Quanto vale a sua confiança? A sua resposta define o preço da sua mensalidade na fintech Aspiration, uma startup feita para, nas palavras de seu fundador e CEO, Andrei Cherny, "refletir o valor do seu dinheiro".

Criada em 2013, mas lançada ao público apenas em 2015, a companhia espera que seu approach sustentável, ético e tecnológico atraia uma geração de jovens decepcionados com os bancos tradicionais. "Quatro das dez marcas mais desprezadas por millennials são bancos", diz Cherny ao NeoFeed.

O empresário, que tem passagens por Harvard e se formou em direito pela Universidade de Berkeley, explica que a repulsa não tem necessariamente a ver com a falta de aplicativos, recursos digitais ou comodidade.

"O fato de os bancos cobrarem muitas taxas é uma parte do problema, mas a grande questão é a falta de confiança", afirma. E prossegue. "Apenas 8% dos americanos confiam na instituição financeira que usam". 

Cherney pondera que quer dizer que os americanos temem pelo dinheiro depositado, mas que as pessoas não confiam nos bancos como uma empresa que preza pelo seu bem-estar. "Muita gente acha que o banco não está ao seu lado e que não defendem as mesmas coisas", conta.

Por ser um desses, Cherney, que atuou como estrategista na empresa de comunicação Burson-Marsteller, resolveu aproveitar essa brecha.

A Aspiration não cobra taxa de saque em caixas eletrônicos e nem de cheque especial. Quanto à tarifa de manutenção, a empresa opera sob o lema "pague o quanto achar justo" – e o cliente pode, mesmo, optar por não pagar, se quiser. "Nossos clientes confiam nos nossos serviços e nós confiamos neles: se escolhem zerar a taxa de manutenção, então é porque nossos produtos e atendimento merecem esse valor."

O executivo diz que cerca de 90% dos 1,5 milhão de clientes estabelecem uma tarifa mínima de manutenção por conta própria, provando sua teoria. Embora não revele dados atualizados de crescimento da companhia, Cherney falou durante uma palestra, em 2017, que a base de usuários da Aspiration cresce num ritmo de 15% ao mês, enquanto a receita da companhia aumenta 20% ao mês.

Essa expansão, segundo ele, tem a ver com a transparência proposta pela empresa, que já colocou no ar peças publicitárias incentivando os americanos a retirarem seus investimentos de fundos de bancos como Wells Fargo, Bank of America e Chase, "que apoiam a indústria fóssil", e apliquem no fundo da Aspiration, que impulsiona iniciativas sustentáveis e éticas.

Esse tipo de comunicação talvez induza o público geral a olhar para a Aspiration como um novo banco, mas trata-se de uma instituição financeira que ainda depende desses outros grandes bancos que "ataca" para fazer certas operações. 

Apesar disso, o fundo da Aspiration é um sucesso entre os usuários. "Mais de 50% dos nossos clientes autorizaram um pagamento recorrente, aplicando mais e mais a cada mês", diz. Os investimentos começam em US$ 100, para democratizar o acesso a esse serviço. 

Ganhando dinheiro com a venda de seguro, com a cobrança de câmbio e com esses investimentos, a Aspiration diz que pratica o que prega também e doa 10% de sua receita à organizações e instituições beneficentes.

Para ajudar seus usuários a fazerem as mesmas "escolhas conscientes", a Aspiration oferece ainda um cartão de débito que mapeia seus hábitos de compra e oferece uma espécie de pontuação de sustentabilidade individual.

"Temos um algoritmo que analisa simultaneamente 75 mil pontos de dados, de produtos a empresas, para chegar a esse score, que flutua a cada transação", explica. Mais do que "encantar" jovens clientes dispostos a mudar o mundo – e a pagar por isso –, a Aspiration também seduziu grandes investidores.

Desde a sua fundação, a fintech acumula US$ 200 milhões em funding, vindos de celebridades como Orlando Bloom e de fundos filantrópicos, como o Omidyar Network, estabelecido pelo fundador do eBay, Pierre Omidyar. Também apostam na empresa GSV Capital, Capricorn Investment Group e Allen & Company, entre outros. 

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