Em 2019, quando fundou a Conta Zap, uma conta digital que viabiliza transações pelo WhatsApp, o empresário Roberto Marinho estava de olho no público de baixa renda. A ideia, diz ele, é que seu negócio substitua as casas lotéricas, um dos principais destinos de milhões de brasileiros das classes C, D e E que saem de casa para pagar boletos, em especial nos locais mais afastados dos grandes centros urbanos.

Com a oferta de uma conta que permite pagamentos, transferências, recarga de celular e outros serviços, a fintech já atingiu 1,2 milhão de contas ativas e tem conseguido atrair uma parte das pessoas que recorrem às lotéricas. Mas ainda faltava cativar aqueles que vão aos postos para tentar a sorte.

Agora, a Conta Zap vai começar a vender a partir de setembro, de forma digital, a Tele Sena, o título de capitalização do Grupo Silvio Santos, que ficou famoso nos anos 1990 e tem as lotéricas como um dos principais canais de venda física, ao lado das agências dos Correios.

“Este é um passo importante para sermos, realmente, uma alternativa completa às lotéricas”, diz ao NeoFeed Marinho, o CEO e fundador da Conta Zap.

Com essa parceria, a fintech espera abrir caminho para atingir uma base de 8 milhões de pessoas que um dia já compraram uma Tele Sena. Além disso, a empresa tem a expectativa de representar 15% de todas as vendas da Tele Sena ainda em 2021.

A parceria, fechada com a Liderança Capitalização, empresa do conglomerado do Rei do Baú que emite a Tele Sena, foi motivada, principalmente, pela pandemia. Com a redução do número de pessoas que circulam pelas ruas, as lotéricas viram o movimento cair.

No segundo trimestre do ano passado, que marca o início das medidas de isolamento social, o número de transações realizadas nas lotéricas recuou 42,6%, em comparação a igual período do ano anterior, para 435 milhões, sem considerar os jogos.
Com a reabertura da economia, a situação melhorou e as transações voltaram a subir nas lotéricas, fechando o segundo trimestre deste ano com 658 milhões de operações. O número, porém, ainda está 13% abaixo do que se viu no segundo trimestre de 2019.

Roberto Marinho, fundador e CEO da Conta Zap

“A Liderança Capitalização deu início a um movimento de transformação nas suas operações a partir de 2020, através de investimentos intensivos em modernização da sua plataforma tecnológica, diversificação de canais de distribuição e novos produtos”, informou a empresa, em nota enviada ao NeoFeed.

De acordo com a empresa, a “parceria com a Conta Zap complementa a estratégia da empresa para tornar-se mais digital e aumenta a capacidade de atender nossos clientes onde quer que estejam”.

A Conta Zap, vale dizer, não é um aplicativo. O usuário conversa com um robô no WhatsApp e, através de comandos e respostas automáticas, consegue realizar transações, consultar extratos e ter acesso a produtos de parceiros da fintech. Só em agosto, foram 2,5 milhões de transações.

A companhia, por exemplo, tem negociado com instituições financeiras para oferecer microcrédito aos seus clientes, em uma tentativa de cortar caminho para bancos que querem chegar às pessoas que precisam de pequenos empréstimos.

A fintech nasceu antes mesmo de o Banco Central (BC) autorizar o WhatsApp a ter o próprio serviço de pagamentos, aval que saiu no primeiro semestre deste ano. A diferença é que a mensageria do Facebook atua como uma maquininha, viabilizando transações de cartões de débito e de crédito. A Conta Zap é, por enquanto, a única instituição autorizada pelo BC a permitir operações de Pix pelo aplicativo de mensagens.

No caso da parceria com a Tele Sena, o usuário faz a aquisição pelo WhatsApp e recebe uma imagem que corresponde ao título de capitalização. O pagamento pode, inclusive, ser feito via Pix. “É melhor do que ficar na fila da lotérica, tomando sol e chuva”, afirma Marinho.

Até então, os parceiros da Conta Zap eram a Oi, com quem criou uma conta de pagamentos para quem é cliente da operadora, e o Goiás Esporte Clube, com uma conta para os torcedores do clube. Os acordos garantem à fintech uma exposição a 39 milhões de pessoas. A expectativa da empresa é chegar a 5 milhões de contas ativas até o fim do ano.

A Liderança Capitalização não revela quantas unidades da Tele Sena são vendidas por ano. O título custa R$ 12 e, a cada venda realizada pela Conta Zap, uma comissão será repassada à fintech, também não revelada. A Tele Sena tem nove campanhas por ano, com duração de seis semanas cada uma.

A Conta Zap não será a primeira fintech a vender a Tele Sena de forma digital. O PicPay, por exemplo, que recentemente acertou com o SBT para patrocinar o retorno do Show do Milhão, também disponibiliza o produto, na loja do aplicativo.

Não será, também, a primeira vez que a fintech vai disponibilizar um título de capitalização. A Conta Zap já tem o próprio produto, no valor de R$ 4,99, que rende prêmios mensais de R$ 4,9 mil. A campanha atual da Tele Sena vai distribuir R$ 5,5 milhões em prêmios.

Segundo Marinho, a Liderança Capitalização tem procurado parcerias porque “demoraria muito” se tentasse vender por um aplicativo próprio. Com isso, a empresa do Grupo Silvio Santos consegue canalizar recursos para investimentos em mídia.

“As pessoas serão impactadas por panfletagem e campanhas de TV, até com inserções na TV Globo”, disse o empreendedor. “E nós vamos poder vender o título de capitalização como Tele Sena Digital Zap”, afirmou.