Vietnã, além de reduzir as equipes no braço de pagamentos ShopeePay e na plataforma de delivery de alimentos, batizada de ShopeeFood.

Ao que tudo indica, o Brasil parece destoar dessa corrente negativa. A subsidiária local que, volta e meia é destacada nos balanços da Sea, registrou um salto de receita de 270% no segundo trimestre. O grupo não revela números consolidados da operação. Mas alguns passos recentes sinalizam como ela vem evoluindo no País, onde a Shopee mantém uma equipe de mais de 1,5 mil funcionários.

Além de elevar o take rate – taxas de transação – cobrado dos sellers locais em dois pontos percentuais, em linha com a busca de um negócio mais rentável, a companhia ampliou, por exemplo, sua malha logística no País. Em junho, a Shopee acrescentou cinco centros de distribuição à sua estrutura local, que já contava com uma unidade no estado de São Paulo.

As ações da Sea fecharam o pregão de hoje cotadas a US$ 59,36, com ligeira alta de 0,9%. No ano, os papéis da companhia acumulam uma desvalorização de 73,4%. A companhia, que chegou a valer mais de US$ 200 bilhões em outubro de 2021, agora está avaliada em US$ 33,3 bilhões.