São muitos os esforços de Elon Musk para dominar a indústria aeroespacial com a SpaceX, conforme mostra “De Volta ao Espaço”. O documentário é uma espécie de atalho para a mente do empreendedor obstinado em colonizar Marte, o que ele vê como a única saída para a preservação da vida.

“A Terra é o berço da humanidade. Mas você não pode ficar no berço para sempre”, diz o empresário da tecnologia logo nos primeiros minutos da produção já disponível no catálogo da Netflix. “É hora de seguir adiante. De estar lá entre as estrelas e de expandir o escopo e a escala da consciência humana”, completa ele.

O título se refere ao retorno da exploração espacial a partir do solo americano, enviando astronautas à Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês). Acompanhamos aqui a trajetória da SpaceX, criada por Musk em 2002, a primeira companhia privada a fazer parceria com a NASA.

Como a agência espacial americana abriu mão do transporte de tripulantes à ISS, aposentando seus ônibus espaciais em 2011, os lançamentos foram terceirizados. E a SpaceX foi a empresa escolhida, conforme Musk lembra, com entusiasmo, no filme: “A NASA nos ligou e disse que tínhamos ganhado o contrato de US$ 1,5 bilhão. Mal pude segurar o telefone. Só disse: Eu amo vocês”.

O documentário tem início com a missão pilotada por Douglas Hurley e Robert Behnken, no voo conhecido como Crew Dragon Demo-2. Realizada em maio de 2020, a empreitada representou o primeiro passo para levar humanos ao planeta Marte, o sonho de Musk.

Dirigido por Elizabeth Chai Vasarhelyi e Jimmy Chin, o filme mostra um pouco da vida familiar dos astronautas, com todas as suas ansiedades diante da missão. Mas o foco cai mesmo nos altos e baixos da SpaceX, com destaque para os desafios no sentido de concretizar o transporte de humanos no futuro.

“O avanço absolutamente fundamental para a humanidade se tornar uma espécie multiplanetária é um sistema de foguetes totalmente reutilizáveis”, conta o empresário aqui. E essa capacidade de trazer o veículo de volta ao solo com segurança, enviando-o novamente, é o que marca uma nova era, com a exploração do espaço como um negócio.

Conforme os engenheiros explicam no filme, o foguete reutilizável até então não tinha sido almejado pela dificuldade de o sistema guiar o pouso da nave com absoluta precisão. Foram pelo menos sete anos para a SpaceX conseguir resolver a questão, ao desenvolver novas tecnologias, ligadas principalmente ao motor.

Essa conquista, capaz de revolucionar a viagem espacial, chegou no ano passado, quando o primeiro pouso com segurança foi realizado, após quatro tentativas que acabaram em explosões. “Com um sistema reaproveitável, agora um foguete pode ser lançado por um décimo do custo necessário anteriormente”, afirma Lori Garver, ex-administradora adjunta da NASA no documentário.

“De Volta ao Espaço” chega em boa hora, já que no mês passado o visionário prometeu o primeiro teste orbital da nave espacial batizada de Starship para maio. O protótipo vem sendo desenvolvido na empresa desde 2005, com design e nome que já foram mudados várias vezes.

“Existe uma pequena chama de consciência na Terra. Ela não existe há muito tempo e pode facilmente ser extinta. Pode ser um meteoro, a extrema mudança climática ou, quem sabe, uma terceira guerra mundial”, afirma Musk, que é tratado quase como um Deus no filme.

“Quase”, já que existem poucas passagens sobre as excentricidades e as polêmicas envolvendo Musk, que também é dona da Tesla, a fabricante de carros elétricos. O bilionário que questionou a gravidade da pandemia no Twitter é rapidamente visto aqui fumando maconha no programa de Joe Rogan. Vemos também o seu uniforme metálico de Iron Man, o que sugere um traço juvenil.

A cena mais desconcertante, no entanto, traz o empreendedor visivelmente contrariado, quando a NASA decide cancelar o lançamento de um foguete devido ao mau tempo. Aqui Musk mais parece um menino que insiste em brincar lá fora, na chuva, apesar da proibição dos pais. (veja o trailer)