A falta de sintonia entre a comunicação formal do Federal Reserve (Fed) e recorrentes declarações de dirigentes da instituição, apontando que tem mais juro pela frente até a inflação chegar à meta de 2%, deixa o mercado internacional de cabelo em pé, mas o “ruído” tem feito um bem e tanto para as bolsas americanas.

E, por tabela, para os mercados acionários mundo afora, inclusive, para a bolsa brasileira que, em agosto até o dia 17, já atraiu R$ 12,986 bilhões de investidores estrangeiros, segundo a B3. No ano, o ingresso líquido de capital externo na bolsa soma R$ 66,747 bilhões.

Nesta sexta-feira, 19 de agosto, o índice S&P 500, visto como referência do mercado americano, fechou no vermelho, em queda de 1,25% aos 4.230 pontos. O Nasdaq perdeu 2,01% e fechou aos 12.705 pontos, enquanto do Dow Jones encolheu 0,86%, para 33.706 pontos. No caso do S&P, porém, será a primeira queda semanal, após quatro de altas consecutivas.

A ruptura da sequência positiva não significa um esgotamento do rali que teve início em junho. De lá para cá, o S&P 500 valorizou quase 16%, desde a cotação mínima deste ano registrada em meados de junho.

As perdas desta sexta-feira podem ser pontuais. A imprensa internacional atribui o desempenho à realização de lucros e a um remanejamento de posições decorrente do vencimento de opções em Nova York, envolvendo cerca de US$ 2,3 trilhões.

Ainda é uma incógnita se o reposicionamento dos investidores, após o vencimento das opções, fortalecerá ainda mais os índices americanos.

Entretanto, o saldo desastroso do primeiro semestre para o mercado acionário pode ter ficado para trás e há motivo para isso. Parte relevante do aperto monetário conduzido pelo Fed já foi feito.

Em julho, o BC americano elevou sua taxa pela quarta vez no ano, para o intervalo de 2,25% a 2,50%, compondo um ajuste total de 225 pontos percentuais.

E a percepção de que a taxa está chegando ao terreno restritivo e que o Fed poderá evitar um pouso forçado da atividade em 2023 tem ajudado a bolsa que é também é um termômetro da economia real.

Resultado? O tombo de 20,6% do S&P 500 de janeiro a junho, que marcou a entrada da bolsa no “bear market”, vem sendo compensado por repetidos ganhos nas últimas semanas.

O índice Nasdaq já subiu mais de 20% em relação ao seu nível mais baixo, entrando oficialmente num mercado de touros. O S&P segue nessa direção.

O tira-teima para confirmar o vigor do mercado acionário pode ficar para a terceira semana de setembro, quando o Fed volta a discutir política monetária e poderá optar por aumentar o juro em 0,75 ou 0,50 ponto.

Mas, ainda assim, na hipótese mais conservadora, a taxa avançará a 3,25%, nível que parte do mercado considera “pit stop” do Fed para a observação de indicadores, inclusive do ritmo da desinflação.