Em maio de 2021, a Pague Menos anunciou um acordo com a Ultrapar para a aquisição da Extrafarma. Prestes a completar um ano, a transação de R$ 700 milhões, bastante estratégica para a rede cearense de farmácias, ainda não obteve a aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade)

Essa longa espera, entretanto, parece estar perto do fim. E mesmo sem uma data definida para uma decisão do Cade, a expectativa na companhia é de que ela não tardará e virá acompanhada de outras boas notícias.

“As últimas exigências já foram repassadas e devemos ter um posicionamento do Cade muito em breve”, disse Mário Queirós, CEO da Pague Menos, em conferência com analistas nesta terça-feira, 3 de maio. “Não podemos precisar se poderemos 'tomar as chaves' da Extrafarma nesse trimestre, mas estamos bastante otimistas.”

Segundo Luiz Novais, CFO da rede, as últimas interações com o órgão indicam que, caso haja algum remédio atrelado a esse veredicto, ele será pequeno. Enquanto aguarda essa decisão, a Pague Menos atualizou a projeção de sinergias a partir do acordo, por conta da inflação.

Na época do anúncio, a companhia estimava um potencial de sinergias entre R$ 150 milhões e R$ 250 milhões, sendo boa parte delas obtidas nos dois primeiros anos da operação combinada. Agora, a previsão é de ganhos na faixa de R$ 180 milhões a R$ 275 milhões.

Para a Pague Menos, um dos pontos-chave da aquisição da Extrafarma é defender seu território nos dois mercados nos quais têm maior presença, as regiões Norte e Nordeste, frente ao avanço de redes como a Raia Drogasil (RD). E também junto ao seu público prioritário, os consumidores das classes B2, C e D.

Quando a transação foi divulgada, a Extrafarma tinha uma rede com 402 lojas, em 10 estados, sendo 89% delas no Norte e no Nordeste e 66% dessa base voltada aos consumidores da chamada classe média expandida, justamente o foco tradicional da Pague Menos e, cada vez mais, da RD.

Os executivos da Pague Menos também reforçaram que a integração da Extrafarma não irá impactar nos planos de expansão da rede, que voltou a inaugurar lojas em 2021, após um hiato em 2020, e prevê abrir 120 unidades nesse ano.

Com uma base total de 1.169 pontos de venda, a expectativa da companhia é fechar o segundo semestre com 40 inaugurações e cumprir a meta restante na segunda metade do ano. Como de praxe, a prioridade será as regiões Norte e Nordeste, com 70% nos projetos em cidades do interior.

Ao citar dados da consultoria IQVIA, que mostram que 7,3% do crescimento de 11,9% do setor nos últimos dois anos esteve relacionado a lojas novas, Novais destacou que a Pague Menos perdeu uma boa parcela da sua onda pelo fato de ter suspendido sua expansão em parte desse período.

“Mas estamos bastante otimistas com essa nova safra”, afirmou o executivo. “Mais de 90% das lojas com mais de três meses de operação já estão no break even e dando lucro operacional, mesmo sofrendo um pouco com a questão inflacionária.”

Em contrapartida, ele destacou que essa pressão da inflação já está se refletindo no custo médio de abertura das unidades. Antes, essa cifra, em média, era de R$ 1,1 milhão. E agora está na casa de R$ 1,3 milhão.

Primeiro trimestre

No primeiro trimestre de 2022, a pressão inflacionária também impactou parte dos resultados da Pague Menos. A rede reportou um lucro líquido de R$ 23,4 milhões no período, o que representou uma queda de 46,9% na comparação com o mesmo intervalo, há um ano.

A receita líquida entre janeiro e março cresceu 11,1%, para R$ 1,97 bilhão. Já o Ebitda foi de R$ 161 milhões, ligeira alta sobre os R$ 159,3 milhões contabilizados no primeiro trimestre de 2021.

As vendas digitais, por sua vez, alcançaram um crescimento de 63,1% no trimestre e chegaram a uma participação de 9% das vendas totais da rede cearense de farmácias.

Em relatório, o Credit Suisse ressaltou o resultado em linha com as expectativas e estimativas do banco. Entre outros fatores, os analistas destacaram que, apesar dos efeitos da inflação, a rede mostrou sinais de que “o ponto de inflexão para a recuperação da margem parece mais próximo”.

“Além disso, vemos muitas das iniciativas estratégicas que continuam nos trilhos”, escreveram os analistas Pedro Pinto e Victor Saragiotto, apontando frentes como a abertura de lojas, o canal digital e o avanço nas vendas ligadas a parcerias estratégicas.

Por volta de 12h15, as ações da Pague Menos estavam sendo negociadas a R$ 7,66, um recuo de 3,53%. No ano, os papéis acumulam uma desvalorização de 18,1%. A empresa está avaliada em R$ 3,3 bilhões.