Especializada em agtechs, a SP Ventures já investiu em diversas verticais do setor. De agfintechs e plataformas de gestão da propriedade a startups de agricultura vertical. Agora, a gestora decidiu voltar seu olhar para o maquinário. E, nesse campo, a melhor solução que encontrou foi fora do Brasil.
A SP Ventures investiu recentemente na Verge Ag, agtech canadense dona de uma plataforma de gestão da frota de máquinas no campo, em rodada cujo valor não foi divulgado. Fundada em 2019, a startup já havia captado US$ 1,5 milhão, em 2019, com o fundo de private equity americano Fall Line Capital, que também participa do novo aporte.
"A Verge ataca um problema que víamos muito no setor sucroenergético e que é uma dor da agricultura como um todo", diz Francisco Jardim, sócio da SP Ventures, ao NeoFeed. "O planejamento de maquinário normalmente é reservado aos grandes produtores. Os médios e pequenos não fazem nada ou fazem muito pouco.”
A Verge Ag desenvolveu um software, batizado de Launch Pad, que auxilia os produtores a planejarem a operação de seu maquinário no campo. Por meio de um tablet, é possível criar um roteiro por onde as máquinas irão passar, otimizando o seu percurso.
Com o percurso definido, a ideia é que a gestão dos recursos seja mais eficiente. O produtor gasta menos com diesel, evita que o trator passe várias vezes no mesmo lugar, compactando o solo, e reduz a depreciação dos equipamentos.
No caso de um cliente canadense, divulgado pela startup, os produtores conseguiram aumentar a produtividade de cada máquina em 13%, o que representou uma economia de US$ 61 mil em custos operacionais anuais.
Este é o primeiro aporte que a SP Ventures faz em uma startup da América do Norte. "O Brasil seguirá sendo a nossa prioridade", afirma Jardim. Em sua visão, questões como a linguagem e os conhecimentos em agricultura tropical favorecem os empreendedores locais.
"Mas estamos pensando em investir lá fora e passamos a olhar para empresas com soluções de tecnologia que podem ser adaptadas para o mercado brasileiro”, afirma. “Com a Verge foi exatamente assim.”
Com os recursos injetados na rodada, a Verge quer acelerar sua atuação fora do Canadá. O LaunchPad já é utilizado por produtores na Finlândia e na América Latina, incluindo o Brasil, em aproximadamente 250 mil hectares.
No País e na região, a agtech vai operar em parceria com a Tecgraf, empresa com 30 anos no mercado e um modelo que mescla a venda de licenças do software AutoCAD, de propriedade da companhia americana Autodesk e muito usado por engenheiros e arquitetos, com um sistema próprio, o AgroCAD, voltado especificamente ao agronegócio.
“A Verge nos contatou e mostrou a sua solução, que traçava as rotas em um ambiente web, enquanto nós usamos o desktop", diz Amyr Girondi, sócio e diretor comercial da Tecgraf. "Gostamos da ideia da portabilidade, mas vimos que ela era um pouco limitada em termos de funcionalidade".
Depois desse primeiro contato, as duas empresas começaram a costurar uma parceria envolvendo os conhecimentos da Tecgraf e a aplicação da Verge. E, em dezembro de 2020, a companhia brasileira tornou-se sócia da agtech canadense, com uma fatia não revelada, além de ficar responsável pela distribuição do LaunchPad aos produtores latino-americanos.
O modelo de negócios da parceria envolve a cobrança de um montante anual baseado no tamanho da propriedade. O custo é de cerca de R$ 5 por hectare por ano. É um valor muito mais acessível que o AgroCAD, que precisa ser usado em conjunto com o AutoCAD, o que faz com que o seu tíquete médio anual seja de R$ 25 mil.
Os dois softwares são bastante diferentes em termos de aplicação e público-alvo. Enquanto o AgroCAD é mais usado por grandes produtores de cana, que precisam plantar em curvas de nível, o LaunchPad é mais voltado a propriedades menores e a terrenos mais planos.
Com mais de 700 clientes distribuídos em 14 países da América Latina, incluindo Guatemala, Nicarágua, Colômbia, a Tecgraf é um parceiro estratégico para a Verge. "Eles iam chegar tateando do zero. Nós sabemos quem são os clientes", afirma Girondi.
Ele destaca ainda que a distribuição do LaunchPad é apenas o primeiro passo. A parceria prevê novas funcionalidades, além da compatibilidade com diferentes tipos de máquinas. Lá fora, a solução funciona apenas com maquinário da John Deere.
Na ativa
Os recursos do aporte fazem parte do AgVentures II, fundo captado pela SP Ventures. Em fevereiro, a gestora anunciou um novo closing, com a participação do International Finance Corporation (IFC), braço de investimentos do Banco Mundial. Basf, Syngenta Ventures, a fabricante de fertilizantes Mosaic e a francesa Adisseo, de nutrição animal, também investiram no fundo.
Até agora, são R$ 160 milhões captados, mas Francisco Jardim diz que um novo closing deve ser anunciado em breve. "Vamos passar de R$ 200 milhões", afirma. A meta da gestora é fechar o ano com 10 novos aportes. “Estamos com um pipeline bastante agressivo.”
Além do investimento na Verge, os recursos do AgVentures II foram destinados a outros três investimentos. O primeiro deles, em setembro de 2020, a participação em uma rodada de US$ 2 milhões na Leaf, responsável por APIs, padrões de programação para que máquinas conversem entre si.
Outra, em outubro, em uma rodada de US$ 3 milhões na Agrofy, marketplace argentino conhecido como o Mercado Livre do agronegócio. E a terceira, em novembro, com um aporte total de US$ 2,5 milhões na Traive, agfintech que oferece soluções de análise de risco para que produtores consigam linhas de crédito mais atrativas.
O portfólio da SP Ventures inclui ainda a plataforma de agricultura digital Agrosmart; a Horus Aeronaves, que faz o mapeamento da lavoura usando drones; a Pink Farms, de agricultura vertical; e a JetBov, plataforma de gestão para a pecuária.
Recentemente, a gestora vendeu sua participação na agfintech Brain Ag, cujas soluções monitoram os riscos financeiros envolvidos na concessão de crédito para produtores, para a Serasa Experian.